Boa tarde, alunos de LB 5,
Esta é a última postagem para avaliação de participação com comentários.
Na aula de quinta-feira, dia 20 de junho, continuaremos a leitura de O Uraguai. Os comentários nesta postagem devem ser sobre o "Canto quarto" do poema de Basílio da Gama.
Também é possível comentar o ensaio "Notas sobre o gênero épico", de João Adolfo Hansen, ainda nesta postagem.
Na aula de sexta-feira, dia 21 de junho, haverá a prova final. As informações sobre a prova encontram-se na postagem abaixo.
Na sexta-feira, o Prof. Hélio Guimarães e eu, Ana Carolina (estagiária PAE), estaremos num plantão para quem optar por fazer o trabalho final.
Bom fim de semana a todos.
Ao analisarmos a obra “O Uraguai” de Basílio da Gama, escrita em 1769 vemos que o autor utiliza-se de formas já sedimentadas nas epopeias clássicas, como por exemplo “Ilíada” e “Odisséia” para desenvolver sua narrativa. Dessa forma, todas as ações presentes nos decassílabos fazem referência á tal gênero, que quando retomado faz-se, a meu ver, um tanto anacrônico. Figuras como o herói que personificam os valores singulares e a forma de pensar de todo uma coletividade são reiterados no texto. Veremos como isso acontece, analisando alguns excertos.
ResponderExcluirNo quarto canto da obra, vemos que o índio, ou gentio é visto por muitas vezes como um bárbaro :
“Que se ensinava aos bárbaros gentios
A disciplina militar, e negue
Que mãos traidoras a distantes povos
Por ásperos desertos conduziam
O pó sulfúreo, e as sibilantes balas
E o bronze, que rugia nos seus muros.”
Dessa maneira, aqueles que ensinavam a disciplina militar aos índios eram tão ou mais bárbaros do que eles e, assim sendo, passíveis de serem feridos com “as sibilantes balas”. Por outro lado, vemos que “o grande Andrade” era uma das figuras que personificava tudo aquilo que se entendia por herói:
“Salvas as tropas do noturno incêndio,
Aos povos se avizinha o grande Andrade,
Depois de afugentar os índios fortes
Que a subida dos montes defendiam,
E rotos muitas vezes e espalhados
Os tapes cavaleiros, que arremessam
Duas causas de morte em uma lança
E em largo giro todo o campo escrevem.”
Mais adiante, quando vemos que a batalha já acabara, vemos que uma imagem quase divina, onde tudo se abre e se mostra e onde os reflexos e ruínas dos campos de batalha nos é mostrada, fazendo assim, um contraponto com a natureza do local:
“Descrever ao teu rei o sítio e as armas,
E os ódios, e o furor, e a incrível guerra.
(...)
Assim quem olha do escarpado cume
Não vê mais do que o céu, que o mais lhe encobre
A tarda e fria névoa, escura e densa.
Mas quando o Sol de lá do eterno e fixo
Purpúreo encosto de dourado assento,
Co’a criadora mão desfaz e corre
O véu cinzento de ondeadas nuvens,
Que alegre cena para os olhos! Podem
Daquela altura, por espaço imenso,
Ver as longas campinas retalhadas
De trêmulos ribeiros, claras fontes
E lagos cristalinos, onde molha
As leves asas o lascivo vento.
Engraçados outeiros, fundos vales
E arvoredos copados e confusos,
Verde teatro, onde se admira quanto
Produziu a supérflua Natureza.”
Mais do que isso, vemos que além de uma natureza idealizada, o autor começa a mostra-nos como alguns outros elementos como templos e até mesmo os próprios gentios são colocados à fazer referência para toda uma escola clássica onde o gênero épico foi escrito. Dessa forma, podemos ver que (i) os templos são figuras europeizadas:
“Estão patentes as douradas portas
Do grande templo, e na vizinha praça
Se vão dispondo de uma e de outra banda
As vistosas esquadras diferentes. “
E (ii), como o índio mostrado no seguir do verso é apresentado de maneira muito parecida com a figura do deus Marte na tradição greco-romana, uma vez que esse, por ser o deus da guerra, mostrava-se tingido pela cor vermelha que representava o sangue e, na obra em questão, podemos ver um referente que diz:
“Co’a chata frente de urucu tingida,
Vinha o índio Cobé disforme e feio,
Que sustenta nas mãos pesada maça,
Com que abate no campo os inimigos
Como abate a seara o rijo vento.
Traz consigo os salvages da montanha,
Que comem os seus mortos; nem consentem
Que jamais lhes esconda a dura terra
No seu avaro seio o frio corpo
Do doce pai, ou suspirado amigo. “
Dessa maneira, vemos durante toda a obra que o autor visava fazer sua narrativa aos moldes das narrativas clássicas com a figuração de deuses e das musas (como presente no início do poema) , uma vez que “O Uraguai” é um poema épico.
Adriano Mariussi Baumruck (7191765) (quinta e sexta-feira das 08-10 hs)
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ResponderExcluirEm "Nota sobre o Gênero Épico", Hansen já nos introduz a ideia de que o "heroísmo" é improvável e inverossímil quando o dinheiro é o equivalente universal de todos os valores." Portanto, apesar das tentativas românticas de reviver a épica, ela não deixa de ser um gênero morto.
ResponderExcluirAo longo do ensaio, Hansen faz uma longa caracterização do gênero épico e, em um momento, se detém na questão religiosa, ao observar que "As definições luso-brasileiras de epopéia dos séculos XVI, XVII e XVIII incluem-se na longa duração dos preceitos aristotélicos do gênero, mas expurgam o maravilhoso antigo". Sendo assim, podemos observar, em O Uraguai, que Basílio da Gama substitui esse "maravilhoso antigo" pelo maravilhoso cristão ou indígena.
Os poetas tinham consciência que era necessário utilizar o recurso do maravilhoso, porém em uma sociedade cristã seria perigosamente inverossímil fazer uso das divindades antigas. Desta forma, Basílio realiza tal substituição.
Achei interessante observar tal fato dentro desta tentativa de recuperação do gênero épico. Pois apesar dos poetas recuperarem toda a tradição aristotélica, foi necessário reformular a questão religiosa.
Débora Barbosa Roncon - Nº USP 7195154
Seguindo a estrutura de epopeia da obra toda, o canto quatro tem como destaque, em minha opinião a morte de Lindóia, uma cena que destoa do resto do poema. Deixa-se de lado a épica bruta, e trata o índio como ser igual, contracenando com a Natureza. Chega até a ser romanesco o trato dado a cada verso do canto, o índio idealizado, tratado como belo, mesmo na presença da morte:
ResponderExcluir"Tanto era bela no seu rosto a morte!".
Interessante salientar a presença da insatisfação já presente pelos reais habitantes da nação com a "invasão" jesuíta que tentava deturpar valores tão naturais daquele povo puro e primitivo. O desenrolar de uma batalha, com a figura de inimigos é descrita de forma tão crua que poderíamos fazer uma analogia com o que presenciamos nos dias de hoje:
"Fugi, fugi da mal segura terra,
Que estão já sobre nós os inimigos.
Eu mesmo os vi, que descem do alto monte,
E vêm cobrindo os campos".
O impacto que esses versos me causaram, me fizeram ver o choque entre a narrativa que apresenta o molde clássico da épica, com a temática tão contemporânea que esse canto nos traz.
O clássico se une ao contemporâneo no passado e no presente.
Alanna Contador (7192280)
Na atualidade, os conceitos de autoria e plágio diferem bastante dos vigentes na antiguidade clássica. João Adolfo Hansen, em "Notas sobre o gênero épico", trata de definir as características da epopeia e também contrasta as características deste gênero com as valorizadas nos dias de hoje. O código valorizado era o da imitação e a poesia feita era não sobre fatos empíricos, mas fictícios ("o leitor estabelece comunicação fictícia com ações fictícias ficticiamente figuradas"). Como a sociedade luso-brasileira dos séculos XVI, XVII, XVIII, diferente da atual, não conhecia a noção de mercado de bens culturais, não compartilhavam da mesma noção que temos de propriedade privada ou conceitos como direitos autorais ou originalidade como os concebemos atualmente. A questão de autoria e plágio, portanto, não era conhecida. Havia, entretanto, a ideia de roubo: o texto explica que "roubo" é diferente de "imitação". Para uma obra ter prestígio, deveria emular o anterior, sendo semelhante mas não idêntico. Nesse sentido, também são diversos os conceitos de novidade (ao invés de significar, como nos dias atuais, ruptura ou superação, ela combina todas as formas antigas conhecidas e é cumulativa, alinhando-se com os anteriores do mesmo gênero), e não há originalidade nas obras do período, como o Uraguai, uma vez que "a unidade do costume mimético é total".
ResponderExcluirCamille F. Arnaud Sampaio - 7194514
"O Uraguai" é um poema épico que se inspira em obras como a "Ilíada" e a "Odisseia". Podemos notar diversos características em comum entre as obras, como: métrica (versos decassílabos) e proposta (apresentar um ato heroico na história de um povo). A grande questão é se era possível nessa época traçar um perfil brasileiro para realizar uma epopeia à altura.
ResponderExcluirO canto quarto apresenta uma estrutura mais prosaica que os demais, isso se deve ao fato de que o canto tem diversos encavalgamentos que possibilitam uma leitura mais fluida de seus versos.
Porém, temos também aquele que pode ser considerado o momento mais lírico da obra: a morte de Lindoia. Mesmo com uma estrutura mais prosaica, as imagens neste canto são muito "fortes", tanto da morte de Lindoia, quanto da natureza e da destruição do templo:
"As imagens sagradas. O áureo trono,
O trono em que se adora um Deus imenso
Que o sofre, e não castiga os temerários,
Em pedaços no chão. Voltava os olhos
Turbado o General: aquela vista
Lhe encheu o peito de ira, e os olhos de água."
A queda de um Deus é uma imagem de grande impacto e que serve para resumir este canto. Fluido, lírico e intenso.
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ResponderExcluirJussara, peço que, por favor, reveja e revise o seu texto, que está inteiramente trucando, para refazer a postagem. Obrigado.
ResponderExcluirDaniela Corrêa de Sequeira - No USP 2351868 (1o horário)
ResponderExcluirA impressão que a cena da morte de Lindoia é de que ela antecipa a heroína romântica que surgiria tempos depois na literatura brasileira. Ela é uma espécie de modelo de mulher virtuosa. Já em sua primeira aparição no poema (no terceiro canto), ela é retratada como uma mulher honesta, amorosa e fiel, que encarna a perfeição da juventude, da beleza indígena. Ela é descrita como uma mulher brava e firme em seu propósito de defender seu amor por Cacambo, tornando-se, assim, a imagem da fidelidade, pois mantém-se pura durante a ausência do marido e também depois de sua morte. No momento mais próximo do romantismo da epopeia, ela se suicida-se para não traí-lo. Na cena em questão, Caitutu, seu irmão, a encontra entre jasmins e rosas. No seu corpo se enrola um serpente verde que Caitutu, depois de hesitar três vezes, acerta com uma flecha, mas já é tarde demais. Ao tomar a irmã nos braços descobre os sinais do veneno. Ela já havia sido picada e ele percebe o quanto a morte era bela no rosto de Lindóia.
"E rompe em profundíssimos suspiros,
Lendo na testa da fronteira gruta
De sua mão já trêmula gravado
O alheio crime e a voluntária morte.
E por todas as partes repetido
O suspirado nome de Cacambo.
Inda conserva o pálido semblante
Um não sei quê de magoado e triste,
Que os corações mais duros enternece
Tanto era bela no seu rosto a morte!"
Ela, para não se entregar a outro homem, preferiu morrer. Lindoia encarna, dessa forma, a resignação, a infelicidade da heroína índia, na sua pureza e na sua fidelidade, algo que seria explorado mais adiante na literatura brasileira em Iracema, por exemplo. Extrapolando um pouco a questão indígena, essa morte por amor também me remeteu a Lucíola.
O canto quarto de “O Araguai” tem como episódio principal a morte de Lindóia que confere tom lírico ao poema épico. A descrição da natureza no poema oscila entre o locus amoenus típico da literatura árcade – “Que alegre cena para os olhos! Podem/ Daquela altura, por espaço imenso,/ Ver as longas campinas retalhadas/ De trêmulos ribeiros, claras fontes/ E lagos cristalinos, onde molha/ As leves asas o lascivo vento”- à natureza como manifestação de subjetividade com o emprego de adjetivos do campo semântico da morte após Lindóia morrer envenenada pela serpente: o bosque é “escuro”e “negro”, a fonte é “rouca”, o cipreste é “fúnebre”, a sombra é “melancólica”. Assim, o poema adianta a temática romântica do índio e da natureza como representação da subjetividade da personagem pois mesmo o vento se torna “irado”após sua morte. O poema de Basílio da Gama apresenta forte crítica aos jesuítas e, ainda que tenha a intenção de louvar o General Gomes Freire de Andrade, é o índio que muitas vezes aparece exaltado, ainda que criticado em alguns dos seus ritos, como a antropofagia: “Traz consigo os selvagens da montanha,/ Que comem os seus mortos; nem consentem/ Que jamais lhes esconda a dura terra/ No seu avaro seio o frio corpo/ Do doce pai, ou suspirado amigo.”
ResponderExcluirEloá de Oliveira Schuler Número USP: 6469140
No Quarto Canto de "O Uraguai", a personagem Lindóia prefere morrer que se deixar desonrar por outro homem. Ela representa o ideal da heroína do romance cavalheiresco típico da Idade Média e que seria mais tarde imitado no Barroco e no Arcadismo. A morte por uma picada de serpente de Lindóia também remete à morte de Cleópatra, que supostamente teria preferido a morte a ser feita prisioneira e humilhada pelos romanos.
ResponderExcluirGuilherme Mello Sant'Anna, nº 7193281, segundo horário da manhã
Em “Notas sobre o Gênero Épico”, Hansen introduz, dentre diversos conceitos e questões, a questão da verossimilhança, da adequação e da originilidade.
ResponderExcluirRecorri à literatura comparada para compreender a relação entre esses conceitos. Considerando que a literatura de nutre de literatura, a questão da originalidade é um tanto quanto polemica. Para abordar a originalidade, é necessário que passemos pelos conceitos de influência e imitação. Cionarescu trata o conceito de influência como um “ resultado artístico autônomo de uma relação de contato” este de difere da imitação se houver na obra, alguma diferenciação entre tema, gênero, recursos estilísticos e ideológicos e ressonância afetiva; quanto mais desses elementos forem aproveirados na obra de um autor para o outro, mais ele se aproximará da imitação.
Apesar de Hansen afirmar que não há em “O Uraguai” o conceito romântico de originalidade, uma vez que esse se utiliza totalmente da mimèsis (imitação), não podemos retomar o conceito de Antônio Cândido, o qual garante a originalidade da obra se houver uma adequação e ajustamento ao pano de fundo local e assumir que há, na obra apenas o conceito de influência?
Caroline Campos R. da Silva - número USP: 7192189
Ao longo do poema épico O Uraguai, de Basílio da Gama, é possível observar um duplo movimento: ao mesmo tempo em que há forte crítica aos jesuítas, há uma grande valorização dos feitos do chefe das tropas portuguesas (General Andrade).
ResponderExcluirNo Canto IV, o movimento apontado torna-se claro. Após uma longa descrição da natureza, a narração se inicia:
"Ajuntavam-se os índios entretanto
No lugar mais vizinho, onde o bom padre
Queria dar Lindóia por esposa
Ao Seu Baldetta, e segurar-lhe o posto
E a régia autoridade de Cacambo".
Nesse pequeno excerto já é possível perceber que o "bom padre" tem objetivos políticos com o casamento da índia Lindóia com Baldetta. É importante notar que Lindóia é esposa de Cacambo, chefe indígena.
Além disso, nesse trecho, as circunstâncias que envolvem o acontecimento central do Canto IV ( a morte de Lindóia) já estão dadas. Mais adiante,a índia se deixa picar por uma serpente para assim escapar do casamento com Baldetta e preservar seu amor. A descrição de seu corpo já sem vida merece destaque, constituindo uma passagem de forte lirismo do poema:
"Os olhos, em que Amor reinava, um dia,/ Cheios de morte" "(...) Tanto era bela no seu rosto a morte!"
É interessante observar, neste trecho, a presença de imagens próprias do romantismo. Nesse sentido, pode-se até pensar em Lindóia como um esboço da heroína romântica alencariana; é uma espécie de rascunho de uma futura Iracema.
Após a morte de Lindóia, com a chegada das tropas do General Andrade, os índios e padres desertam da "perigosa terra". Em seguida, os homens de Andrade são louvados por sua força: "Em roda os seus fortíssimos guerreiros/ Admiram, espalhados, a grandeza/ Do rico templo(...)".
Desse modo, pode-se concluir que ao mesmo tempo em que há crítica aos jesuítas e louvação às tropas portuguesas, os índios aparecem também como objeto de admiração do poeta, embora em outros momentos sejam diminuídos em função dos rituais antropofágicos. Aqui, a morte da índia Lindóia a transforma numa espécie de heroína romântica, em oposição aos jesuítas, que passam a figurar como os responsáveis por sua desgraça.
Isabela Mariotto Martins / 7191622
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ResponderExcluirA narrativa do canto quarto segue da seguinte maneira: As tropas de Andrade salvam-se do incêndio causado por Cacambo e vão em busca das missões a fim de dar continuação ao combate. No alto do morro o General avista a natureza do sul e divisa, ao longe, as casas e os templos habitados por indígenas e jesuítas. Nesse momento inicia-se uma nova narrativa: o casamento de Baldetta com Lindóia (arranjado pelo padre Balda com o intuito de colocar seu aprendiz no lugar do já finado Cacambo). Com tudo preparado a noiva é procurada e encontrada nos bosques sendo atacada por uma cobra monstruosa que pica seu seio. Seu irmão Caitutu mata a flechadas o monstro e deixa o corpo de Lindóia exposta às feras. Culpam o suicído à velha "feiticeira" Tanajura e ateiam fogo à sua casa. Quando chegam as tropas de Andrade encontram o templo cristão em ruínas.
ResponderExcluirAo final do canto há uma pausa épica significativa. Quando deparado com as imagens sagradas queimadas o narrador já não consegue mais dar continuidade à história e pede auxílio ao Gênio da América. Ele toma para si as dores do herói Andrade e faz uma pausa. O interessante é comparar o comportamento do narrador diante do templo em chamas e diante das casas indígenas, da "triste" Tanajura e do corpo de Lindóia. Diante dos últimos ele tem compaixão, diante do sagrado destruído ele não consegue narrar senão com a invocação de algo maior.
Guilherme Kranz Costa - 7193812
O canto IV de O Uraguai, de Basílio da Gama, traz à tona com muito mais força um elemento que caracteriza o poema, o lirismo. Ao tratar da morte de Lindóia, que já havia aparecido no Canto III, o poema épico alcança o auge desse caráter lírico. O mais interessante de notar é que, diferente dos poemas épicos até então conhecidos, Basílio da Gama utilizará decassílabos brancos e sem rimas. Essa ausência de rimas será compensada pelo autor por meio da melodia interna criada nos versos, através da cadência das palavras.
ResponderExcluirOutro elemento interessante dessa narrativa é a constante descrição da Natureza. São inúmeros os adjetivos utilizados para retratar a paisagem ao redor, por exemplo, 'trêmulo ribeiro', 'branda relva', 'mimosas flores', 'fúnebre cipreste', entre muitos outros. O mesmo procedimento é notado em todo o poema e com isso, somos colocados próximos dessa natureza descrita, como espectadores diretos da cena que se desdobra.
Lindóia aparecerá, no momento de sua morte, contrastante com toda a descrição feita até então. Sua morte traz um tom lúgubre e cheio de sombras para o poema, mas sem deixar de ser um momento pleno de beleza. Ao morrer, ela traz à visão não apenas a questão da morte pelo amor e falta que sentia de Cacambo, mas também mostra uma forma de por fim à cobiça de Balda, que tinha a intenção de usá-la como instrumento na conquista de poder político.
Irana Magalhães - 6470142
Como se espera de um poema épico, “O Uraguai”, remonta cenas grandiosas de cunho majestoso. É assim que vemos os versos 26-37, no Canto IV, quando o autor descreve-nos a paisagem com a qual aquele grupo europeu se defronta: Além das montanhas, o horizonte parece absoluto e todos os grandes elementos da natureza, os céus, o mar, o Sol, são postos em sua imponência e equilíbrio, culminando no êxtase daqueles que os observam. Nos versos 47-50, a Natureza não se apresenta mais pura. Sua personificação nesses versos não são por acaso, o homem já alterou sua essência inicial. A mescla com a cultura não se dá só no plano do espaço. Os índios, símbolos do não artificialismo, e de uma certa ingenuidade, nos versos 56-59 também são afetados. Através do elemento corruptor, o padre, há um casamento por puro interesse, tema tão presente na literatura brasileira posterior a Basílio da Gama. Nos versos 69-70, ao menos, ainda são colocados aqueles índios que ainda não foram completamente subjugados aos rituais hipócritas da sociedade branca, os selvagens ainda estão presentes, ainda que numa escala bem menor, mostrando que a corrupção ainda não havia sido total.
ResponderExcluirOutro fator interessante da passagem, é a descrição do Irmão Patusca. Basílio da Gama parecia adivinhar no que se tornaria o brasileiro: um ser apolítico, difícil para revoluções e que quando se depara com movimentos de revolta, continua sem entender bem pelo que e como protestam, culminando num pessimismo pontual nos versos 125-130.
Outro grande tema da poesia épica também é desenvolvido no trecho. A morte se dá também de forma grandiosa, ela está no clímax do ato. Lindóia, segundo a nota 151, evoca a situação da heroína. Só que nem mesmo a morte está livre para ser sentida em sua plenitude. É por causa do padre que não podem demonstrar seu pranto, barrando novamente aquilo que é natural.
Ao menos, no final do Canto, a mescla do talento natural com os instrumentos, ferramentas, parecem culminar numa grande coisa: a arte. As ruínas vistas pelos que acompanhavam Andrade são produto dessa mistura e conseguem causar bom efeito. Pelo menos na arte, a interferência do homem branco sobre os índios pareceu culminar em bons resultados.
Guilherme Augusto Marigo Rodrigues - 7195665
No início do canto quarto já percebemos as tendências épicas as quais Basílio da Gama retoma. Isso se dá pela forma do poema e pelo tema, forte descrição de uma cena de batalha. Notamos que a forte difamação e crítica e aos jesuítas permanece e a exaltação do índio ingênuo também.
ResponderExcluirA primeira aparição do padre Balda, no entanto, ocorre de modo irônico:
''[...]'onde o bom padre. O bom padre. Balda. Queria dar Lindóia por esposa ao seu Beldetta [...]''
Ao ler o canto três sabemos que o padre nada tem de bom, já que mandou matar o cacique Cacambo para assegurar a autoridade de aldeia e deu a mão de Lindóia a seu protegido.
A cena mais forte e importante do canto quarto é a do sacrifício de Lindóia, sacrificada por uma serpente para não desonrar seu amor Cacambo. A cena é emblemática já que remete à morte mítica de Cleópatra, também morta por uma serpente para não ser desonrada. A cena ocorre em meio a uma natureza melancólica que, apesar de linda, é fúnebre. Há um desplaçamento dessa natureza para Lindóia: ''tanto era bela no seu rosto a morte!''.
Quando levada à aldeia por seu irmão, o até então bom padre, mostra sua verdadeira feição. Não deixando Lindóia ser enterrada, a deixa ``exposta às feras e famintas aves''.
Podemos interpretar Lindóia remetendo uma heroina clássica e também uma figura que vai, posteriormente, servir para os românticos e suas heroinas românticas.
Andrea Funchal Lens - 7189974 - matutino, 1o horário.
No Canto Quarto de “O Uruguai”, mantem-se a argumentação histórica inserida desde o principio da obra, conforme cita Hansen este artifício parece querer subordinar o possível do épico ao real do histórico. Também neste episódio se mantém a crítica aos jesuítas, assim como a narração da guerra que vem repetindo-se por toda epopeia.
ResponderExcluirPorém neste canto, alguns fatos parecem destoar desta estrutura. Hansen referindo-se ao episodio que se insere na epopeia, descreve-o como uma sequencia narrativa paralela da ação, que é dotado de uma situação narrativa ou dramática e diversifica a ação narrada como ornato e exemplo que tornam o poema mais variável e versátil, enquanto relaciona o que veio antes do que veio depois, para que o herói continue agindo, também se pode compor o episódio como exposição de uma ação ou costume com os quais se comparam o costume e a ação do herói.
Pensando nesta descrição de episódio que faz o professor Hansen, podemos considerar o canto quarto como um episódio, pois estão inseridos nele os seguintes fatos:
A forma como Basílio da Gama expõe o local em que chegam os europeus, após de “afugentar os índios fortes”. Tudo é narrado a partir da tópica do locus amoenus, faz descrição de uma espécie de paraíso.
São descritos costumes como o antropofágico de alguns índios brasileiros e a representação do significado de ornamentos dos índios guaranis, como o uso de penachos negros representando o luto e o uso de penas vermelhas que representariam a guerra.
A descrição da morte de Lindoia.
Então é dada continuidade a narrativa da epopeia com a fuga dos habitantes da cidade.
Jéssica Caroline Gonçalves dos Santos - 7194111
Em “Notas sobre o gênero épico”, João Adolfo Hansen traça um panorama da Epopeia, compara-a com outros gêneros (Tragédia e Comédia), fornece exemplos de epopeias consagradas e apresenta as particularidades de algumas obras. Ele deixa claro desde o início que esse gênero está morto, pois o “tempo frio da narração dos arcaísmos heroicos alheios” (p. 18) não atrai mais o leitor atual.
ResponderExcluirHansen afirma que, na poesia antiga, os poetas se autodenominavam como os que compunham “imitando os estilos das autoridades” (p. 19). Nessa linha, Hansen explica o conceito de “emulação”, nome designado à técnica realizada pelos poetas em que consistia a invenção de um poema com feição semelhante a de outra obra. O autor destaca que essa prática era recorrente, pois a emulação evidenciava o reconhecimento do engenho e da perícia técnica de um poeta pelo compositor da obra.
Segundo Hansen, o primeiro estudo analítico do gênero épico foi feito na Poética, de Aristóteles. O autor apresenta os vários estudos posteriores à obra de Aristóteles, as características do gênero (versos, rimas etc.) e um leque de definições do poema heroico – sempre relacionando com as definições luso-brasileiras do gênero que permearam entre os séculos XVI e XVIII.
O autor cita que, segundo Dumézil, o homem e a sociedade do mundo indo-europeu não vivem se três funções não estiverem harmônicas: soberania, força e fecundidade. Portanto, o herói da Epopeia é uma espécie de junção desses elementos por provir de figuras míticas nas quais essas funções se manifestam. É no segundo elemento que está centrado o núcleo do Gênero Épico. É interessante notar também que o herói católico é caracterizado como aquele que está pronto para enfrentar as forças do mal, ele é o laço da “manutenção da fé em Deus e da fidelidade aos laços hierárquicos até o fim” (p. 74).
O texto aborda as diferenças entre a História e a Poesia e apresenta as duas partes da Epopeia: Quantidade (título, proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo) e Qualidade (fábula, costumes, pensamentos e elocução).
Natália Pereira Leal no. USP: 6833410
O Uraguai é escrito por Basílio da Gama como um poema épico, remontando às normas e diretrizes desse gênero contempladas por Homero. Porém, na antiguidade, os feitos heroicos eram retratados de um tempo distante da vida do autor; não é o que acontece com Basílio, já que este retrata, em sua narrativa, missões de jesuítas e suas relações com os índios, assunto muito contemporâneo em 1769, época em que foi escrito. O Uraguai é dividido em 5 cantos, com versos sem rima e sem estrofação.
ResponderExcluirO Canto IV segue a narrativa descrevendo a natureza, em seus primeiros versos, levando à um cenário no qual aparecem os protagonistas do canto: Balda, o padre, que "Queria dar Lindóia por esposa / Ao seu Baldetta". Temos, então, a caracterização do índio, que diz: "Vinha o índio Cobé disforme e feio / Que sustenta nas mãos pesada maça, / Com que abate no campo os inimigos / Como abate a seara o rijo vento. / Traz consigo os salvages da montanha, Que comem os seus mortos; nem consentem / Que jamais lhes esconda a dura terra / No seu avaro seio o frio corpo /Do doce pai, ou suspirado amigo." Percebemos que o modo com o qual é mostrado refere à colonização por parte do branco, já que é dito como canibal, feio e disforme, além da tribo ser nomeada como selvagem, dando ao leitor a impressão do índio como sendo um animal e sem cultura. Porém, esse é o índio mestiço; o índio dito puro é reverenciado, como vemos em: "Num cavalo da cor da noite escura / Entrou na grande praça derradeiro / Tatu-Guaçu feroz, e vem guiando / Tropel confuso de cavaleria, / Que combate desordenadamente. / Trazem lanças nas mãos, e lhes defendem / Peles de monstros os seguros peitos.", sendo Tatu-Guaçu feroz e bravo, mantendo relíquias das suas caças sobre o peito e sendo acompanhando em seu "desfile" pelo padre e os demais presentes.
Em seguida, percebe-se que a noiva está desaparecida e seu irmão Caitutu a procura. Porém, "Cansada de viver, tinha escolhido / Para morrer a mísera Lindóia.", suicidando-se com uma serpente enrolada em seu corpo; porém é relatado que nem a morte tirara a doce beleza da jovem. Balda, sabendo do suicídio, não permite que velem pelo corpo de Lindóia, que "Ficou desamparada na espessura, E exposta às feras e às famintas aves, Sem que alguém se atrevesse a honrar seu corpo".
No final do canto, o autor pede para ser inspirado pelo gênio da América, como vemos nesta passagem: "Gênio da inculta América, que inspiras / A meu peito o furor que me transporta, Tu me levanta nas seguras asas. / Serás em paga ouvido no meu canto. E te prometo que pendente um dia / Adorne a minha lira os teus altares." Esse é um recurso também presente nas épicas antigas, já que os autores pediam para serem inspirados pelas musas para continuar o seu relato do feito heroico.
Thais Naufel Nogueira Martins - 7190228
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ResponderExcluir"O Uraguai", de Basílio da Gama, se constrói a partir dos moldes tradicionais da poesia épica, mas no entanto, representa as passagens clássicas em apenas 5 cantos, sendo o Canto IV, aquele em que se desenvolve a narrativa. O Canto IV tem como episódio central a morte de Lindóia e a crítica ao jesuíta Balda. O poema de Basílio da Gama defende a ideia de que por trás de uma suposta compaixão com os índios, os jesuítas escondiam seu verdadeiro interesse de tomar para si o poder, o que justifica a política de perseguição praticada por figuras como o Marquês de Pombal. No poema, o representante do governo português, o General Andrade, aparece como a figura do herói tradicional, enquanto que o padre Balda ocupa a posição de vilão dissimulado, desejando casar seu filho com a índia Lindóia, o que conferiria a este o prestígio do finado chefe indígena Cacombo, marido de Lindóia.
ResponderExcluirO índio, no poema, é retratado de maneira ambígua, aparecendo ora como gentio e bárbaro, ora como guerreiro e puro, em contraposição a isso, a protagonista Lindóia é retratada como a perfeita heroína europeia, remetendo inclusive a personagens históricos como a rainha Cleópatra. Lindóia, ao se ver coagida a um casamento de interesses forjado pelo jesuíta Balda, provoca sua própria morte para que assim possa se salvar da desonra e permanecer fiel ao seu amado Cacambo. A passagem lírica se destaca na obra pois reconhece na índia uma beleza genuína e a assemelha ao ideal europeu. Posteriormente se dá a fuga dos índios, que por influência de Balda, incendeiam toda a aldeia ao perceber a aproximação dos portugueses, e a chegada dos portugueses em meio às ruínas, com destaque para o segundo momento de lirismo na narrativa, a emoção dos portugueses perante a destruição do templo católico e a descrição da beleza do sagrado em meio ao caos.
Priscila Teixeira
6829586
Antonio Candido, sobre O Uraguai, de Basílio da Gama, afirma que "é erro considerá-la epopéia, não se devendo perder de vista que é, primeiramente, lírica; em seguida heróica; finalmente, didática". Nesse sentido podemos entender as afirmações de Hansen em "Notas sobre o Gênero Épico", que mostram a incapacidade de constituir o “heroísmo” num contexto de crescente valorização do capital e ainda que "As definições luso-brasileiras de epopéia dos séculos XVI, XVII e XVIII incluem-se na longa duração dos preceitos aristotélicos do gênero, mas expurgam o maravilhoso antigo”.
ResponderExcluirPodemos, ainda, pensar o lirismo do quarto canto, sobretudo quando da morte de Lindóia, quando o poema parece abandonar o tratamento bruto do tema – próprio da epopeia – e o índio parece ganhar um tratamento de igualdade, juntamente com a natureza. Há ainda a perceptível insatisfação dos indígenas em relação ao investimento jesuítico de imposição da cultura europeia.
Tendo em conta o conteúdo do canto IV, como o vemos desenvolvido, e as considerações de Candido e Hansen, contrastamos a epopeia de Basílio da Gama com as epopeias de Camões, Virgílio e Homero – embora Basílio busque inserir-se numa tradição ocidental, nota-se a dificuldade de traçar um perfil de nação para o Brasil da época, de modo que as exaltações ao povo vistas nos autores citados não ganha força em O Uraguai; no poema, ao contrário, oscilam a crítica aos jesuítas, a exaltação das tropas portuguesas e dos índios, embora estes últimos sejam criticados por certos rituais.
Acerca disso, Candido afirma: “(...) E aí está outro fator de abrandamento do espírito épico: o poema deixa de ser a celebração dum herói para tornar-se o estudo de uma situação. À Guerrilha do Sul, superpõe-se o próprio drama do choque de culturas”.
Referências:
"Notas sobre o gênero épico", de João Adolfo Hansen
CANDIDO, Antonio. “O disfarce épico de Basílio da Gama”. In: Formação da Literatura Brasileira: momentos decisivos, 1750-1880. Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, 2012 (pp. 131-140).
Umberto de Souza Cunha Neto - 6832090
O Uraguai é um poema escrito em decassílabos brancos, divididos em 5 cantos e apesar de não ter divisão em estrofes é possível perceber uma divisão em partes. O poema não usa a linguagem mitológica de maneira tradicional, fazendo uso de uma mitologia, nova, indígena. Uma inovação do poema foi tratar de um acontecimento recente da história do País.
ResponderExcluirO que domina por todo o poema é uma crítica aos jesuítas que na visão do narrador apenas se aproveitavam do trabalho indígena. O texto é permeado por ideias iluministas, vale lembrar aqui do período histórico, onde Marquês de Pombal é o supremo senhor.
A cena da morte de Lindóia faz parte do quarto canto do poema, este foi o eu achei de mais bela construção, demonstra elementos típicos do movimento árcade. De maneira geral neste canto são retratados os preparativos para o casamento entre Baldeta e Lindóia. No entanto ela, na cena está chorando a morte de seu marido Cacambo, e não quer se casar com Baldeta. A índia entra em um bosque e para não se casar deixa-se picar por uma cobra venenosa. Chegam os brancos, que cercam a aldeia. Os indios e os padres fogem antes porem os sacerdotes ordenam que queimem as casas e as igrejas.
Quando Balda descobriu o suícidio (o narrador chega a comparar Lindóia a Cleópatra), proíbe que esta seja velada, sepultada. E ordena que seu corpo seja deixado às feras. E quando Lindóia é encontrada morta o poeta deixou-nos versos de rara beleza que deste canto, talvez sejam um dos mais repetidos e belos:
"Inda conserva o pálido semblante
Um dia não sei que de magoado e triste
Que os corações mais duros enternece,
Tanto era bela no seu rosto a morte."
Nº USP 6831227 2ºHorário Manhã
Comentário feito por: Mayara Zola, nº USP 7191261 - matutino, 8h.
ResponderExcluirNo Canto Quarto de O Uraguai, é tratado a guerra e principalmente a morte de Lindóia. Esta morte é mais um sacrifício por parte da índia em tentar manter a honra de Cacambo (ex chefe da tribo, amor de Lindóia e morto para que Beldeta pudesse tornar-se chefe).
Lindóia morre por causa do veneno de uma serpente, em meio à natureza bucólica e não pode ser enterrada porque o padre Balda não deixa porque se tratar de um suicídio.
Lindóia, a descrição minuciosa dos índios e da natureza, nos faz relembrar de obras brasileiras que trataram os nativos de forma a se igualarem aos cavaleiros medievais, aos sacrifícios que os heróis românticos fazem e suas honras.
Então podemos pensar que a descrição da natureza e dos nativos do território brasileiro, é uma antecipação do que viria tornar-se popular na literatura do Brasil no século XIX; por exemplo: a beleza da mata, de Lindóia viva e até mesmo após a morte, nos faz lembrar das características da "Virgem dos lábios de mel", Iracema, heroína de José de Alencar.
O texto “O Uraguai”, de Basilio da Gama tem caráter épico, ou seja narra uma jornada. No Canto IV, a narração passa a ser sobre o casamento de Baldetta com Lindoia. Primeiramente é descrito uma espécie de cortejo, no qual os índios desfilam com suas pinturas, armas e com peles de animais que, em ato de bravura, um dia matara.
ResponderExcluirA descrição feita do índio ainda é daquele que é feroz e precisa ser ensinado, educado pelos portugueses, já que o narrador nota certa desordem no combate de Tatu-Guaçu, por exemplo.
Entretanto, em dado momento da cerimônio percebem a demora de Lindoia, que é encontrada por seu irmão sob a ameaça da morte, já que uma serpente está demasiadamente próxima de seu corpo. Neste momento Caitutu mata a serpente e ao tomar a irmã nos braçoes descobre seu suicídio, entretanto, neste momento a morte de Lindoia é descrita de maneira elevada, dando certa altivez à sua morte.
Neste momento percebemos como se dá a ação da tradição cristã no canto IV, pois o padre Balde proibe que Lindoia seja velada, pois o ato do suicídio é o que conhecemos como pecado de morte, que não tem perdão.
O climax do canto se encontra neste momento, que desencadeia a ação de Balda com relação à retirada da aldea, entretanto sem a deixar incólume, pois manda atear fogo no local. Ao fim, General Andrade, ao ver a situação que se encontra a Aldeia, enche-se de ira e contempla os destroços como se eles fizessem parte de uma obra de arte.
Isabela Dantas Noberto, 6831871, 2ºHorário
"O Uraguai" é uma tentativa de materializar o primeiro poema épico do povo brasileiro - que Basílio da Gama escreveu baseando-se, tanto estetica quanto tematicamente, em epopeias clássicas, como Eneida e Ilíada (tanto que em sua edição original, de 1769, havia uma epígrafe em latim retirada da Eneida, fazendo menção a como Hércules matou o gigante Caco).
ResponderExcluirO Canto Quarto se inicia após uma grande batalha:
"Salvas as tropas do noturno incêncio,
Aos povos se avizinha o grande Andrade,
Depois de afugentar os índios fortes
Que da subida dos montes defendiam,
E rotos muitas vezes e espalhados
Os tapes cavaleiros, que arremessam
Duas causas de morte em uma lança
E em largo giro todo o campo escrevem."
Belas e detalhadas descrições do local são pano de fundo para uma festa de casamento que deve ocorrer entre Lindóia e Baldetta, porém, a noiva não é encontrada num primeiro instante.
"Cansados de esperar, ao seu retiro
Vão muitos impacientes a buscá-la.
Estes de crespa Tanajura aprendem
Que entrara no jardim triste e chorosa,
Sem consentir que alguém a acompanhasse."
Caitutu, irmão de Lindóia, tem um pressentimento e, deixando os seus no campo, vai atrás de sua irmã, encontrando-a na parte mais remota de um antigo bosque, onde tinha ido para morrer:
"[...] escuro e negro,
Onde ao pé de uma lapa cavernosa
Cobre uma rouca fonte, que murmura,
Curva latada de jasmins e rosas."
Pode-se perceber que esse local é uma alusão à morte, dizendo ao leitor que a bela Lindóia já está morta. Caitutu vê que sobre o corpo de sua irmã há uma cobra, bem próxima a seu seio - Basílio da Gama, aqui, remete-nos à lembrança de Cleópatra, que se matou com uma picada de cobra no seio, remetendo-nos, também, a um período importante da história romana.
O que é óbvio acontece e uma tragédia tem lugar: Caitutu confirma a morte de sua irmã - seu suicídio (seus esforços para salvá-la de nada adiantaram), os índios anunciam a chegada do inimigo e o padre Balda, "[...] que de há muito espera o tempo e o modo de alta vingança [...]" proíbe o enterro Lindóia, além de condenar a velha Tanajura à morte, antes de bater em retirada:
"[...] Assim discorre Balda; e entanto ordena
Que todas as esquadras se retirem,
Dando as casas primeiro ao fogo, e o templo.
Partem deixando atada a triste velha
Dentro de uma choupana, e vingativo
Quis que or ela começasse o incêndio.
Ouviam-se de longe os altos gritos
Da miserável Tanajura. [...]"
O Canto Quarto termina com as tropas chegando aos Sete Povos da Missão e encontrando tudo em cinzas.
Aline Gomes de Moraes Ferreira - nº USP: 6830442
Em O Uraguai Basilio da Gama renova as tradições ao trabalhar, pela primeira vez no Brasil, uma epopeia nos moldes clássicos, mas fugindo desses mesmos. Assim, seus decassílabos, por exemplo, aparecem sem rima, apesar da sonoridade continuar presente internamente na obra. Além disso, Lindoia, cuja morte se dá no Canto IV é vista como a precursora da heroína romântica, que prefere a morte à entregar-se a um homem que nao seja seu amado, etc. O momento da morte de Lindoia, aliás, mostra mais claramente esse prenúncio do herói romântico, devido a alta liricidade e subjetividade do momento.
ResponderExcluirEm todo o poema, Basilio da Gama mostra-se ambíguo em relação a indíos e portugueses. Enquanto dá sinais de condenação à imagem do jesuíta, ele exalta as tropas portuguesas, mas também os indígenas, em mais um ponto de partida para o nacionalismo tipicamente romântico.
Isabela Leite Silva - nº USP 6829141
Em “Notas sobre o gênero épico”, Hansen faz uma longa reflexão sobre a epopéia, frisando características gerais do gênero, algumas específicas de determinadas obras e a relação dessas características com o momento histórico e valores da época. O autor ainda ressalta como a produção de tal gênero seria impossível nos dias de hoje, dado ao fato que a percepção de tempo, arte, realidade e sociedade drasticamente. Hoje, todas essas percepções são orientadas pelo o capital que de certa forma guia as relações humanas (de produção) e relativizando os valores. Segundo Hansen, levando em consideração a forma do gênero épico, sua pauta em valores absolutos e a estrutura social burguesa de atualmente, a epopéia não chamaria atenção do leitor atual.
ResponderExcluirAlém do mais, a valorização da arte também mudou de figura. Hoje enaltecemos um artista que seja original em seu trabalho. Nos séculos XVI, XVII e XVIII o artista baseava sua obra em alguma outra obra, com referências diretas a essa. E se valorizaria o artista por sua capacidade de trazer elementos da tradição dentro de moldes técnicos bem construidos. Hoje, com conceitos como ‘imitação’ e ‘plágio’, esse modelo de produção artística seria completamente rechaçada, pois o que se valoriza é o que o artista traz de original.
Marian Macêdo - 7191615
O Canto Quarto narra a consequência final do cerco contra a aldeia onde "reinava" o padre Balda: O seu incêndio e abandono. O eu-lírico faz questão destacar as motivações que levam o padre Balda a tomar essa decisão, e são eles todos torpes, mesquinhos e cruéis. A loucura e a covardia de Balda exaltam proporcionalmente a sabedoria e a coragem dos soldados portugueses e espanhóis, que ficam horrorizados ao descobrirem que nem o templo escapa da tentativa de destruição dos jesuítas e dos índios em fuga. Basílio da Gama, assim, marca mais uma vez com clareza que o conflito em Sete Povos das Missões não era contra a igreja e a fé, mas sim contra seus supostos usurpadores e aproveitadores: os jesuítas inimigos do Marquês do Pombal.
ResponderExcluirO sacrifício de Lindóia é o ponto alto deste canto e a exaltação maior do indígena maravilhoso no poema, que é incorporado ao mundo da épica que era até então controlado pelo fantástico mitológico ou cristão. Lindóia, a pouco viúva de Cacambo, se decide pelo suicídio após saber que Balda a casaria com Baldetta, filho do padre, tornando ela apenas num dos degraus rumo ao poder que Balda almejava. A decisão pelo suicídio é portanto uma decisão de resistência de uma mulher que além de se recusar a ser desposada por outro homem, também recusa desta forma o poder perverso dos jesuítas. Como é próprio do gênero épico, essa resistência é descrita da forma mais sublime e elevada possível. Esta resistência sacrificial e voluntariosa do indígena, levada ao extremo em O Uraguai com o suicídio de Lindóia, encontrará ecos nos autores do Romantismo brasileiro, o que fez com que por muito tempo a obra de Basílio da Gama fosse apontada como precursora do tema indianista do Romantismo brasileiro.
Mas é importante notar que, a escolha do mais clássico dos gêneros, e a tentativa de tornar o texto um relato fiel (ou oficial) dos conflitos entre o poder central e o poder paralelo dos jesuítas no Brasil acabam por tornando o sentido da obra um outro, muito distante do escolhido pelos românticos. Em Basílio da Gama, o indígena é heroico pois na épica mesmo o inimigo deve possuir virtudes, e seus equívocos são atribuídos ao inimigo político do poder central. No Romantismo, a escolha indígena vem reforçar o ideal de um nativo bravo e valoroso, resistente aos portugueses e portanto anunciadores da pátria que acabava de nascer.
Marlon Ribeiro Rodrigues - n° USP: 7192787 (1° horário)
O quarto canto do poema épico O Uraguai, de Basílio da Gama, abre-se com uma minuciosa descrição da natureza enquanto parte do cenário da luta. Meticuloso, Basílio descreve o cenário em versos muito bem trabalhados, característica de todo o poema.
ResponderExcluirEste canto conta o momento em Lindoia será entregue como noiva de Baldetta. Porém, quando se dá pela falta da índia, Caitutu, seu irmão, vai buscá-la. Neste momento, o eu-lírico relata como é a cena em que se encontra Lindoia morta: “Este lugar delicioso e triste, / Cansada e viver, como que dormia / Na branda relva e nas mimosas flores./ Tinha a face na mão e a mão no tronco/ De um fúnebre cipreste, que espalhava / Melancólica sombra. Mais de perto, / Descobrem que se enrolam no seu corpo / Verde serpente, e lhe passeia, e cinge / Perscoço e braços, e lhe lambe o seio.”
É interessante atentar para o fato de que temos aqui uma descrição quase romântica da índia, que jaz em uma posição de mulher em pintura, como se descansasse. Há também a descrição detalhada do corpo: a mão na face, por exemplo, assemelha-se a uma expressão de tristeza e choro. A serpente, que a envenenara, “passeia” pelo seu corpo. A imagem que se tem da passagem é delicada, demorada e melancólica.
Amanda Mattioli N. USP 6464937
O gênero épico se caracteriza pela apresentação de feitos heroicos. Hansen no início de seu ensaio “Notas sobre o gênero épico” discorre a respeito da “morte do gênero épico”. Segundo o autor, isso se deu, devidos aos princípios burgueses que impedem que a epopeia tenha espaço, uma vez que o dinheiro é o valor e, por isso, o heroísmo se torna “improvável e inverossímil”.
ResponderExcluirO autor discorre também a respeito dos conceitos de plágio e autoria, obviamente diferem do que são nos dias de hoje. As sociedades dos séculos XVI, XVII e XVIII, por não conhecerem o mercado dos bens culturais, não possuíam direitos autorais sobre suas obras, uma vez que os poemas circulavam na oralidade e em cópias manuscritas.
Ademais, a poesia antiga baseava-se na “imitação de autoridades”. O poema para ter sucesso, deveria basear-se no princípio da emulação, ou seja, o poeta deveria levar em consideração o que admira em outro poema e utilizar esses aspectos para criar, a partir disso, uma nova obra, a fim de superar a antiga. Desse modo, a emulação se difere totalmente da imitação, uma vez que emular não é roubar, pois na emulação o autor se apropria o texto de partida, mas não o copia, utilizando somente o que “causa prazer no destinatário”.
Camilla Maria Gonçalves Gouveia – Nº USP 7192300
O poema “O Uruguai” narra a luta pela posse da terra, travada no início de 1757, exaltando os feitos do General Gomes Freire de Andrade. O autor, Basílio da Gama, dedica o poema ao irmão do Marquês de Pombal, além disso, o poema épico critica drasticamente os jesuítas, alegando que os mesmos defendiam os direitos dos índios para serem eles mesmos seus senhores. O enredo de desenvolve em torno de expedicionários e da relação de amor e morte no reduto missioneiro. No canto IV, o poeta apresenta o avanço das forças luso-espanholas sobre a aldeia dos índios, onde se prepara o casamento de Baldeta e Lindóia. A moça, entretanto, prefere se entregar a morte a se entregar a outro homem, sendo assim acaba por se deixar picar por uma serpente. Caitutu, seu irmão, acerta com uma flecha a serpente depois de várias tentativas, para tentar salvar Lindóia, mas já era tarde. Quando as tropas chegaram à aldeia, percebem que tudo fora queimado e o poeta finaliza o canto invocando o "gênio" de inculta América para inspirá-lo a continuar a história.
ResponderExcluirMichelly Vital N. USP: 6518130
O Uraguai, poema épico de Basílio da Gama, escrito em decassílabos brancos, sem divisão de estrofes, a meu ver critica drasticamente os jesuítas, segundo ele os jesuítas apenas defendiam os direitos dos índios para ser eles mesmos seus senhores. O enredo situa-se todo em torno de acontecimentos de uma expedição e de um caso de amor e morte na região das missões.
ResponderExcluirO poema começa falando a respeito da vitória do grande herói Gomes Freire de Andrade, sobre os povos que viviam a margem do rio Uruguai. Depois a história retorna ao momento em que Andrade espera as conduções para transportar o armamento e de reforços prometido pela Espanha. Dando continuidade aos episódios, ate o canto V, o ultimo canto desse poema.
Falando precisamente do canto IV, este trata do momento em que as tropas portuguesas e espanholas avançam sobre a aldeia, que se prepara para o casamento de Baldeta, o filho do cacique assassinado, com Lindóia, a morte desta, como também da fuga dos índios, e destruição da aldeia por eles mesmos. Mas esse quarto canto se foca mais, no suicídio de Lindóia, que depois da morte do marido, alem de ficar muito deprimida, não queria se entregar a outro homem que lhe era imposto, por isso, deixa que uma cobra a pique num bosque “ escuro e negro”, contrastando com a beleza dela, e com o espaço onde ela morre, que antes iluminado, se torna escuro e de um tom fúnebre.
Lindóia se torna a principal vitima dessa cobiça dos jesuítas, portugueses e espanhóis.
Carla silva soares nº 6900505
A morte de Lindoia compõe o expoente trágico da epopeia que tenta criar o mito de formação do Brasil. A exemplo de grandes epopeias da tradição, como Os Lusíadas, Eneida e Ilíada esse canto reproduz a tragicidade que se encontra no cerne da origem nacional.
ResponderExcluirNo caso de O Uraguai, esse mito esta voltado pela fusão da cultura indígena e crista, por isso percebesse nitidamente a referência ao mito de origem do homem, com Adão e Eva. A cena da morte da índia ocorre depois da citação de Adão.. "Que o bom Pai Adão a triste raça\ Por degraus degenera, e que neste mundo piorando envelhece"... e na sequencia em que se apresenta a visão de Lindoia morta, e a serpente que ocupa o simbolo da morte.
E como se o Brasil nascesse da união entre o índio, os jesuítas e o sofrimento ocasionado pela morte que contem essa união. Para se formar o Brasil foi necessária tal união, que por si só comporta o sofrimento, já que a cultura de um sobrepõe a outra.
Jussara Victória Fernandes