Caros estudantes de LBV,
Está aberta nesta postagem a discussão, por meio de comentários, relativa à aula do dia 18/04, quinta-feira da semana que vem.
Os seguintes poemas atribuídos a Gregório de Matos serão analisados na próxima aula: "Queixa-se a Bahia por seu bastante procurador, confessando que as culpas, que lhe increpam, não são suas, mas sim dos viciosos moradores que em si alverga"; "Aos principais da Bahia chamados os caramurus"; "Ao mesmo assunto"; "A Maria dos Povos, sua futura esposa"; "Terceira vez impaciente muda o poeta o seu soneto na forma seguinte".
No caso do primeiro título, o Prof. Hélio lançou uma questão quanto a como se engancham os 10 preceitos desenvolvidos no poema (Romance) e os 10 mandamentos bíblicos, considerando-se a hipótese da função regeneradora ou curativa do texto satírico.
Outro ponto de partida é comentar o excerto abaixo de "Um nome por fazer", capítulo de A sátira e o engenho, do Prof. João A. Hansen:
"Pressupondo a concepção romântica do poético como expressão e, portanto, prescrevendo o conhecimento do vivido do Autor, o critério da "originalidade" - "autoria", "novidade estética", variantes como "plágio" - revela-se anacrônico, no caso, quando se considera o estilo, no sentido forte do termo, linguagem estereotipada de lugares-comuns retórico-poéticos anônimos e coletivizados como elementos do todo social objetivo repartidos em gêneros e subestilos. Evite-se o estereótipo: "estereotipada" significa aqui, nem mais nem menos, fortemente regrada por prescrições de produção e recepção, não o pejorativo do desgaste dos usos e redundância. Não é "inventiva" - no sentido rotineiro de "expressão esteticamente desviante" -, mas engenhosa, aguda e maravilhosa, no sentido das convenções sociais seiscentistas da discrição cortesã, do gosto vulgar, do engenho agudo e da fantasia poética. Ao poeta seiscentista nada é mais estranho que a originalidade expressiva, sendo a sua invenção antes uma arte combinatória de elementos coletivizados repostos numa forma aguda e nova que, propriamente, expressão de psicologia individual "original", representação realista-naturalista do "contexto", ruptura estética com a tradição etc. Entre tais elementos, a obscenidade está prevista num sistema de tópicas, articulando-se retórica e politicamente nos poemas segundo gêneros, temas e destinatários específicos. Categorias como "pessimismo", "ressentimento", "plágio", "imoralidade", "realismo", "oposição nativista crítica", "antropofagia", "libertinagem", "revolução", que vêm sendo aplicadas por várias críticas desde o século XIX aos poemas ditos da autoria de Gregório de Matos, podem ter algum valor metafórico de descrição de um efeito particular de sentido produzido pela recepção. Não dão conta historicamente, contudo, do seu funcionamento como prática discursiva de uma época que, desde a obra de Heinrich Wölfflin, o século XX constitui neokantianamente como "barroca": como categorias analíticas, são apropriadas antes para o desejo e o interesse do lugar institucional da apropriação que propriamente para o objeto dela. Quando, por exemplo, Sílvio Júlio acusa o "plágio" de Quevedo ou Góngora nos poemas que assume como sendo de Gregório de Matos, é o pressuposto da originalidade romântica que faz com que os tresleia. Quando a recepção concretista os relê e deles isola procedimentos técnicos, autonomizando-os apologeticamente em função de sua "poética sincrônica" ou "presente de produção", a operação se valida heuristicamente, como invenção poética. Os mesmos procedimentos, deglutidos oswaldianamente, via interpretação da Antropofagia Cultural e do Tropicalismo, que entifica Gregório de Matos como "precursor", contudo, embora possam ter algum valor de analogia na descrição do experimental da neovanguarda com a agudeza engenhosa, que aproxima e funde conceitos distantes, ou de argumentação na concorrência mercadológica da vanguarda perene contra o não menos perene stalinismo do realismo socialista, são evidentemente a-históricos, não podendo ter a mínima pretensão de interpretação histórica".
HANSEN, J. A. "Um nome por fazer". In: A sátira e o engenho. São Paulo, Campinas: Ateliê Editorial, Ed. UNICAMP, 2004, p. 32-33.
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Até mais!