sexta-feira, 12 de abril de 2013

Caros estudantes de LBV,

Está aberta nesta postagem a discussão, por meio de comentários, relativa à aula do dia 18/04, quinta-feira da semana que vem.

Os seguintes poemas atribuídos a Gregório de Matos serão analisados na próxima aula: "Queixa-se a Bahia por seu bastante procurador, confessando que as culpas, que lhe increpam, não são suas, mas sim dos viciosos moradores que em si alverga"; "Aos principais da Bahia chamados os caramurus"; "Ao mesmo assunto"; "A Maria dos Povos, sua futura esposa"; "Terceira vez impaciente muda o poeta o seu soneto na forma seguinte".

No caso do primeiro título, o Prof. Hélio lançou uma questão quanto a como se engancham os 10 preceitos desenvolvidos no poema (Romance) e os 10 mandamentos bíblicos, considerando-se a hipótese da função regeneradora ou curativa do texto satírico. 

Outro ponto de partida é comentar o excerto abaixo de "Um nome por fazer", capítulo de A sátira e o engenho, do Prof. João A. Hansen:

"Pressupondo a concepção romântica do poético como expressão e, portanto, prescrevendo o conhecimento do vivido do Autor, o critério da "originalidade" - "autoria", "novidade estética", variantes como "plágio" - revela-se anacrônico, no caso, quando se considera o estilo, no sentido forte do termo, linguagem estereotipada de lugares-comuns retórico-poéticos anônimos e coletivizados como elementos do todo social objetivo repartidos em gêneros e subestilos. Evite-se o estereótipo: "estereotipada" significa aqui, nem mais nem menos, fortemente regrada por prescrições de produção e recepção, não o pejorativo do desgaste dos usos e redundância. Não é "inventiva" - no sentido rotineiro de "expressão esteticamente desviante"  -, mas engenhosa, agudamaravilhosa, no sentido das convenções sociais seiscentistas da discrição cortesã, do gosto vulgar, do engenho agudo e da fantasia poética. Ao poeta seiscentista nada é mais estranho que a originalidade expressiva, sendo a sua invenção antes uma arte combinatória de elementos coletivizados repostos numa forma aguda e nova que, propriamente, expressão de psicologia individual "original", representação realista-naturalista do "contexto", ruptura estética com a tradição etc. Entre tais elementos, a obscenidade está prevista num sistema de tópicas, articulando-se retórica e politicamente nos poemas segundo gêneros, temas e destinatários específicos. Categorias como "pessimismo", "ressentimento", "plágio", "imoralidade", "realismo", "oposição nativista crítica", "antropofagia", "libertinagem", "revolução", que vêm sendo aplicadas por várias críticas desde o século XIX aos poemas ditos da autoria de Gregório de Matos, podem ter algum valor metafórico de descrição de um efeito particular de sentido produzido pela recepção. Não dão conta historicamente, contudo, do seu funcionamento como prática discursiva de uma época que, desde a obra de Heinrich Wölfflin, o século XX constitui neokantianamente como "barroca": como categorias analíticas, são apropriadas antes para o desejo e o interesse do lugar institucional da apropriação que propriamente para o objeto dela. Quando, por exemplo, Sílvio Júlio acusa o "plágio" de Quevedo ou Góngora nos poemas que assume como sendo de Gregório de Matos, é o pressuposto da originalidade romântica que faz com que os tresleia. Quando a recepção concretista os relê e deles isola procedimentos técnicos, autonomizando-os apologeticamente em função de sua "poética sincrônica" ou "presente de produção", a operação se valida heuristicamente, como invenção poética. Os mesmos procedimentos, deglutidos oswaldianamente, via interpretação da Antropofagia Cultural e do Tropicalismo, que entifica Gregório de Matos como "precursor", contudo, embora possam ter algum valor de analogia na descrição do experimental da neovanguarda com a agudeza engenhosa, que aproxima e funde conceitos distantes, ou de argumentação na concorrência mercadológica da vanguarda perene contra o não menos perene stalinismo do realismo socialista, são evidentemente a-históricos, não podendo ter a mínima pretensão de interpretação histórica". 
HANSEN, J. A. "Um nome por fazer". In: A sátira e o engenho. São Paulo, Campinas: Ateliê Editorial, Ed. UNICAMP, 2004, p. 32-33.

Sintam-se à vontade para comentar e expandir a discussão.

Até mais!

19 comentários:

  1. No começo do poema, antes do primeiro preceito, a moral cristã já é bem evidente: o autor fala das misturas (já vistas, em outros poemas, como ruins) e, assim, de falsos ídolos (tanto ao falar de outras religiões como ao falar de “vícios”, como dinheiro, gula, ambição e luxúria). Aparece também, ainda no campo das “falsidades”, a crítica aos cristãos novos, os judeus, que fingiriam seguir a Lei de Cristo.

    O poema descreve, em cada preceito, os descumprimentos aos 10 mandamentos divinos, praticados pelos homens. Dessa forma, a Bahia, ao mesmo tempo em que recusa sua culpa, acusa os homens, que são os males do lugar. Acredito que possamos fazer uma associação da cidade com o paraíso edênico, pois o lugar não é o problema, mas sim quem o habita.

    Se a função da sátira é curar os males, buscando restaurar uma unidade anterior, o poema parece ser um ótimo exemplo disso. A terra tem possibilidade de ser curada, basta que as sementes boas sejam plantadas e as más sejam suprimidas.

    Me parece que esse paralelo do poema com os preceitos cristão são claros. O que me deixou com um pouco de dúvida foi a questão da escravidão, principalmente na segunda estrofe do Preceito 3, que trata do “guardar os Domingos”. Não acredito que o autor tenha ideias que vão propriamente defender os escravos, mas fiquei pensando se o interesse nos “míseros escravos” é somente por conta da moral cristã. Depois, no Preceito 4, há também uma passagem que fala que os escravos não têm ensino, nem o que comer e que trabalham sempre. Esse trecho também me deixou confusa, é só a ideia religiosa por trás disso?


    Beatriz Carolina Pollo - Nº USP: 7192193

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  3. Nesse poema há a personalização da Bahia, ela que conduzirá a argumentação (1ª pessoa do singular) na tentativa de se defender das culpas que lhe encrepam, dizendo que os verdadeiros culpados são os moradores viciosos que lá vivem e não ela.
    É muito interessante que essa narração se dará numa espécie de confessionário, lembrou-me as denúncias que eram feitas na Santa Inquisição, algumas documentadas no "livro das denunciações" (comentado na sala), pois a Bahia está na posição de acusado e tentará provar que nada fez e na verdade os culpados seriam os habitantes, nas quais caracterizam como impíos, infiéis, gentios, cristão novo, entre outros.
    Para isso, fará uma alegoria entre os 10 mandamentos bíblicos com os 10 preceitos que escreve, alegando que os moradores não seguem nenhuma delas, somente finge seguir, por isso são eles as "sementes do mal".
    Gregório de Matos irá satirizar os mandamentos de Deus ao descrever os hábitos forjados por trás dos habitantes, por exemplo, no primeiro mandamento a lei de Deus diz "Não terá outros deuses além de mim", e no preceito 1 há a presença dessa idolatria feita de noite "as escondidas" e de dia se confessam, omitindo esses "detalhes".
    A sátira não tem somente a função de ridicularizar, de provocar o riso, ela vai além disso, seria uma tentativa de apontar uma "desordem" para que assim possa construir uma nova ordem, nesse caso do poema, a nova ordem seria expurgar o mal para que a terra pudesse ser restabelecida.



    Ellen Rocha NªUSP: 7110106

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  4. Na obra "Queixa-se a Bahia (...)", aparecem como problemas da Bahia a miscigenação de povos e religiões, a usura (marca judaisante?), e a inconstância religiosa de seus moradores: "Vós me ensinastes a ser/das inconstâncias arquivo,/pois nem as pedras que gero/guardam fé aos edifícios", ou ainda em "Não há mulher desprezada,/galã desfavorecido,/que deixe de ir ao quilombo/dançar o seu bocadinho. (...) E quando vão confessar-se,/encobrem aos padres isto,/porque o têm por passatempo,/por costume, ou por estilo./ Em cumprir as penitências/rebeldes são e remissos,/e muito pior se as tais/são de jejuns ou cilícios".
    Dado que o humor dessas sátiras atribuídas a Gregório de Matos é corretivo, talvez seja possível fazer uma aproximação da visão predominante na obra - que a Bahia sofre com os "maus costumes" de seus habitantes, e que é preciso corrigir esses costumes para restabelecimento de sua "saúde" moral - com o prognóstico jesuítico sobre os indígenas - os quais apareciam, aos olhos europeus, como volúveis, sem religião, e que precisavam ser instruídos no catolicismo para que abandonassem seus costumes viciosos.

    Segundo o texto "A inconstância selvagem", de Eduardo Viveiros de Castro, para que houvesse êxito na conversão, era necessário que se mudassem os "impedimentos socioculturais" indígenas: "É bem conhecida a estratégia catequética que tal imagem motivou: para converter, primeiro civilizar (...); antes que o simples pregar da boa nova, a polícia incessante da conduta civil dos índios. Reunião, fixação, sujeição, educação. Para inculcar a fé, era preciso primeiro dar ao gentio lei e rei".

    É uma atitude bastante semelhante ao do humor curativo presente nas sátiras: para correção dos maus costumes e vitória de uma "religião verdadeira e profunda", é necessário, antes, enrijecer a moral dos habitantes da Bahia, afastando seus vícios e policiando seu comportamento - funções cumpridas através do humor e de seu impacto psicológico (?) e social nos desviantes dessa moral cristã.

    Camila Girotto - 6478821

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  5. Poema "Queixa-se a Bahia por seu bastante procurador, confessando que as culpas, que lhe increpam, não são suas, mas sim dos viciosos moradores que em si alverga" atribuído a Gregório de Matos.

    Neste poema a Bahia confessa seus pecados e também os pecados que patrocina em sua terra. Esta confissão pretende que ao revelar os pecados possa expurga-los e restaurar o mau funcionamento da sociedade, isto fica explícito nos últimos versos em que diz que quer que todos vão direitinhos para o céu. Característica dos poemas satíricos, “ferir para curar”. Ao expor a ferida esta pode ser sanada. Assim ele vai descrever como os preceitos, os 10 mandamentos bíblicos, são desrespeitados por estes povos que habitam a Bahia e reincidirá na ideia do poema anterior, À cidade da Bahia, de que grande parcela de culpa desta desordem está na mistura dos gentios que nela habitam.

    Preceito 1: Amarás a Deus sobre todas as coisas, está quebrado pelos cultos em terreiros;
    preceito 2: Não tomar Seu santo nome em vão, aparece o hábito do gentio de jurar em falso;
    preceito 3: Guardar os domingos e festas, revela o hábito do gentio de ir à missa para conversar, e não com o intuito de reservar este tempo a adorar a Deus, mas para se exibir no caso das mulheres, e para negociar no caso dos homens;
    preceito 4: Honrar pai e mãe, acusa aos pais de educarem seus filhos de forma imprudente, resultando na desonra;
    preceito 5: Não matar, neste afirma que não matam com armas, mas com palavras ao falar em mexericos de todos, sem perdoar a ninguém.
    preceito 6: Não pecar contra a castidade, revela a prostituição das mulheres que são abandonadas por seus maridos bêbados, perdendo-se em pecados conjuntivos.
    preceito 7: Não furtar, aponta para o fato de que desembarcam em suas terras sem nada e prontamente enriquecem. Como o fazem? Roubando.
    preceito 8: Não levantar falso testemunho, “a mentira esta na terra, a verdade vai fugindo”, não abrem a boca sem mentir.
    preceito 9: Não desejar a mulher do próximo, maridos tem teto de vidro, pois tem as esposas cobiçadas e cobiçam as alheias, esta neles o controle e cura deste pecado.
    preceito 10: Não cobiçar as coisas alheias, expressa o desejo de que todos se contentem com o que tem.

    Cecilia Uhart - 2568178

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  6. É possível interpretar-se o poema (romance) de diversas formas, eu optei pela ironia do poeta a começar pelo narrador que alterna-se entre o Procurador e a própria Bahia, como se alguém nomeado por um Império distante e sem qualquer interesse maior em desenvolver a região, pudesse levantar um dedo acusador sobre uma população inteiramente à mercê dos seus colonizadores cujo interesse exclusivo naquele Brasil, como nos mostra Caio Prado Jr. (Formação do Brasil contemporâneo), "era o fornecimento de açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde ouro e diamantes; depois, algodão, e em seguida café, para o comércio europeu. Nada mais que isso".

    A ironia continua no próprio entrelaçamento dos dez mandamentos cristãos, um conjunto de regras que deveria se constituir numa espécie de exemplo a ser seguido no dia a dia dos habitantes da Bahia, uma região cristã por definição mas que, segundo seu Procurador, eram, todos eles sem exceção, sistematicamente violados pela maioria de seus habitantes.

    A ironia final fica por conta da própria Igreja Católica, na figura da Santa Inquisição - que periodicamente visitava a Bahia em busca de caça e punição aos não cristãos - que antes de tentar punir os não alinhados à sua fé deveria certificar-se de que os Dez Mandamentos, sua base de sustentação, estivesse sendo respeitada pelos seus próprios "praticantes".

    Bento Bravo - 6830417 (turma da manhã)

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  7. No excerto de Hansen, uma das questões levantadas é a forma como o plágio aparece nas obras e em distintas épocas. A questão do "plágio" é muito discutível, já que há que se levar em conta o fato de que naquela época fazer arte era aprimorar o que existia na antiguidade clássica, entretanto o artista devia apropriar-se de ideias já existentes, de grandes pensadores/artistas, e melhorá-la. Dessa forma, quando observamos a obra de Gregório de Matos, em especial o poema "Queixa-se a Bahia por seu bastante procurador, confessando que as culpas, que lhe increpam, não são suas, mas sim dos viciosos moradores que em si alverga", podemos notar semelhança com a forma como foram organizados os 10 mandamentos da bíblia. O Autor discorre sobre diversos pecados, mas se aprofunda na descrição, ademais fazer uma critica direta a certos integrantes da igreja, indistintamente padres de fieis.
    Outro ponto interessante é o fato de Silvio Júlio acusar Gongora e Quevedo de plágio. Como já mencionado anteriormente, era hábito tomar aquilo que já existia para criar algo melhorado, prática que Gregório aderiu, portanto, também se pode chamar de anacronismo a opinião de Silvio.

    Isabela Dantas Norberto nº USP: 6831871

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  8. Partindo da visão que Hansen propõe para interpretar a produção atribuída a Gregório de Matos, e considerando-o como um estilo, algumas observações podem ser realizadas, sobretudo no que diz respeito a uma ponte com o mundo clássico, de onde se originaram as preceptivas da época. Primeiramente, a visão que descende da interpretação romântica de autoria, citada pelo autor, foi também, durante muito tempo, aplicada nos autores da antiguidade clássica: Catulo, Propércio ou Safo, por exemplo, tiveram interpretações que buscaram indicações da vida real dos poetas em suas obras, ou mesmo uma representação de um estado de espírito em sua lírica e elegia. Cairíamos num reducionismo, porém, se entendermos a poesia do século XVII como uma eterna repetição do mesmo: a engenhosidade que Hansen aponta em seu texto, o valor da invenção (a inuentio, “encontro”, dentro do repertório pessoal) reside em partir das ferramentas convencionais para criar algo “novo” e de destaque. Este é o pensamento da arte poética horaciana, é dada liberdade ao poeta de criar, desde que fiel à tradição. Não por acaso, a visão de “autoria”, na época de Gregório de Matos, herdeira das preceptivas clássicas, aproxima-se mais do significado do termo original em latim: auctor, “aumentador” de uma tradição, do que de um “inovador”.
    Além do estilo Gregório de Matos, Hansen aponta, em seu livro, um termo ainda mais próximo da visão clássica: a persona satírica. “persona”, em latim, designa os personagens do teatro. Assim, quando lemos a sátira do poeta em questão, é ainda mais claro que se trata de um estilo, de um indivíduo (ou vários) que põe uma máscara conforme o gênero (vale lembrar que todo o teatro greco-romano se servia desse recurso) e se adequa a uma convenção retórico-poética. Dessa maneira, atribuir características como “contestador” ao poeta é incorrer num anacronismo, uma vez que sua obra era, justamente, uma grande adequação a tais preceitos, onde mesmo a escatologia e o baixo calão, possuem um lugar previsto. O autor lembra que é possível depreender uma figura satírica que emerge da leitura dos poemas, mas não interpretar isto como um reflexo de vida de um determinado sujeito empírico. Neste sentido, a visão proposta em A sátira e o engenho, se aproxima da concepção de ethos proposta por Aristóteles na Retórica: ele se constrói no discurso e não envolve aspectos externos.

    Marcello Peres Zanfra - 7192112

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  9. Sobre o excerto de Hansen

    Devemos compreender e analisar a obra dentro do contexto em que ela foi concebida, não baseando-se em contemplar nossos próprios desejos. Gregório de Matos foi o que poderia ser, considerando sua origem social abastada e uma educação europeia em uma terra escravocrata e altamente religiosa. Torna-se incorreto aplicar a ele a aura de “contestador”, utilizando-se de nossa visão atual do termo, como aquele que subverte o status quo, considerando que o autor se utiliza de estruturas e ideologias correntes pra se expressar. Ao mesmo tempo, se Gregório não alcançou nossas expectativas de “contestação”, isso não significa falta de visionarismo ou conformismo por parte do autor, e sim, que não existia um conceito sócio-político-cultural para que essa ponte pudesse ser traçada. Talvez a necessidade que se sente em colocá-lo nesse “hall da ousadia” seja para contrapor o sentimento de inércia e impotência dos brasileiros ante à colonização e escravização, já utilizando-se do imaginário trazido pelo modernismo. Idealizar Gregório como um homem a frente de seu tempo funciona como inserir um Oswald em um período que o povo local não tinha voz. Essa expectativa que não pode ser preenchida eclipsa os reais feitos do autor, que enquanto colaborador do imaginário coletivo da época, usou seus recursos retóricos para apontar de forma satírica as inconsistências da sociedade da época.

    Karla Dia Lopes
    6829162

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  10. Na introdução de seu texto “O sequestro do barroco (....)”, Haroldo de Campos, questionando uma inexistência física e um silêncio cultural, impostos ao poeta Gregório de Matos e sua obra, cita Oswald de Andrade (“A Sátira na Literatura Brasileira”, 1945): “Gregório de Mattos foi sem dúvida uma das maiores figuras de nossa literatura. Técnica, riqueza verbal, imaginação e independência, curiosidade e força em todos os gêneros, eis o que marca a sua obra e indica desde então os rumos da literatura nacional.” (grifo meu)
    Posteriormente, ao fazer uma pesquisa sobre o período de formação da música popular brasileira, apontado por alguns historiadores como sendo de 1770 a 1928, e sobre o contexto político, social e musical de sua gênese, chamou-me a atenção a afirmação de José Murilo de Carvalho ( “Os bestializados”, Companhia das Letras:1987, p.159) ao falar sobre a sociedade carioca do início do sec. XX: “Por mais iluminista que fosse, e o Estado português não o era muito, precisou desenvolver formas de convivência , ao mesmo tempo que as irmandades constituíam também espaços de contato entre burocracia e povo e entre os vários setores da população. Nessas condições as normas legais e as hierarquias sociais iam aos poucos se desmoralizando, constituindo-se um mundo alternativo de relacionamento e valores. (...) Mesmo que a autoridade o desejasse, seria impossível a aplicação estrita da lei. Daí que da parte do próprio poder e de seus representantes desenvolveram-se táticas de convivência com a desordem, ou com uma ordem distinta da prevista. A lei era então desmoralizada de todos os lados, em todos os domínios. Esta duplicidade de mundos, mais aguda no Rio, talvez tenha contribuído para a mentalidade de irreverência, de deboche, de malícia. De tribofe.”
    E ainda, pensando na prosa crítica e mordaz de Machado de Assis, na alegria carnavalesca, caricatural e satírica do nosso teatro de revista ou, mesmo, na criatividade irreverente de Oswald de Andrade, poderíamos pensar numa influência real da literatura de Gregório de Matos sobre a cultura brasileira que o sucedeu e mesmo sobre o que chamamos de brasilidade?
    Marcia Christina Leal Rigonatto
    Nusp 1407429

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  11. João Paulo Baio. N.USP. 6530131

    ''Um nome por fazer'' do , Capitulo do texto de A satira e o engenho de do Prof. João A. Hansen: Aborda os poemas satiricos de Gregorio de Matos, tratados retoricas da epoca e documentos historicos, com as relações de pecados e heresias ao santo oficio e as atas da camara de Salvador. Nesse texto dá para observar que o algo principal é a critica, e por outro lado, podemos notar que metafora do corpo está bastante presente no texto. O objetivo do texto, no meu ponto de vista é explicitar um Dianostico para preservar uma doença que precisa ser sanado. o Gregorio de Matos, pensa na restauração e funcionamento de estado, e estava localizando um problema que deve ser resolvido no estado.

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  12. O poema expõe o "queixume" da Bahia (a cidade)que se sente difamada por conta de pessoas pouco virtuosas que vivem em suas terras. Ela é acusada por "murmuradores nocivos" e toma sobre si as culpas e delitos para se confessar, e o faz publicamente. A confissão é um dos sete sacramentos, enquadrado entre os sacramentos de cura. De modo que confessar-se é expor-se à purgação e à cura pelo perdão que regenera. A confissão da Bahia segue um modelo possível de contar os pecados, que é partir dos dez mandamentos. Assim, coloca-se ordem para contar os pecados, evitando o esquecimento de algum, que poderia também ser considerado pecado! De alguma maneira, a Bahia expõe os vícios que vê em todos os aspectos de cada um dos mandamentos, expondo os vícios comuns, sociais, com vistas a corrigir e purgar a sociedade. E, de certa forma mudem seu agir do mal para o bem e "pelas [boas] obras que fizerem possam ir para o Céu direitinhos". É quase que evidente a ironia de Gregório no final, mostrando que bastaria seguir uns meros preceitos morais e obedecê-los infantilmente para serem consideradas "direitinhas" e a Bahia uma cidade virtuosa e não difamada. Ainda assim, é também evidente que ele se utiliza do decálogo para expor problemas sociais candentes da cidade da Bahia.

    Rodrigo Marcondes Martins Moraes - 7195540 - manhã I turma

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  16. No poema satírico "Queixa-se a Bahia por seu bastante procurador, confessando que as culpas, que lhe increpam, não são suas, mas sim dos viciosos moradores que em si alverga”, Gregório de Matos lança uma crítica contundente às vicissitudes do caráter humano da sociedade da Bahia, para tanto desenvolve ao longo do poema dez preceitos relacionados aos dez mandamentos da Igreja Católica. O poeta faz isto evidenciando em cada Preceito uma transgressão dos preceitos religiosos.
    No Preceito 1, o poeta denuncia as pessoas que participavam de “costumes afro-baianos”, ou seja visitavam terreiros, e gastavam dinheiro com os “mestres dos cachimbos”, mas quando iam a Igreja encobriam este hábito. Está ação está relacionada ao mandamento “Não terás outros deuses além de mim.” No Preceito 2, o poeta descreve aqueles que usam o nome de Deus ao jurar dizer a verdade, mas que o poeta ressalta, “suponho que juram falso”. O que nos remete ao mandamento: “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão”. No preceito 3, o poeta fala sobre “guardar os dias santos”, que se refere ao mandamento “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar”, pois as pessoas só iam a igreja por outros tipos de interesse, por exemplo, falar da vida dos outros ou “cair em erros indignos”. No Preceito 4, o autor evidencia o fato dos filhos, mal esperarem os pais morrerem para se apossarem dos bens que lhe competem, o que evidencia uma falta de respeito e desonra pelos os pais, fruto de uma de uma criação falida, ou seja, faz referência ao mandamento “honrar pai e mãe”. No Preceito 5, o autor fala sobre matar, mas não através do uso de armas, mas de “golpes de enredos e mexericos”, que ferem tanto quanto um tiro letal, pois a pessoa que é cruelmente apontada pelas “más línguas” perde aos poucos a sua dignidade. No Preceito 6, o autor fala do adultério, ou seja as mulheres que se entregam a outros homens por ter seus maridos ocupados em bebedeiras e outras ações, refere-se ao mandamento: “Não adulterarás”. No Preceito 7, o autor fala do roubo, mas no sentido da corrupção dos poderosos, da desonestidade assimilada a vida pública da época, ou seja relacionado ao mandamento: “Não roubarás” .No preceito 8, o autor fala sobre atribuição de culpa a quem não merece, contrariando o mandamento: “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo”. No Preceito 9, o autor relaciona ao mandamento da “Não cobiçarás a mulher do teu próximo” . No preceito 10, o autor finaliza o poema dizendo que todos não hajam da maneira com que ele descreveu as ações da sociedade da Bahia, porque só assim serão perdoados, seus pecados serão expurgados e assim “vão para o céu direitinho”. Neste preceito a autor faz referência ao mandamento “ Não cobiçar as coisas alheias”, que fica evidente no trecho “ e se contentem com a sorte que têm e estão possuído”, ou seja, a cobiça geraria comportamentos desvirtuosos nas pessoas, tais como roubar, matar, mentir,entre outros.

    Michelly Vital N. USP: 6518130

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    1. Considerando a questão levantada por Hansen, é importante ressaltar o anacronismo indevido ao se usar critérios como originalidade e autoria ao analisar a produção seiscentista, uma vez que a noção de autor está intimamente ligada com um momento posterior da história em que surge a noção do indivíduo, quando a expressão individual e original é incentivada. Contudo, como aponta Hansen, no contexto de Gregório de Matos, originalidade seria sinônimo de ruptura da tradição, da “arte combinatória de elementos coletivizados”, o que foge ao objetivo da prática discursiva da época.
      Para estender mais esse debate, gostaria de recomendar a leitura de uma conferência de 1969 de M. Focault, “O que é um autor?”. A partir dela podemos entender um ciclo: na poesia seiscentista a noção de autoria e originalidade era irrelevante, a partir do século XIX ela passa a ser fundamental, mas na escrita contemporânea já se dá novamente um apagamento do autor. A crítica hoje visa analisar a obra por si mesma, sua estrutura intrínseca, e a noção de autoria e propriedade intelectual novamente se obscurecem.
      Outro ponto acentuado da produção literária de Gregório de Matos são os contrastes de ideias, que hoje nos parecem paradoxos – sátira, obscenidade, ganância e brutalidade perante as classes servis se misturam à pesada religiosidade, moralidade. Apontamento importante que descobri a esse respeito é o apontado por A. Bosi (História Concisa da Literatura) de que a ambiguidade da produção de Gregório de Matos nada mais é do que reflexo da ambiguidade da vida moral que baseava a educação ibérico-jesuítica, a qual, se debatia com os mesmos contrastes apontados na poesia de Gregório.
      Fabiana Ferraz - 6834342

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