sexta-feira, 26 de abril de 2013

Polêmica em torno do Barroco


Olá a todos,

Nesta postagem, abriremos espaço para a discussão, comentário e levantamento de questões sobre polêmicas em torno do Barroco: desde a disputa sobre o lugar que ocupa, até, mais uma vez, à inadequação histórica de algumas de suas abordagens.

Nas próximas aulas, dias 02 e 03 de maio, os seguintes textos críticos fazem parte do horizonte do debate:

- "Um nome por fazer", capítulo de A sátira e o engenho, de João Adolfo Hansen (1988);

- O sequestro do barroco na formação da literatura brasileira: o caso Gregório de Matos, de Haroldo de Campos (1989);

- "Os sete fôlegos de um livro", ensaio de Seqüências brasileiras, de Roberto Schwarz (1999).

Bom fim de semana a todos.















19 comentários:

  1. A discussão sobre o barroco e sua validez como gênero situa-se clara na construção da literatura brasileira como sistema, e tem se mostrado – desde a elaboração desse sistema por Antonio Candido na Formação até hoje em dia – como assunto de difícil concordância entre críticos. É clara a intenção de considerar o país como território na constituição de uma literatura própria, então, neste viés, tudo que foi realizado dentro deste território é válido dentro do elaborado sistema existente, mas também há a consideração do que é realmente um sistema, levando em conta sua função e posição na história, como coloca Candido em seu prefácio à Formação. Schwarz cita em seu texto as diferentes vertentes e, de certo modo, a lógica que formula o livro – inclusive a decisão de considerar a literatura sob o ‘signo unificador da independência nacional em processo’ (p. 49), que a colocaria em formação no momento em que ocorrem as manifestações de cunho independente, que formariam o país de fato. Assim, a ‘exclusão’ de nomes do dito período Barroco (a definição do termo por si já gera outra discussão teórica ainda vigente) se baseia na não-existência de um Brasil que fosse independente ou tivesse os primeiros rasgos dessa independência. Nomes como Gregório de Matos inserir-se-iam, então, num sistema colonial, onde a influência ainda seria a portuguesa. Assim, mesmo as obras do período obedecendo à tríade do autor-obra-público – mais um ponto de discussão, quem eram os leitores? – seriam expressões do que é considerado o nascimento da literatura brasileira, sem que existisse um Brasil independente e constituído de fato?
    Mariana Ancelani Ribeiro - nºUSP 7192492

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  2. A obra “O Sequestro do Barroco na Formação da Literatura Brasileira: o Caso Gregório de Matos” possui uma discussão muito interessante e importante. Como obra que visa rebater os argumentos de Antonio Candido no que tange a “Formação da Literatura Brasileira”, Haroldo de Campos sonda a questão da “origem” para tentar mais bem entender o porquê da literatura nacional ser encontrada apenas no Romantismo. Não demora muito para perceber que tal origem, segundo Campos, é encontrada na obra de Gregório de Matos Guerra. O tema continua em litígio e divide a crítica até hoje: como delimitar um período literário como o Barroco? E mais, como aceitar que o nascimento de uma literatura está aqui ou lá se antes mesmo de Gregório de Matos obras eram produzidas no Brasil? Textos como “O Auto de São Lourenço”, de José de Anchieta, escrito inclusive em tupi, podem ser considerados menos brasileiros que obras como a de Gregório de Matos ou as dos românticos? Para Candido, um “espírito nacional” é necessário para a escrita de uma literatura que seja brasileira. Campos constrói sua argumentação questionando a obra de Candido, já que, segundo Haroldo, em “Formação”, tudo que não cabe em seu sistema, caracteriza mera “manifestação literária” e não uma literatura propriamente dita. O texto de Haroldo de Campos é em geral bastante difícil. Ele lida com críticos e poetas os mais diversos para se fundamentar. Os resultados, de qualquer modo, são bastante convincentes. Talvez falte obra de semelhante peso que sonde a produção literária brasileira anterior a Gregório de Matos para entendermos de fato melhor nossa produção colonial.
    Fernando Gorab Leme (nº7190701)

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  3. A difícil categorização que há em relação ao Barroco é classificada, no texto de João Adolfo Hansen,devido à leitura feita contemporaneamente de maneira diacrônica, entretanto o autor sugere uma leitura sincrônica para que o alcance "das literaturas", que foram produzidas anteriormente ao século XIX seja maior.
    O texto de Haroldo de Campos, "O Sequestro do Barroco na Formação da Literatura Brasileira", tem como ponto de partida as críticas literárias do professor Antônio Candido, trazendo dessa forma as questões referentes ao conhecido esquema literário proposto de autor-público-obra, porém Haroldo considera o contexto específico que o Barroco traria, visto que o Barroco seria capaz de "exprimir a voz do LOGOS que emigrou do Ocidente e se transplantou para o não tão edênico Jardim americano, onde sua "aclimação" será "penosa" e requererá, para ser bem compreendida, o cuidado da nossa escuta", cuidado esse que pode ser entendido como a necessidade de uma leitura sincrônica proposta por Hansen.
    Além disso, achei muito interessante o fato de Haroldo mostrar exemplos de autores que passam a ser parte do cânone literário nacional de seus países após um período de "desaparecimento" de suas obras, como o peruano Juan del Valle Caviedes e o colombiano Hernando Domínguez Camargo, da mesma maneira que ocorrera com Gregório, o que implicaria em analisar o poeta brasileiro (e os outros também) "no contexto do Barroco ibero-americano."
    Thiago Augusto Rufino Batista - Número USP 6832656

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  4. Em "Os sete fôlegos de um livro" Schwarz aponta questões importantes para nossa discussão. Primeiramente, na página 49 nos é apresentada a questão da colônia. Antônio Cândido, em ''Formação da literatura brasileira'' coloca como questões fundamentais não apenas a relação de continuidade como também o fato da formação literária brasileira acompanhar a formação nacional, isto é, a literatura brasileira passa a evoluir com os primeiros pensamentos sobre independência. Nota-se então que Gregório de Matos, apesar de uma figura importante não era de fato, brasileiro uma vez que não havia um país unitário chamado Brasil e sim uma extensão de terras portuguesas utilizadas sobretudo para exploração e extração de riquezas. Além da questão geográfica e da tradição, vimos durante o curso o quanto é difícil falar sobre a autoria dos textos de Gregório de Matos devido às várias versões encontradas e a possível interferência de terceiros. Não seria este um fator ainda mais agravante seu “sequestro'' na “Formação da literatura brasileira”? O fato de Gregório de Matos não ter sido colocado por Antônio Cândido como personagem integrante da formação da literatura nacional tira seu mérito de produção intelectual?


    Caroline Campos R. da Silva (no. USP 7192189)

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  5. Roberto Schwarz se propõe a discutir os sete fôlegos da obra clássica de Antonio Candido, Formação da Literatura Brasileira, que foi formulada através de “superioridades palpáveis” e que por desenvolver uma “exposição equilibrada e elegante” acabou por não ter a análise merecida em detalhes minuciosos. A Formação é comparada com obras como História da Literatura Brasileira, que segundo Schwarz, tem seus pontos retomados um a um por Antonio Candido, que irá promover novas significações nos apontamentos feitos por José Veríssimo, desfazendo inadequações históricas de abordagens feitas, por exemplo, para Cláudio Manuel da Costa.
    Outra comparação será com as obras de Caio Prado Jr., Sérgio Buarque de Holanda e Celso Furtado. Para Schwarz, a Formação se equipara às obras desses autores, com a responsabilidade de, cada uma em sua área, participar de um momento de formação de uma nação em seus diversos níveis.
    De modo geral, essas obras tratam então do “processo formativo” no Brasil, mas o que se põe em questão desse processo formativo será como se sucedeu: em esferas. Ou seja, não foi homogêneo.
    Mais adiante (fim da página 56), Schwarz enfatiza que essa tarefa de racionalizar a formação de uma sociedade brasileira não se completou e ficou suspensa em razão dos “constrangimentos da mundialização”.
    Assim, a questão que se coloca é: a nação se formou realmente? O processo formativo, que se deu através de esferas, se desenvolveu a ponto de se conectar?


    Viviane Urbano de Araújo – nºUSP 5930192

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  6. Cerca de meio século após a publicação de "Formação da literatura brasileira" de Antonio Cadido, Schwarz discute em "Os sete fôlegos de um livro" algumas questões acerca da ideia de formação, aprofundando a relação já presente em Candido entre literatura e sociedade no Brasil. Escrito nos anos 90, o texto de Schwarz redimensiona a discussão iniciada na obra candidiana, chegando a observar um certo descompasso entre a formação de uma cultura nacional - que efetivamente se completou - e o processo de formação econômica que, ao que tudo indica, nunca encontrará nos moldes atuais nenhum tipo de organicidade.
    No que diz respeito ao Barroco - que é justamente o atual tema de debate em nossa disciplina -, Schwarz insere em seu texto a polêmica de Haroldo de Campos em relação à obra de Candido. Este é acusado por Campos de "seqüestrar o barroco" do processo de formação de nossa literatura uma vez que Gregório de Matos não é contemplado no referido estudo. Sobre essa discussão, Schwarz argumenta de modo bastante pertinente, esclarecendo que a formação da literatura nacional não é a mesma coisa que "a história do território, ou da língua, nem da literatura escrita no Brasil". Trata-se de duas noções distintas e que por vezes - não só em Campos - aparecem confundidas.
    Com o argumento de Schwarz, a ideia de que as obras escritas em terra brasileira devem necessariamente ser compreendidas no sistema de nossa formação literária vai por água abaixo, tornando legítima a escolha de Candido pelos movimentos árcade e romântico. Em minha opinião, não contemplar Matos no processo formativo da literatura brasileira não é algo negativo - como pretende a designação "sequestro" - , uma vez que de fato sua produção pode ser considerada um evento isolado no curso da história, e não pertencente a todo um sistema literário nacional articulado como o apresentado por Candido.

    Isabela Mariotto Martins - N° USP: 7191622

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  7. No ensaio de Schwarz, três pontos me chamaram a atenção. O primeiro é a "vocação extensiva do nosso romance", a literatura que cumpria um papel como a das ciências sociais hoje. É como se a literatura que se forma em meio a tentativa de nação e ao lado dela pudesse apontar caminhos, possibilidades, levar a pensamentos e, conseqüentemente, a mudanças, como se ela pudesse gerar a revolução (a revolução como caminho para se chegar à unidade nacional), como se ela fosse a semente. A partir do momento em que temos uma literatura nacional, nascida de uma boca do país (e aí entra a questão do Barroco e de Gregório de Matos), damos abertura à possibilidade de ver esse país como algo sólido, existente. É como se a literatura, enquanto se faz, enquanto surge, formasse os contextos sociais que ilustra e também os pusesse em discussão (como a literatura de Machado pré-abolição da escravidão abordar o tema da escravidão em si).
    Outro ponto, que dialoga com o primeiro, é o do "progresso à brasileira": na verdade não é a literatura formando um país, mas um processo de uma esfera só, a elite - só a elite está se "formando" como elemento social brasileiro, e que traz ao lado uma literatura como que acoplada. Forma-se no país uma elite, uma literatura, mas as marcas coloniais permanecem, até hoje.
    Por fim, me chamou a atenção a "comercialização internacional da cultura": se a literatura nacional está formada, ela pode ser vendida como tal, como uma literatura brasileira, atraindo o olhar estrangeiro para o que seria uma idéia de Brasil.

    Sylvia B. Damiani Araújo - nºUSP 7193732

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  9. Toda vez que penso no livro do Candido, "Formação da Literatura Brasileira", sempre lembro da concepção do Eliot de tradição. Em sua concepção, Eliot mostra que a literatura tem um sentido histórico que deve ser percebida por aquele que quer entrar para a tradição e que esse sentido pressupõe uma percepção do passado, do que dele ficou e como dialogar com isso. Assim, o presente da arte modificaria o que já passou e o passado sempre estaria presente, eles teriam uma espécie de simultaneidade. Ao ver o ponto no qual Candido coloca a formação da literatura brasileira, vejo uma razão política: a literatura brasileira seria aquela que ocorre no Brasil independente. E vejo também um olhar social, a literatura brasileira é aquela que faz parte do que chamamos de Brasil e esse Brasil só nasce como nação no romantismo. Ele escolhe pontos com os quais a literatura que segue vai dialogar, fazendo a linha da tradição funcionar, e criando com a formação da literatura também uma tradição. É uma escolha pessoal mediada por um ponto de vista daquele que sabe o que seguirá após o romantismo. Ele escolhe o ponto de partida no passado sabendo o que viria depois. Como explicita Edward Said em seu livro "Cultura e Imperialismo", o que não consta na teoria do Eliot é que a escolha da tradição não é feita naturalmente. Essas escolhas são externas e alheias muitas vezes à própria literatura, mas ele considera a ideia central de Eliot válida: "a maneira como formulamos ou representamos o passado molda nossa compreensão e nossas concepções do presente". Com isso, talvez seja mais interessante pensar não o motivo de Candido não incluir Gregório de Matos em sua concepção da formação da literatura brasileira, mas o que se torna diferente ao incluirmos.
    Roberto Schwarz, em seu texto, coloca justamente o anacronismo da escolha de Candido e ao mesmo tempo deixa clara a diferença entre formação do Brasil e formação da literatura brasileira. Em nenhum momento Candido exclui a existência de literatura no território brasileiro antes da formação da literatura brasileira. Discussão trazida por Schwarz deixa explícita a perspectiva da existência de ponto de vista de um crítico que faz escolhas.

    Isabela C.C.A. Mota - Número USP: 6463529

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  10. Uma questão que me chamou a atenção foi em relação ao “Gosto” como juízo acadêmico de valor na seleção das obras literárias ao longo do tempo. Em “Os sete Fôlegos de um Livro” Roberto Schwarz aponta a presença de um “juízo de gosto” (p. 48) em torno da Formação da Literatura Brasileira, escrita por Antonio Candido. Esse juízo, forma de operação reproduzida pelo próprio “procedimento universitário comum” – fatos da literatura são estudados e pesquisados a partir de um cânone da crítica acadêmica, geralmente reafirmando tais “pontos de vista prestigiosos do momento.” – consiste na atribuição de valor literário partindo de critérios subjetivos (o gosto) situados no presente, porém “justificados com argumentos estruturais, historicamente informados (...)” (p. 48). Em detrimento do juízo crítico propriamente dito, como argumenta Schwarz. Essa questão também é abordada por Hansen em “Um Nome Por Fazer” de A Sátira e o Engenho, para tratar a crítica literária quanto ao barroco, e mais especificamente, quanto a Gregório de Matos. O texto aborda a questão da visão romantizada em torno da figura do autor. O Gregório de Matos do Barroco descrito por Rebelo, por exemplo, pode ser entendido como uma autoria construída pelos críticos, muitas vezes, através de uma forçosa ligação entre obra e biografia. A própria ideia de autoria, relacionada com a de originalidade, não é pertinente a caracterização do Barroco, pois é uma noção da crítica posterior ao período, como evidencia Hansen ao argumentar que A própria noção de originalidade expressiva era estranha ao poeta seiscentista.

    Mayra da Silva Moraes Santos. Nº USP: 6832893

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  12. É disso que trata O sequestro do barroco na formação da literatura brasileira: o caso Gregório de Mattos: das origens estabilizadas, de seu corolário simétrico, os fins acabados, e daquilo que desse enredo se exclui, o que vem antes do começo. São dois movimentos lógicos, um genealógico, o outro teleológico, e um terceiro movimento de subtilização freudiana da infância pátria e do que não lhe seria próprio, o barroco literário. Incômoda para ouvidos delicados, a palavra “sequestro”inspirada em Mário de Andrade, que a tomava como sinônimo de “recalque”, apenas quer recobrir este último apontamento. Ela nada tem, assim, de verdadeiramente belicosa. Faz parte do repto que Haroldo de Campos lança à tese e não à pessoa de Antonio Candido, cuja obra princeps seu título cita. Nem tampouco é descortês a palavra “caso”, com a qual ele não quis criar um caso, mas simplesmente apresentar um estudo de caso.
    Outra maneira de resumir esta pièce à scandale, sobre a qual vimos mantendo um certo silêncio constrangido, há mais de vinte anos, é assinalar a outra interpretação possível dos fatos, aqui encaminhada. A saber: a História não é assim tão sem fratura, nem os começos históricos, tão decretáveis, o que permite atrasar o advento oficial do país e armar outro cânone da literatura brasileira, reintegrando o período colonial. Com a vantagem de se poder fazer entrar neste outro um poeta máximo da língua, aqui nascido e aqui falecido, ligado a uma pequena nobreza luso-baiana de senhores de engenho, agudo observador de nossa “triste Bahia”, tão virtuosístico nos versos satíricos quanto na lírica amorosa: Gregório de Mattos.

    Suenia João Lima. Nº-USP: 6914806

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  14. Para Hansen os olhares aos textos atribuídos e até mesmo essa atribuição deve-se ao receptor do texto. É possível estabelecer pelo menos duas linhas de recepção uma eufórica e outra disfórica, embora opostas, ambas compreendem a autoria no sentido subjetivo.
    A eufórica atribui a Gregório conceitos românticos como transgressor, desregrado, polêmico. Por sua vez a disfórica condena a imitação como plágio, porque também está imbuída de conceitos românticos modernos de estilo próprio individual oposto a imitação; autoria oposta a plágio.
    O que se pode chamar de estilo no século XVII é algo que é coletivizado, por isso é anacronismo romântico dizer o estilo de Gregório de Matos, tal como concebemos hoje a noção de estilo, por exemplo, o que chamamos de roseano (referente a Guimarães Rosa) ou kafkiano (Franz Kafka).
    Talvez o estilo seria da própria literatura seiscentista em que o texto literário, principalmente o satírico tem funções específicas de cura pela penitência (como assevera Hansen comparando a sátira à peste, à fome, à guerra como castigos de Deus) e não de crítica contumaz.
    Nesse sentido, a visão contemporânea que está em cheque é a que explica a sátira seiscentista, especialmente a de Gregório, como oposição aos poderes constituídos, inconformismo político e libertinagem moral ou, ainda, um ceticismo social. Penso que este tipo de leitura é completamente possível, mas como adverte Hansen é totalmente baseada na recepção dos poemas. Porque a produção está centrada na conservação do poder constituído, segundo a interpretação de que a sátira naquele momento não era transgressão, mas conservação.
    Penso que a importância do trabalho do Hansen é tentar estabelecer um campo para a polêmica, captar um certo rigor histórico, para não incorrer em interpretações anacrônicas baseada no individuo que lê.

    Vladimir dos Santos Stein
    Nº USP 1911280

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  15. “Os sete fôlegos de um livro” e “O sequestro do barroco na formação da literatura brasileira: o caso Gregório de Matos” são meu ponto de partida.
    Em ambos os casos, Roberto Schwarz e Haroldo de Campos analisam a abordagem de Antonio Candido em relação ao que se chamaria, para este, de ‘literatura’ e quais são as implicações advindas do traçado do crítico em torno deste objeto tal qual ele propõe (ou propôs, se levarmos em consideração que o foco de debate é como esse recorte se deu no livro de Candido “A formação da literatura brasileira”, cuja publicação é de 1959). Os autores, em ambos os casos, problematizam as escolhas de A. Candido, e eu destaco uma questão que me pareceu das mais importantes no debate entre ambos – a questão da perspectiva, que, em amplo sentido, parece abranger as proposições enquanto questão central. Com o perdão da franqueza, pra mim é quase um tormento tentar esboçar uma posição no tocante a (a) considerar o sistema literário enquanto definidor para a noção de literatura e, assim, acabar por não incluir como parte dele obras que não fazem parte desse escopo e (b) problematizar justamente esse escopo. Ao que me parece, isto é o que faz Campos – o que não quer dizer que não o faça também Schwarz, mas talvez ambos o façam em termos diferentes, com horizontes igualmente diferentes.
    Cabe em nota que, a respeito de uma tomada de posição frente às abordagens e em relação a nosso curso, achei muito pertinente a colocação de que “temos o costume de considerar parte direta da nação tudo o que tenha ocorrido no território [...] numa pseudoproximidade que engana” (Schwarz, p. 49). A julgar pelo caso de Gregório de Matos, a ‘pseudoproximidade’ por muitas vezes regeu as interpretações – dito isso inclusive em relação à apropriação anacrônica de categorias.
    Júlia Maria Andrade de Melo Ignácio – nº USP 6831398

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  16. O sequestro do barroco na formação da literatura brasileira: o caso Gregório de Matos, como o próprio nome do livro mostra, levanta a questão sobre qual lugar ocupa o Barroco na literatura brasileira e, mais do que isso, posiciona-se a respeito. É um diálogo aberto com Antônio Cândido, mais precisamente, com seu livro Formação da literatura brasileira, começando Haroldo de Campos seu texto com a seguinte citação de Nietzche "Todo o respeito por vossas opiniões! Mas pequenas ações divergentes valem mais!"
    Ele ainda pincela levemente a questão da "acusação de 'plágio' lançada contra o poeta" Gregório de Matos. Tradutor de Gôngora e Quevedo, o poeta baiano foi acusado (ou ainda o é?)de plagiá-los, uma vez que em seus poemas repetia versos daqueles. Tal acusação parte de uma leitura anacrônica, uma leitura romântica oriunda do séc. XIX para a qual o conceito de originalidade - autoria, novidade estética - é positivado. Para Haroldo de Campos esse recurso deve ser entendido à luz do diálogo textual, da "dignidade estética da tradução, como categoria de criação". Hansen, em Um nome por fazer, vai mais além: como considerar plagiário um poeta que "nada repugna mais que a inovação"? Para compreender a poesia barroca é preciso olhá-la com olhos barrocos:a poesia é estilo e o bom poeta é aquele engenhoso que melhorando as formas já existentes, eleva o modelo.

    Natalia Cristina Soares de Souza - Nº USP 6834637

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  17. Os olhos voltados para a Europa.
    Na “Formação da literatura brasileira” o professor Antonio Candido toma três direções para estruturar a história da literatura produzida no Brasil: a histórica, a analítica e a comparativa. Nesta perspectiva estabelece que essa produção foi gerada no seio da tradição literária portuguesa e, consequentemente, é parte da cultura ocidental . Para o teórico “a literatura brasileira evolui de forma contínua e integrada a partir do séc. XVIII, quando há início da constituição de uma tradição”. Ainda observa que antes não havia sociabilidade e uma vida literária capaz de constituir um sistema - autor, obra público – em relação dinâmica resultando certa continuidade de tradição. Para o professor os primeiros sopros de independência política coincide com a evolução da produção literária do país. “Antes não havia Brasil” e “a literatura acabou fazendo parte do esforço de construção do país livre”, ideias que fundem formação de nação com identidade nacional através da literatura. Não comporta, portanto, Gregório de Mattos. Haroldo de Campos dialoga com essas concepções e questiona o conceito de “manifestações literárias” atribuídas ao que foi feito antes dos árcades. Ao aproximar o olhar para a orientação de Candido, o autor do “Sequestro do Barroco” nos leva a concluir o uso do critério exclusivo na concepção urdida por Cândido. Tal critério encerra um conceito evolucionista da literatura – do mais fraco para o mais forte além de desconsiderar o sistema próprio da época como, por exemplo, a tradição oral, toda a cultura das manuscrituras, dentre outras manifestações. A literatura brasileira, em base a esse critério, é um galho de uma grande árvore portuguesa.
    Márcia Bassetto Paes. N. USP 1304651

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