Boa tarde, alunos de LB 5,
Esta postagem abre comentários para as aulas de 13 e 14 de junho.
Os textos a serem lidos para a próxima semana são:
- O Uraguai, de Basílio da Gama;
- e "Notas sobre o gênero épico", de João Adolfo Hansen.
Bom fim de semana.
Em seu texto “Notas sobre o Gênero Épico”, o professor João Adolfo Hansen faz alguns recortes sobre tais narrativas, mas o que de maneira mais incisiva me veio aos olhos, é o que toca à uma certa conotação anacrônica que tal gênero tomou após o século XVIII.
ResponderExcluirDeve-se ter em mente que as narrativas épicas narram a ação histórica de tipos singulares que dotados de princípios ilustres destacam-se dos demais seres. Dentre esses princípios o professor destaca: força guerreira, soberania judaico-religiosa e virtude fecunda. Por sua vez, no século XVIII, através do princípio da livre-concorrência burguesa, o heroísmo torna-se algo inverossímil, uma vez que o dinheiro nivela e universaliza os valores.
Na epopeia, os leitores estabelecem uma comunicação fictícia com as ações narradas. Segundo o professor Hansen tal feita deve-se: “em seu tempo, a epopeia constituía a mundaneidade de seu mundo como arte que punha em cena as figuras relevantes da experiência do passado e da expectativa de futuro. Para encená-las, o poeta imitava opiniões consideradas verdadeiras nos campos semânticos das atividades discursivas e não discursivas do todo social objetivo definido como “corpo místico” de estamentos subordinados ao rei num pacto de sujeição.” Assim sendo, se tal comunicação não faz parte do decoro adequado ao senso comum e ao “corpo místico”, a narrativa passa a ser vista de maneira puramente imitativa e, por muitas vezes, anacrônica.
O que acontece a partir da segunda metade do século XVIII é que a “opinião pública”, que funcionava como uma pedra fundamental para a criação e desenvolvimento das narrativas desse gênero, arma-se de atributos representativos e subjetivos, além de obter livre iniciativa para desenvolver sua crítica, atribuindo-se assim características mais democráticas e menos estamentais. Tal feita vai em contraponto ao que diz o professor Hansen, ao elucidar os pressupostos das narrativas feitas em gênero épico, dizendo: “ As epopeias pressupõem e põem em cena o corporativismo característico da hierarquia de sociedades de corte; o ponto de vista encenado na sua enunciação não é moldado por características liberais, expressivas ou psicologicamente subjetivadas, mas é a perspectiva de um tipo com autoridade simbólica, ou o autor , conformado como racionalidade técnica no “eu” do narrador situado e subordinado objetivamente na hierarquia como instrumento de representação de outros tipos compostos por paixões e caracteres precodificados e também subordinados à mesma hierarquia.”
Podemos ver, pois, que as novas epopeias ( as escritas após a segunda metade do século XVIII) não tratam da “memória do costume” e, dessa maneira , estabelecem apenas um simulacro entre o que já é e o que deve ser. É justamente neste ponto que a originalidade existente em obras como por exemplo, “O Uraguai” são contestadas: “A novidade antiga efetua o retorno de todo o sistema retórico-poético de preceitos na nova espécie produzida de formas já conhecidas. Não há originalidade em Prosopopéia, Vila Rica, O Uraguai e Caramuru, no sentido iluminista –romântico do termo, pois a autoridade do costume mimético é total.”
Adriano Mariussi Baumruck – N. USP: 7191765 (turma de quinta e sexta-feira: 08 – 10 hs)
Com a utilização da forma épica, Basílio da Gama retoma em seu poema diversas características do gênero, que colaboram para a relação entre a forma e a estrutura da obra. O épico inclui a exaltação de feitos heróicos de datas passadas, o olhar sob os ‘grandes feitos’, a construção de um mito ou uma nação por meio da poesia. Basílio aplica algumas bases da épica: a estrutura em cantos, a figuração de uma batalha, o começo do poema já com a ação em desenvolvimento, e até cita Tróia e Ulisses em seu poema. Porém vemos que o poema se desvia ligeiramente dos preceitos épicos: há, no desenrolar dos seus cantos, uma valorização da figura indígena como lutadora, e há em diversas ocasiões a presença da lírica.
ResponderExcluirO tema da batalha que percorre o Uraguai, centrada na disputa de europeus e índios, o coloca na definição de ‘poema narrativo de assunto entre épico e político, banhado por um lirismo terno ou heróico que permite ver com simpatia a vida do índio brasileiro’, como apontado por Antonio Candido no ensaio ‘A dois séculos d’o Uraguai’, presente em Vários Escritos. A integração da história-gênero, a mistura do fictício dos personagens e a fantasia aplicada não colocam o Uraguai como um épico, mas sim como uma possível quebra do gênero, enquanto representativo de temas mais próximos à realidade da época, como o encontro de culturas, que ainda representa matéria frutífera para a literatura.
Mariana Ancelani Ribeiro (nº USP 7192492)
O Uraguai - Basílio da Gama
ResponderExcluirPelo Tratado de Madri, celebrado entre os reis de Portugal e Espanha, as terras ocupadas pelos jesuítas, no Uruguai, deveriam passar da Espanha para Portugal. Os portugueses ficariam com Sete Povos das Missões e os espanhóis, com a Colônia do Sacramento. Sete Povos era habitada por índios e dirigida por jesuítas que organizaram a resistência à pretensão dos portugueses. O poema de Basílio da Gama narra o que foi a luta pela posse da terra, travada em meados de 1757.
O poema é divido em cinco cantos, o que contraria o esquema camoniano de dez cantos. A obra é descrita em decassílabos brancos, sem divisão em estrofes, mas é possível perceber a sua divisão em partes: proposição, invocação, dedicatória, narrativa e epílogo. Há o abandono da linguagem mitológica, com a incorporação do maravilhoso, apoiado na mitologia indígena. Foge portanto, do esquema clássico português que tem na obra "Os Lusíadas" um modelo épico a ser seguido.
Por todo o texto, perpassa o propósito de ataque aos jesuítas, que domina toda a elaboração do poema. Apesar dessa intenção ostensiva "antijesuítica" para obter as graças do Marquês de Pombal, a análise do poema revela o intuito de descrever o conflito entre a ordenação racional da Europa e o primitivismo do índio, uma vez que o índio passa a ser incorporado como tema literário.
Variedade, fluidez, colorido, sínteses admiráveis caracterizam os decassílabos do poema, que passará ser o modelo dos românticos. Em todo o poema há uma sensibilidade plástica, onde o autor recria o cenário natural sem que a notação do detalhe prejudique a ordem da descrição.
Outra característica visível é que o poema deixa de ser a celebração de um herói para tornar-se o estudo de uma situação de choque entre culturas opostas. Há uma simpatia pelo índio, que acaba superando o guerreiro português. Como filho da simples natureza, ele aparece não só por ser elemento esteticamente mais sugestivo, mas por ser uma concessão ao maravilhoso da época. Por isso durante todo o romantismo, Basílio da Gama foi um dos nomes mais frequentes, quando se tratava de apontar percussores da literatura nacional. Entretanto, devemos distinguir nesse poeta o nativismo do interesse exterior pela exótico, que é predominante, pois o indianismo não foi para ele uma vivência, foi antes um tema arcádico transposto em linguagem pitoresca.
Basílio foi poeta revolucionário com seu poema épico. Sem transgredir grosseiramente a disciplina clássica, moveu-se nela com maior liberdade estética e intelectual, levando à Europa o testemunho do mundo novo.
Maria Carolina Soares Tenucci: 7191894 - 1o. horário
Em “Notas sobre o gênero épico”, João Adolfo Hansen aborda algumas características das épicas. Chama a atenção a categorização inicial da epopeia como gênero já morto, apesar das tentativas românticas de recuperá-la. Tal trecho é esclarecedor para quem deseja entender o interesse do arcadismo, e romantismo, por tal gênero. Hansen explica o fato dizendo que, a partir da segunda metade do século XVIII, com a universalização do princípio da livre-concorrência burguesa, a epopeia tem sua morte decretada, pois, o heroísmo se torna “improvável” e “inverossímil” “quando o dinheiro é o equivalente universal de todos os valores”. O autor diz que, em seu tempo, a epopeia “constituía a mundaneidade de seu mundo”, pondo em cena figuras relevantes do passado e da expectativa de futuro. Pensando nisso, e sabendo que o gênero narra ações heroicas fundadas em princípios absolutos, pode-se entender por que, em tempos que visavam tratar de questões nacionais, como ocorre de modo tímido no período árcade e evidente no romantismo, o gênero tenha sido retomado. A retratação das ações “heróicas” passadas e de expectativas futuras casam bem com um projeto nacionalista, como o romântico, por exemplo, que objetivava explicar o que era o Brasil, país recém-independente, para o povo, contribuindo, de alguma forma, para a construção da ideia de nação.
ResponderExcluir(Mariana Borrasca Ferreira 7191786)
Em “Notas sobre o gênero épico”, o prof. Hansen propõe que a epopeia seja lida nas chaves e conceitos que regeram sua enunciação, uma vez que, durante o período em que o gênero épico vicejou – isto é, “enquanto duraram as instituições do mundo antigo” (p.17) ou, mais precisamente, “até a segunda metade do século XVIII” (p.19) – “os códigos da poesia foram retóricos, imitativos e prescritivos” (idem); assinala-se que a poesia teve outros códigos posteriormente. Tal atitude frente ao gênero, a meu ver, ecoa a maneira através da qual temos lidado com a produção literária do Brasil Colônia, de forma geral: a tentativa de depreender o sentido de tais produções buscando compreender as práticas e as maneiras de pensar daqueles que as compuseram, e como as mesmas estariam inseridas em tais lógicas. A análise da prática social envolvida nos processos de construção das obras se relaciona com o tratamento “arqueológico” (cf. 18) dado por Hansen à épica e, dessa forma, as mudanças sofridas pelo gênero no decorrer de sua existência configuram-se como sinais da transformação da sociedade e de suas categorias políticas e sociais; como exemplo, “antes dos decretos do Concílio de Trento, o heroísmo era simplesmente a virtude do heroi; depois deles, todas as virtudes católicas são consideras heroicas, por isso o amor é considerado uma virtude tão heroica quanto a guerra” (p.32).
ResponderExcluirJúlia Maria Andrade de Melo Ignácio - 6831398
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBasílio da Gama, no poema "O Uraguai", escrito em 1769, nos oferece uma preciosa variedade de informações quanto ao modo de lutar, viver e pensar das pessoas que viviam em áreas fronteiriças entre a colônia portuguesa e espanhola. Sua obra se baseia nos combates desenrolados em meados do século XVIII, entre missões jesuíticas e tropas de Portugal e Espanha, nos diálogos de governantes e encarregados, locais e da metrópole. Apresenta, assim, o encontro das duas nações como essencialmente harmônico.
ResponderExcluirO ambiente tropical tem grande relevância, como mostra a passagem em que o personagem Cacambo é carregado pelo rio até a borda oposta, na qual se encontravam acampados os portugueses, seus inimigos de batalha. A natureza não é constituída de simples traços objetivos, mas ganha profundidade e encanto, indicando aproximação com o estilo literário que terá domínio no século XIX, o Romantismo. Também podemos notar que a natureza não tida mais como intocada, mas construída e interagida por Deus e pelo homem.
O Uraguai é de fundamental importância para que possamos compreender o homem setecentista, assim como para nos esclarecermos do fluxo e refluxo de significações tomadas por conceitos como o de “identidade americana” ou “brasileira”.
Eleonora Nunes Mioto (7192512)
“O Uraguai”, poema épico de 1769, foi composto em versos decassílabos brancos e dividido em cinco cantos. Abandona a linguagem mitológica, mas ainda adota o maravilhoso, apoiado na mitologia indígena. Retrata a guerra travada por portugueses e espanhóis contra índios e jesuítas pela conquista da Colônia de Sete Povos das Missões, na região do Uruguai [ou Uraguai].
ResponderExcluirA simpatia pelo índio acaba superando o espírito do guerreiro português, que era preciso exaltar, e o jesuíta, que era preciso desmoralizar. Como filho da “simples natureza”, ele aparece não só por ser o elemento esteticamente mais sugestivo, mas por ser uma concessão ao maravilhoso da poesia épica.
O poema, além de contar a expedição do Governador do Rio de Janeiro às Missões Jesuíticas do Sul da América Latina (os Sete Povos do Uruguai), é também um canto de louvor à política de perseguição do Marquês de Pombal aos missionários. Tem dedicatória ao Ministro da Marinha, Mendonça Furtado, irmão de Pombal, que trabalhou na demarcação dos limites setentrionais entre Brasil e América Espanhola, cumprindo o Tratado de Madri (1750), que corrigia a demarcação entre as Américas espanhola e portuguesa, firmada pelo Tordesilhas.
São exatamente esses litígios de fronteiras, somados ao heroísmo dos índios e a crítica à Companhia de Jesus que dão o tom de "O Uraguai".
Ligia Helena Lovatti (n° USP: 6834276)
O poema é longo, em versos brancos, todo construído com hipérbatos. O poema se espelha em uma tradição dos poemas épicos gregos, O Uraguaia é um poema épico, começa em média res (como a Ilíada) e o poeta invoca a Musa, para que juntos, contem a história dessa guerra e com ela, honrem o povo com a memória dos feitos do herói. Logo no inicio a palavra fumam abre o poema fazendo referencia aos incêndios provocados pelos padres e índios, e com a expressão lagos de sangue, já alertando sobre as mortes, e o cenário que será descrito ao longo do poema. São citados no poema Tróia e Ulisses.
ResponderExcluirOs índios são retratados como inocentes selvagens, que precisam do auxílio dos reis para alcançar a verdadeira liberdade, já que estão na condição de escravos subjugados pelos padres, estes aparecem retratados como monstros, traidores, desamparando os miseráveis índios. Os padres também aparecem desrespeitando as tradições indígenas, quando ocultam o cadáver do herói Cacambo e este fica sem as honras de régio funeral, sem contar, que o herói é privado do amor da pobre Lindóia, pelas constantes artimanhas do padre. O poema irá descrever a visionária Tanajura, que fara a previsão por meio das águas, como os oráculos gregos que revelavam o futuro. A figura do conquistador que representa os reis, tem toda uma conotação positiva ao longo do poema.
O texto de João Adolfo Hansen sobre o gênero épico é de difícil leitura. Embora com um título pouco ambicioso, “Notas sobre o Gênero Épico”, Hansen faz um passeio pela história do gênero, resumindo textos teóricos e citando autores. Por exemplo, tudo que Aristóteles escreve de mais importante sobre o assunto, em sua Poética, está resumido em dois parágrafos do texto (pp 26 e 27). As informações são, certamente, valiosas e possibilitarão estudos futuros.
ResponderExcluirNum convite inicial de leitura, ele propõe, a seu leitor, uma leitura da epopeia como “objeto histórico”, a fim de se reduzir a estranheza causada pela distância que o separa dos textos originais. Isso faz sentido e para tal, as informações que o texto fornece serão muito úteis. Mas o caminho é longo. Num primeiro momento, nas primeiras leituras, o simples estranhamento da forma não seria fator instigante e enriquecedor? A leitura sensível também está sendo levada em conta? Podemos falar em uma possível leitura sensível dentro do nosso contexto atual?
Marcia Christina Leal Rigonatto (nusp 1407429)
Chama a atenção em O Uraguai, de Basílio da Gama, o enraizamento histórico da fábula apresentada, a qual faz referência à retomada de poder de portugueses e espanhóis frente aos grupos indígenas que estavam sob a égide dos jesuítas, grupo este que assume um papel antagônico durante a obra. Tal retomada de poder se tornara plausível após um acordo estabelecido entre as nações ibéricas, Portugal e Espanha, conhecido como Tratado de Madri, datado de 1750, que estabelecia regras claras de partilha dos territórios entre estas nações.
ResponderExcluirA mobilização de um contexto histórico dentro do gênero épico, segundo João Adolfo Hansen, convém para fazer valer certos liames de verossimilhança: “a epopéia ensina o amor das virtudes do herói e seria inverossímil, pouco ou nada persuasivo, propor como modelo de virtude um herói inexistente e ações que nunca ocorreram”(Hansen, “Notas sobre o gênero épico”, p. 44).
Eventos como a guerra de Troia, as navegações seiscentistas, dentre outros, são levantados pelo crítico em defesa desta hipótese, sugerindo que toda grande épica teria fortes bases históricas. Nesse sentido, não é à toa que Basílio, que procurou seguir diversos preceitos do gênero, também construa seu texto tomando por base um evento real e exaltando figuras históricas como Marquês de Pombal.
No entanto, aliado a este enlace histórico próprio da epopéia, existe também um fator mítico que rege as ações dos heróis épicos. Em Homero, o panteão grego, em Dante e Camões, misto de Deuses gregos e o mito cristão. Ora, é neste momento que se verifica um traço peculiar da épica O Uraguai, uma vez que é configurado um quadro místico pautado em entidades e saberes indígenas. Não por acaso, os românticos, no afã de pintar uma cor local do país e estabelecer um cânone literário baseado nesta sanha, elegem Basílio como um dos grandes autores a serem lembrados.
Guilherme Fernandes, N. USP 6464173, matutino, segundo horário.
Me agradou muito a qualidade do trabalho de João Adolfo Hansem sobre o gênero épico. Se pautando em vários exemplos do cânone explica (e exemplifica) muito detalhadamente as principais características do gênero tecendo uma ligação muito bem sucedida entre os clássicos greco-romanos e as epopeias dos séculos XVI XVII e XVIII.
ResponderExcluirAchei muito interessante observar que apesar de trazer muitos dos princípios aristotélicos para as obras dos três séculos acima citados, é bem evidente certas mudanças concedidas, principalmente no que diz respeito aos valores empregados na fábula (e nos heróis), sendo estes atualizados para os princípios dogmáticos da igreja católica.
Luiz Fernando Pierotti - 6835829
Em Notas Sobre o Gênero Épico, Hansen fala sobra como a epopéia pode ser tratada hoje, de uma maneira arqueológica, sendo tida como um artefato histórico, servindo esse gênero não aos fatos empíricos, mas aos pseudo-referenciais, representando a epopéia uma forma dos grandes feitos dos passado e a expectativa do futuro.
ResponderExcluirPara ilustrar como o gênero épico se sucedeu para o público luso-brasileiro Hansem afirma que em Prosopopéia, Vila Rica, Uruguai e Caramuru não há originalidade, sendo obras miméticas, no entanto sem emulação.
Somado a isto, na tríade público-obra-autor, há uma quebra no papel do público, pois este não é o mesmo pressuposto daqueles que leem as obras históricas literárias do gênero épico, falta uma opinião pública
Para especificar o gênero, Hansen faz as devidas definições, mostrando que mesmo seu escopo contém variações, apontando para a oposição oralidade e leitura, e os primeiros preceitos da elaboração remontando à Poética de Aristóteles.
Um item primordial da epopéia é o prazer decorente da admiração das coisas feitas, mas sua acepção varia com os autores.
Dentre as epopéias luso brasileiras, o estilo de obras como Uruguai se mostra com longas notas, simplicidade grave e argumentos históricos, em contra partida, apesar das suas qualidades da obra, o público do séc. XVIII não foi promissor.
Viviane Urbano de Araújo, Nº USP 5930192
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirTalvez seja interessante ressaltar a abordagem colocada por Hansen em “notas sobre o gênero épico”. Logo de início, Hansen propõe uma leitura “arqueológica” das epopeias, resgatando através do estudo do gênero, as operações historicamente presentes nas epopeias. Tal leitura é talvez até imposta pelo próprio poema posto que se entenda a Épica, por causa da emulação, como gênero acumulativo em que cada epopeia resgata em sua produção todas as grandes epopeias anteriores da qual ela emula. Alguns pontos introdutórios do texto de Hansen podem até ser ligados a outras discussões feitas ao longo do curso como a própria emulação e o conceito de auctor. A emulação, tratando da imitação daquilo que se admira nas obras anteriores reorganizando em uma nova articulação que competirá com elas, também se colocando como modelo a ser emulado. Dentro desta lógica, poemas como o Uruguai retomam toda uma tradição, pegando em cada um deles aquilo que de melhor se articula na nova produção. Isto se assemelha as discussões sobre os poemas dos árcades Claudio Manuel da Costa e Tomás Antonio Gonzaga, em que os autores talvez não representassem um momento de ruptura pois trabalhavam com tópicas já bem constituídas pela tradição clássica. Também se pode conectar com as discussões feitas até mesmo sobre Gregório de Matos, poeta cuja autoria ainda é tema muito discutido. È interessante a idéia de que, diferente da lógica atual sobre autoria, no período colonial, a figura do auctor transformava tanto locutor – no caso da epopéia, narrador – como destinatário, subordinados a uma autoridade representada pelo “corpo místico”, como colocado por Hansen.
ResponderExcluirMAYRA DA SILVA MORAES SANTOS NºUSP: 6832893
No início de “Notas sobre o Gênero Épico”, o professor João Adolfo Hansen descreve a noção de autoria vigente nos séculos XVI, XVII e XVII, quando o espírito que movia os poetas era o de emulação. Em um mundo prévio ao capitalismo, à noção de bens culturais, o conceito de originalidade que conhecemos e apreciamos hoje não era o valor da época. Como já discutimos em sala durante as aulas sobre Gregório de Matos, cabia ao poeta daquele tempo imitar poetas anteriores, e imitar bem, com variações mais engenhosas (agudeza) dos predicados de outrora. Nesse contexto anacrônico, de mimetismo, Hansen aponta que não há originalidade em “O Uruguai”, que – não à toa, portanto – começa com uma epígrafe da “Eneida”, de Virgílio.
ResponderExcluirAlém do caráter mimético em relação a poetas anteriores, a epopeia ainda é uma imitação de um momento histórico. Em “O Uruguai”, Basílio da Gama retrata as expedições de Gomes Freire de Andrade (então governador do Rio de Janeiro) no Rio Grande, onde havia conflitos entre jesuítas, índios, europeus e portugueses por conta das cláusulas do Tratado de Madrid.
João Adolfo Hansen retoma definições do gênero épico ao longo da História e diferencia a epopeia da descrição histórica ao passo que posiciona, de acordo com Aristóteles, “a história como coisa representada e a poesia, coisa representante”. A epopeia tem como objetivo enaltecer um personagem histórico, elevar tal personagem ao posto de herói. É o que Basílio da Gama faz com o governador Gomes Freire de Andrade em seu texto, enquanto os jesuítas aparecem como os grandes vilões. Interessante perceber que aqui os índios já não são vistos mais como inimigos, não são perseguidos – poderíamos dizer que é uma questão pré-romântica?
No entanto, o professor Hansen também trabalha a questão do público leitor em seu texto. É importante notar que a poesia dos séculos XVI, XVII e XVII estão subordinadas à hierarquia e aos costumes de sua época . “Quando o poema épico é apropriado por públicos empíricos de diversas competências também subordinadas às normas hierárquicas do “bem comum” e do “corpo místico” do Estado, como as que são representadas nas posições do narrador e do destinatário, a recepção modela-se prescritivamente. “
Paralelamente, importante notar também o contexto histórico do autor, que foi muito perseguido por sua formação jesuítica. “O Uruguai” me parece uma espécie de redenção do autor frente à política de Pombal, à política contra os jesuítas. Sob esse ponto de vista, a questão do enaltecimento dos índios na poesia de Basílio da Gama parece vir justamente em detrimento da imagem das missões jesuíticas no sul do país.
Enfim, como o professor Hansen antecipou (ref. anacronismo), devo dizer que foi uma leitura bem difícil.
Stephanie C. L. Fernandes - #USP 6830309 - matutino (10h)
A épica, por tratar-se de feitos heróicos, não tem espaço em um mundo regido pelo capital e pelos valores burgueses, como constata João Adolfo Hansen em "Notas sobre o gênero épico". De fato, a imitação (engenhosa) dos modelos antigos revela um modo de pensar aristocrático, hierárquico (do qual a divisão mesma em "gênero elevado" e "gênero baixo", por exemplo, já é uma mostra). O herói não é um indivíduo com uma psicologia própria (personagem possível apenas em um mundo com valores burgueses), mas, antes, membro do "corpo místico" do Estado, e com aderência aos valores já dados de seu mundo.
ResponderExcluirO que vemos ocorrer na épica luso-brasileira dos séculos XVI ao XVIII, no entanto, não se encaixa na construção do herói das épicas do mundo antigo e nem dos personagens da futura sociedade burguesa (estabelecida principalmente a partir do século XIX): se no mundo antigo predominavam os mitos pagãos, as epopéias luso-brasileiras se moldavam à moral cristã; se na sociedade burguesa haverá o indivíduo delimitado e em conflito com seu contexto, isso ainda não se nota nas obras desse mundo pré-burguês. Nas épicas modernas, a moral cristã aparece na constituição do herói: "As virtudes mais adequadas ao caráter do herói são a humanidade, a generosidade, a prudência, a força e principalmente o valor guerreiro, pois toda epopéia deve conformar-se ao decoro militar" (HANSEN, pp.59-60). Outra diferença importante das epopéias modernas e antigas é o uso da história, dos fatos para a constituição da fábula - se na épica antiga dava-se um lugar maior para o mito, para o fictício (para fins de entretenimento do público), nas epopéias modernas atém-se mais à história. Inclusive há uso de notas explicativas, característica de obras que foram escritas para serem lidas, e não ouvidas, como eram no mundo antigo.
Camila Girotto - 6478821
Em "Notas sobre o gênero épico", Hansen nos apresenta o conceito de épica e como as concepções desse tipo de obra foram sendo moldadas segundo o período histórico na qual era produzida.
ResponderExcluirRelembrando as aulas de Estudos Clássicos do primeiro ano, a épica é um gênero que se caracteriza, entre outros aspectos, pelo fato de narrar uma viagem (como a Odisseia) ou uma guerra (como a Ilíada). Na época homérica, estava claro que não existia um autor na sua singularidade, posto que ele era inspirado por musas para compor o texto.
Hansen, aliás, insiste na ideia de que mesmo no Brasil dos séculos XVI,XVII E XVIII não se pode falar em singularidade autoral ou subjetividade. Se outrora os grandes autores eram inspirados pelas musas, no Brasil de então as inspirações vinham por parte de Deus. Não se podia falar, tampouco, em originalidade, posto que o gênero épico é justamente um jogo de apreensão e emulação de modelos anteriores.
Produzir uma épica sempre foi de grande prestígio, tanto por parte de quem a escreve quanto para o país na qual é produzida. No Brasil, não faltaram tentativas para consolidar uma epopeia que estivesse à altura dos grandes acontecimentos históricos brasileiros. E Basílio da Gama foi um desses autores que se empenharam em produzir uma epopeia nacional, emulando o modelo camoniano e sendo inspirado pela figura divina.
A diferença fundamental de O Uraguai e a Odisseia, por exemplo, é que, enquanto este trata de um evento que durou 20 anos não possui data fixa, aquele trata de um evento mais curto, possui data e local muito bem especificados. Enquanto a épica homérica empenhava-se em criar uma história fictícia que pudesse servir de algum ensinamento moral à população, O Uraguai baseia-se em eventos históricos concretos, a fim de imortalizar passagens importantes da história brasieira.
Aline Vieira de Sousa - 7194639
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir