Está aberta nova postagem para discussão referente às aulas da próxima semana (25/04 e 26/04).
Nesta postagem, o ponto de partida são os seguintes poemas atribuídos a Gregório de Matos:
- "Aos principais da Bahia chamados os caramurus";
- "Ao mesmo assunto";- "Aos principais da Bahia chamados os caramurus";
- "A Maria dos Povos, sua futura esposa";
- "Terceira vez impaciente muda o poeta o seu soneto na forma seguinte".
Também são bem-vindos comentários sobre os poemas abaixo, dois atribuídos a Gôngora e um a Sor Juana Inês de la Cruz:
Ilustre y hermosísima María,
mientras se dejan ver a cualquier hora
en tus mejillas la rosada aurora,
Febo en tus ojos, y en tu frente el dia,
y mientras con gentil descortesía
mueve el viento la hebra voladora
que la Arabia en sus venas atesora
y el rico Tajo en sus arenas cría (...)
["Ilustre e hermosísima María", de Luís de Gôngora (1561-1627), apud GOMES, João Carlos Teixeira. Petrópolis: Vozes, 1985, p. 62].
[...] goza cuello, cabelo, lábio y frente,
antes que lo que fué en tu edad dorada
oro, lírio, clavel, cristal luciente,
no solo en plata o viola troncada
se vuelva, mas tú y ello juntamente
en tierra, en humo, en polvo, en sombra, en nada.
["Mientras por competir con tu cabelo", de Luís de Gôngora; apud GOMES, João Carlos Teixeira. Petrópolis: Vozes, 1985, p. 62]
Este que ves, egaño colorido,
Que del arte el arte ostentando los primores,
Con falsos silogismos de colores
Es cauteloso engaño del sentido;
Con falsos silogismos de colores
Es cauteloso engaño del sentido;
excusar de los años los horrores,
y venciendo del tiempo los rigores,
triunfar de la vejez y del olvido,
es un vano artificio del cuidado,
es una flor al viento delicada,
es un resguardo inútil para el hado:
es una necia diligencia errada,
es un afán caduco y, bien mirado,
es cadáver, es polvo, es sombra, es nada.
[Juana Inês de la Cruz (1648-1695), "Procura desmentir los elogios que a un retrato de la Poetisa inscribió la verdade, que llama pásion"]
Sintam-se à vontade para contribuir comentando a leitura dos poemas. É possível analisar pelo menos um dos poemas acima. Comentários sobre mais de um dos poemas também são bem-vindos. Assim, é possível, igualmente, estabelecer relações entre dois ou mais dos poemas citados.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirO poema entendido em seu geral, exalta e aconselha acerca da juventude e da beleza utilizando muitas imagens e símbolos que auxiliam na compreensão da vida baseada no tempo e na beleza que se vai com ele.
ResponderExcluirO poeta dirige-se à Maria dos Povos, sua esposa, que está em sua juventude (versos 2 e 3), lhe elogia a beleza. Adônis, referência de beleza na mitologia é citado.
As palavras de Gregório de Matos são doces até este momento (verso 8), a partir daí, imprime um valor de consequência ao tempo. A flor bela, e jovem não escapa da pisada do tempo, da marca eterna que lhe deixa. A última estrofe lamenta a passagem do tempo e a vida juvenil onde tanto se descobre da vida, restando apenas na velhice a morte, a poeira e o fim de tudo.
O conflito espiritual fica claro no poema, o corpo padece, e com ele o espírito esvai junto. Aproveitar o momento de glória é a chave da vida que é tão passageira. Gregório explicita um paradoxo, uma vida em dois atos; o belo e o velho; a juventude gloriosa e a velhice pisada, esquecida.
O homem barroco, confuso em suas fundamentações ora espiritual, ora material se depara com o reconhecimento de uma fragilidade humana mesclando todos os elementos da dúvida barroca. De que adianta um espírito jovem, cheio de alegrias e bens conquistados, se o corpo morre e se despede da vida sem nada?
Alanna Contador - 7192280
Levando em consideração os poemas “A Maria dos Povos, sua futura esposa”, “Terceira vez impaciente muda o poeta o seu soneto na forma seguinte”, de Gregório de Mattos e “Illustre e hermosíssima Maria”, de Gôngora, notamos claramente uma aproximação de Maria à figura carnal da mulher. Em relação aos dois primeiros poemas supracitados, esta aproximação acontece nas duas primeiras estrofes, quando o autor ressalta sua beleza física (p. ex., versos 3 e 4); no terceiro poema acontece esta mesma relação, aqui na primeira estrofe.
ResponderExcluirO segundo poema sugerido para leitura, "Mientras por competir con tu cabelo", de Gôngora, está diretamente ligado à quarta estrofe dos dois primeiros poemas supracitados. Nos três casos, os autores “aconselham” o aproveitamento da juventude, uma vez que o tempo agirá, sem dúvida, sobre o corpo da jovem.
Por fim, o poema "Procura desmentir los elogios que a un retrato de la Poetisa inscribió la verdade, que llama pásion", de Inês de la Cruz, pode ser relacionado com os últimos tercetos dos poemas de Gregório. Ali, os efeitos do tempo, que começava a ser anunciado nos primeiros tercetos de Mattos, é trazido à tona com suas consequências, a “conversão” da juventude em “terra, cinza, pó, sombra, em nada”, ou seja, a inevitabilidade da velhice e da morte, que também se fazem presentes no segundo poema sugerido de Gôngora.
Amanda Mattioli (n USP 6464937)
Ao compararmos o poema “A Maria dos Povos, sua futura esposa” de Gregório de Matos e os poemas de Gôngora, percebe-se claramente a correspondência entre as obras. O texto de Gregório de Matos aparenta, nos primeiros versos, ser idêntico ao “Ilustre y hermosísima Maria” e os últimos igual aos tercetos do poema “Mientras por competir con tu cabello.”. A partir disso podemos refletir a respeito da polêmica do plágio na obra de Gregório de Matos.
ResponderExcluirLevando em consideração o contexto da produção dessa poesia do século XVII, percebemos também a recorrência da utilização de trechos de poemas de outros artistas a fim de construir o texto a partir da intertextualidade. O verso “es cadáver, es polvo, es sombra, es nada”, do poema de Gôngora, por exemplo, fora utilizado por diversos autores. Ao atentarmos, ao poema de Juana Inês de la Cruz percebemos que a influência de Gôngora não está presente somente na obra de Gregório de Matos. O último verso “es cadáver, es polvo, es sombra, es nada” do poema de Juana é quase idêntico ao último verso do poema de Gôngora “es cadáver, es polvo, es sombra, es nada.”. Da mesma maneira, o último verso do poema de Gregório (em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.), se assemelha a esses versos, o que nos leva a questionar o que seria plágio na literatura da época e a pensar nessa literatura dentro de valores muito distintos do que temos nas manifestações literárias mais recentes.
Gregório de Matos mais uma vez utiliza esse mecanismo de intertextualidade em seu poema “Terceira vez impaciente muda o poeta o seu sorriso na forma seguinte”. Nele, Gregório de Matos utiliza-se de sua própria obra a fim de construir um novo poema que é bem similar ao primeiro, porém com versos diferentes (com exceção do primeiro “Discreta, e formosíssima Maria”), distanciando-se um pouco mais das formas utilizadas pelo autor espanhol. Desse modo, percebemos, novamente, que Gregório de Matos procura construir seu poema a partir de outro.
O ponto de partida para essa questão do plágio seria o problema da autoria que envolve os textos de Gregório de Matos, uma vez que não se tem certeza de que os poemas seriam atribuídos ou escritos por ele. Não podemos deixar também de pensar em plágio e autoria como conceitos que se interlaçam. Dessa forma, até que ponto podemos falar em plágio e em cópia, uma vez que essas noções estão diretamente ligadas à noção de autor? O conceito de autoria e de plágio se modificou ao longo do tempo e, portanto devemos refletir: o que é plágio e o que é criação intertextual no contexto da época?
CAMILLA MARIA GONÇALVES GOUVEIA - 7192300
Ao meu ver, é possível separar em dois blocos os sonetos atribuídos à Gregório de Matos indicados: um, constituído por “Aos principais da Bahia chamados os caramurus” e “Ao mesmo assunto”; e outro, por “A Maria dos Povos, sua futura esposa” e “Terceira vez impaciente muda o poeta o seu soneto na forma seguinte”, que, claramente, se associam aos outros textos sugeridos. Este comentário se dedica ao segundo bloco. “A Maria dos Povos, sua futura esposa”, como nota do próprio poema afirma, é tradução, quase direta, dos dois poemas de Gôngora, mantendo não só muitas das palavras utilizadas por este autor, como, ainda, boa parte da estrutura e sintaxe. É interessante notar o último verso deste soneto, praticamente tradução literal do último verso de "Mientras por competir con tu cabelo", e de conteúdo muito próximo ao do também último verso do poema de Juana Inês de la Cruz. O segundo soneto atribuído à Gregório deste bloco parece uma “releitura” do primeiro, uma vez que trata do mesmo tema e traz boa parte do conteúdo original, no entanto, recorrendo a palavras e estruturas diversas dos textos de Gôngora. Sabendo que o conceito de releitura, sendo recente, não é ideal para explicar tal relação, fica interessante pensar em como tal abordagem e a problemática da autoria eram consideradas pela época, em destaque a questão da apropriação, pela tradução, do trabalho de outros poetas – os leitores da época eram capazes de distinguir essas influências/modelos? Ou esse tipo de questionamento não se encaixa no período estudado? Não fazendo, a originalidade, como é hoje pensada, parte do universo do período, e podendo-se pensar no trabalho atribuído a Gregório de Matos como, talvez, fruto de uma produção coletiva, parece ser possível ler os poemas sugeridos como escritas diversas de um mesmo poema, frutos de re-elaborações – variações sobre um mesmo tema. É possível fazer tal afirmação?
ResponderExcluirMariana B. Ferreira - 7191786
Em "Aos principais da Bahia chamados os caramurus" o poeta Gregório de Mattos parece ter como alvo a administração da cidade. Mais uma vez, ao expor contrastes nítidos, o poeta parece querer criticar os luso-brasileiros que, já mestiços com sangue indígena, querem reproduzir por aqui o mesmo tipo de dominação que seus antepassados exerciam em Portugal. Esse fidalgo - que ocupa altos cargos na administração da cidade e quer se passar por europeu no Brasil - possui, na verdade, “sangue de tatu”, seu idioma é “torpe”, “cobepá”, come "muqueca", "pititinga", "caruru" e não passa da mistura de um "Marau" (branco) com "Aricobé" (indígena). Ele é o fruto do contato estabelecido com aquilo considerado desprezível pelo colonizador: a mistura do sangue europeu, nobre, com o indígena, considerado inferior e, portanto, alguém que não é digno de assumir o poder. Ao mesmo tempo, o Cobepá pode ser ouvido nas ruas que cercam a cidade e seria uma prova de que a colonização não teria sido total, pois ainda há traços das culturas indígenas nesse solo, onde querem empregar uma hierarquia portuguesa. O conflito é claro. Se, por um lado, o uso de palavras do Cobepá valoriza a presença do índio, ao mesmo tempo, desmascara, evidencia o comportamento europeu que o fidalgo mestiço parece querer reproduzir por aqui. A figura do caramuru (o mestiço) é contraditória e que acaba provocando repulsa no poeta.
ResponderExcluirDaniela Corrêa de Sequeira - No USP 2351868 (1o horário)
O poema “Terceira vez impaciente muda o poeta o seu soneto na forma seguinte” aborda claramente a temática feminina, da mulher como figura carnal, o que se comprova através da exaltação de sua beleza física (descrição de suas características jovens e belas presente nos versos 1, 3, 4, 7 e 8). Maria é descrita como discreta, formosa, e são ressaltadas características de sua aparência exterior, como cabelo, boca e face. Após o elogio à beleza, o eu lírico passa a tratar sobre o tema da efemeridade. Fala sobre a brevidade da juventude, que passa rapidamente e por isso deve ser aproveitada antes que se vá, pois o tempo tudo consome e tudo leva consigo, conduzindo inevitavelmente à morte. Todo o poema é marcado por essa ideia da efemeridade da vida. O eu lírico fala da ação do tempo sobre a aparência da mulher e sobre o efeito que essa ação terá na idade madura, resultando na perda da beleza, que é passageira. Esta passagem de tempo da juventude (bela) para a velhice e posteriormente a morte (sepultura) marca a transitoriedade da vida e é mostrada como implacável no poema, algo a que não se pode escapar. Nesse sentido, o soneto põe em questão um conflito (dualismo, característica Barroca marcante) entre mocidade e idade madura, colocando cada dia como um avanço em direção a um desfecho fatal e inevitável (“é cada dia ocaso da beldade”, último verso).
ResponderExcluirCamille Fernandes Arnaud Sampaio
Nº USP 7194514
O poema "Ao mesmo assunto" parece tratar sobre a mestiçagem dos luso-brasileiros com o sangue indígena, ironizando o personagem satirizado. Ao longo do poema vemos uma comparação entre o desejo do personagem de ser nobre e a realidade de que, ao ser mestiço, perde-se a nobreza.
ResponderExcluirNa segunda estrofe do poema, podemos identificar essa vontade de pertencer a certa nobreza de brasão por um vínculo insignificante de parentesco: " Tenha embora um avô nascido lá, Cá tem três pela costa do Cairu". Na terceira estrofe, ao introduzir o tema da antropofagia indígena, o poeta rebaixa a figura do fidalgo mestiço ao demostrar que seus antepassados exerciam tal prática - abordada com certa repugnância pelo poeta. Além disso, essa prática seria herdada através do sangue, cuja herança estaria em morder, ou seja, em falar mal e em atacar mordazmente aqueles que provêm de outra nação.
Este fidalgo que quer se portar como europeu no Brasil e exercer certa dominação não passa por reproduzir aquilo que lhe foi herdado pelos seus antepassados indígenas. Desta forma, o poeta desvaloriza a figura desta "nobreza" que constituía uma parte da sociedade baiana daquele século.
Débora Barbosa Roncon
Nº USP 7195154
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCulturalmente no século XVII, não havia a visão de originalidade e autoria da literatura, conforme nosso molde atual, desta forma, tratava-se de temas comuns e reutilizava-se escritos produzidos anteriormente, valendo-se para tanto das "possibilidades" literárias da época. Sendo assim, podemos compreender a coincidência entre os poemas de Gôngora, Juana de la Cruz e de Gregório de Matos.
ResponderExcluirOs temas comuns eram utilizados conforme o contexto que pretendia cada autor. Nos poemas dos autores citados acima, percebemos tópicas como: “tempus fugit”; engano; decadência.
Podemos notar o tema do engano nos seguintes poemas atribuídos a Gregório de matos: “Aos principais da Bahia chamados os caramurus”; “Ao mesmo assunto”, que indicariam como forma de engano os habitantes mestiços da Bahia que ganhavam títulos de nobreza não pela origem e sim por outros meios, ou seja, um engano de linhagem, fingiam ser aquilo que não eram, assim podemos perceber a crítica do poeta a mestiçagem no Brasil, considerando-a um dos motivos para a decadência social.
A tópica “tempus fugit” está também sendo relacionada à decadência, pois nos poemas “A Maria dos Povos, sua futura esposa” e “Terceira vez impaciente muda o poeta o seu soneto na forma seguinte”, a ação do tempo é que levaria gradativamente a decadência.
O tema da decadência da cidade da Bahia, recorrente na obra atribuída a Gregório de Matos, faz com que haja um deslocamento da interpretação dos poemas dele para este ponto de vista, uma vez que, a cidade da Bahia que anteriormente teria tido seu auge, sofreria a ação destrutiva do tempo, sendo desvelados seus enganos, ou seja, seus problemas, através dos poemas do autor.
Jéssica Caroline G. dos Santos
Nº USP 7194111
O tema da mistura de raças – já discutido em aula – permeia o poema Aos Principais da Bahia chamados os caramurus a referencia de um lado ao Caramuru – Diogo Alvares Correa – um branco e de outro lado a referencia ao indígena, principalmente no campo da expressão através da recorrência dos termos tupi: Paí, Cobepá, Aricobé, etc.
ResponderExcluirA origem indígena não é superada pela mistura com branco, pois permanece a língua (Cobepá) a origem (Aricobé) e a tradição (Cobé). Na sátira, essa origem indígena é tratada disforicamente, porque o sendo “gentios” não podem arrogar para si a condição de branco. E a ironia dos versos iniciais formulado como um questionamento revela a condenação do poeta em relação ao Paiaía prezado de ser Caramuru. E ao falar dessa mistura remete à própria origem da Bahia.
Essa mistura funciona na sátira, conforme visto em Hansen (A Sátira e o Engenho: Gregório de Matos e a Bahia do século XVII. Ateliê Editora; Editora da Unicamp, Campinas, 2004, pp. 398 – 403.), como uma fusão de características raciais e religiosas que opõe “gentios” e “hereges” aos católicos, em favor dos segundos. Nesse soneto, no entanto, o branco está aproximado do gentio, portanto, um herege, um espertalhão no sentido negativo do termo, porque dormiu com a índia.
O último terceto fecha o soneto nos termos desenvolvidos que formam a idéia de nação a língua, o povo e o chefe indígena e branco.
Vladimir dos Santos Stein
Nº USP 1911280
O que me interessou foi o soneto decassílabo “aos principais da Bahia chamados os caramurus”. É clara a temática social estabelecida por Gregório ao se referir àqueles cujo parentesco é indígena (ou miscigenados, como pude entender).
ResponderExcluirPorém, tive certa dificuldade, a princípio, de compreender qual era a posição do poeta sobre esses homens quando inseridos no meio social. Por fim, devido a quantidade de expressões indígenas utilizadas, e a um certo tom de deboche que eu notei (sem saber se certo ou errado), acredito que possa ser uma crítica à esses homens, como se eles não fossem dignos de ocupar espaço entre os demais (brancos), ou talvez apenas demosntrando a insatisfação do eu lírico diante da situação descrita.
Luiz Fernando Pierotti
Manhã - 6835829
A Maria dos Povos, sua futura esposa
ResponderExcluirHá vários sonetos atribuídos a Gregório de Matos dedicados ao amor, às mulheres que teria amado: Ângela, Catarina, Custódia, Floralva e outras. Este comentado aqui é dedicado à Maria dos Povos, sua futura esposa, provavelmente esposa do sujeito lírico.
O soneto é a forma lírica da poesia do período quinhentista adotada por poetas de várias línguas, tendo ultrapassado os tempos.
A Maria dos Povos, sua futura esposa trata de um tema presente em vários sonetos do período: a ação do tempo sobre a beleza e a juventude da amada. Este tema também está presente em Camões e em Shakespeare. Deste último, um exemplo é o Soneto 60: “ ([...] E o Tempo, dado, que hoje nos lega seu presente./Os dias firmam seu passo na juventude,/E cavam suas sendas sobre a fronte da beleza;).
Essa tópica da passagem do tempo remonta à Antiguidade Clássica. Está em Metamorfoses de Ovídio, por exemplo, como o tempo devorador de todas as coisas (tempus edax rerum)
Além da tópica do tempo, há a do “carpe diem”,sugerido no segundo terceto pelo verso “ Oh não aguardes, que a madura idade, / Te converta essa flor, essa beleza,/”, inspirado nas Odes de Horácio (I, 11,8 - “ A Leuconoe”): “ Enquanto estamos falando, terá fugido o tempo invejoso; colhe o dia, quanto menos confiada no de amanhã (dum loquimur, fugerit ínvida aetas: carpe diem quam minimum credula postero.)”
Outras imagens clássicas estão expressas no soneto, como em “Em tuas faces a rosada aurora, referente ao epíteto “a aurora dos dedos rosados” da Ilíada de Homero. Além disso , a mitologia grega em está referida em “Adonis” (verso 2, segundo quarteto), pelo qual se apaixonou Afrodite e Perséfone, numa clara referência á beleza e ao amor, temas líricos por excelência.
Mariana Prado de Andrade ( n USP: 1297741)
Este comentário foi removido pelo autor.
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