Boa tarde, alunos de LB V,
Os textos a serem lidos para a semana que vem são os seguintes:
- CANDIDO, Antonio. No limiar do novo estilo: Cláudio Manuel da Costa. In: Formação da literatura brasileira - Momentos Decisivos 1750 a 1880. 12.
ed. Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul; São Paulo: FAPESP, 2009, p. 88-108. e 2;
- COSTA, Cláudio Manuel da. Vila Rica.
Canto IV, versos 1-92.
O segundo texto pode ser encontrado no link a seguir: https://dl.dropboxusercontent.com/u/78545101/Vila%20Rica%20-%20IV%20%281%29.pdf
Sintam-se à vontade para comentar os textos da terceira parte do curso, a partir desta postagem.
Bom fim de semana a todos.
Como Antonio Candido observa no capítulo de “Formação da Literatura Brasileira” dedicado a Cláudio Manuel da Costa, podemos perceber que na obra desse autor há certo “amor localista” / “invocação do berço”. Em “Vila Rica”, é observável essa questão, na medida em que se trata de um poema épico – forma clássica – que trata de questões locais, legitimamente brasileiras. Entretanto, observa Candido, o poema é composto “segundo exigências da naturalidade”, com estrofes irregulares, que pode ser visto como outro dado da particularidade do poema e do poeta. A “celebração da pátria” fica, ainda, bem evidente logo nos primeiros versos do poema: o Herói referido corresponde ao chefe da expedição; Pegado é personagem importante no poema, assim como na realidade, tendo contribuído para a fundação de algumas cidades.
ResponderExcluirAlém da questão da pátria, outro aspecto muito interessante no poema está situado na última estrofe, quando é descoberta uma sepultura, supostamente de D. Rodrigo de Castelo Branco. A cena lembra os martírios cristãos, na medida em que a cruz é reconhecida e serve como memória do morto, que é elevado, reconhecido como aquele que sacrificou a vida pelo Rei e que, por isso, tem sua sepultura honrada com a cruz.
Sendo o martírio um elemento importante de consagração do território, há uma volta à questão da pátria, que se faz, então, consagrada. E assim como o mártir jesuíta serve como exemplo aos outros de sua ordem, o mártir no poema é um exemplo a outros desbravadores/heróis.
Beatriz C. Pollo - Nº USP: 7192193
A crítica de Antonio Cândido ao poema Vila Rica de Claudio Manuel da Costa é contundente: “poema fastidioso e medíocre, abaixo de tudo quanto fez”. Sua avaliação fundamenta-se, primeiramente, em valores estéticos. Ele aponta que o poeta, embora empenhado em compor com naturalidade, adotou os decassílabos emparelhados, “inviável” na métrica portuguesa, levando à monotonia e frouxidão. A “herança cultista” do poeta, igualmente, não permitiu que ele inovasse. Enfim, ele considera Vila Rica um “erro poético”
ResponderExcluirEm segundo lugar, o crítico compara Vila Rica com o Uruguai de Basílio da Gama, quanto a temática brasileira, e destaca versos muito semelhantes. Essa comparação é claramente desfavorável a Claudio Manuel da Costa.
Outro aspecto apontado por A. Candido é a amargura do poeta por sua obra ter tido pouca repercussão e ter escolhido a epopeia nativista para alcançar fama, o que exemplifica com trechos dos poemas do autor.
Sem entrar nas questões estéticas e de qualidade da obra comparativamente às do período,ou psicológicas, destacam-se alguns versos do poema Vila Rica que indicam sua ligação com uma prática poética de um momento histórico.
Exemplificando com o Canto IV, observa-se que estão incorporados nos versos elementos brasileiros, como o índio e a sucuri, e portugueses, como os bandeirantes, as autoridades portuguesas (o poema foi dedicado sua obra ao Senhor Gomes Freire de Andrade, Conde de Bobadela) e à coroa portuguesa:
Sobra ao bom General, sobra a Rodrigo
Da nua areia o mísero jazigo;
A vida pelo Rei sacrificada
Basta a deixar a sepultura honrada!
Traz elementos que o inserem em um contexto histórico de exploração colonial:
Os sertões, pela margem se espalhavam
À direita do Rio e se empregavam
Em socavar a terra, em diligência
Do metal de que têm verde experiência.
Assim, pode-se considerar não só o valor estético do poema, mas seu sentido histórico, unindo temática à forma.
Mariana Prado de Andrade - No. USP 1297741
Antonio Candido topicaliza sua análise sobre a obra do poeta em quatro blocos distintos; "A terra sob o tópico", "O artesão", "Polifemo", e "A naturalidade e a polis". Entendendo que o objetivo destes nossos comentários seja justamente levantar questões polêmicas ou paradoxais para discussão em sala de aula, fico com o primeiro dos blocos, "A terra sob o tópico", fundamental na minha visão para entender-se a formação e as motivações do poeta. Candido inicia a análise com um paradoxo: "De todos os poetas "mineiros" talvez seja ele o mais profundamente preso às emoções e valores da terra, embora uma inspeção superficial da sua obra possa sugerir o contrário. [...] fazendo coexistir com o bairrista mineiro um afetado coimbrão". Reveladora também a questão da "imaginação de pedra", algo previsível em tratando-se das Minas Gerais, mas que na obra de Cláudio tem função geográfica, "Quando quer localizar um personagem, é perto, ou sobre uma rocha que o situa" :
ResponderExcluirAqui entre estas penhas à porfia
Hei de chorar, Amigo, a tua morte.
(Ecl. XI)
Aqui sobre esta penha, onde murmura
A onda mais quebrada...
(Ecl. IV)
Candido nos dá ainda inúmeros outros exemplo desta presença na obra de Cláudio (aproximadamente em 1/4 de sua obra...) e também registra que "se na maioria dos poemas pastoris, desde a Antiguidade, tem por cenário prados e ribeiras, nos de Cláudio, há vultosa proporção de montes e vales, mostrando que a imaginação não se apartava da terra natal [...]". Outra marca na obra do poeta é o "contraste entre o rústico berço mineiro e a experiência intelectual e social da Metrópole, onde fez os estudos superiores e se tornou escritor" disso resultando "ambivalência de colonial bairrista, crescido entre os duros penhascos de MInas, e de intelectual formado na disciplina mental metropolitana". Inevitável, segundo Candido, que os pastores de Cláudio refletissem o drama do artista brasileiro da época, entrincheirados entre duas realidades que ele coloca antes como fidelidades. Ele finaliza este bloco, vital para se entender os demais, com uma síntese do que viria a ser a obra do poeta e inspirador de nossa primeira tentativa de independência econômica: "Do bairrista ao árcade; dele ao ilustrado e deste ao inconfidente, há um traçado que se pode rastrear na obra".
Bento Costa Bravo Neto - 1o Horário
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ResponderExcluirO trecho selecionado para discussão integra o poema épico intitulado Vila Rica, obra tida como marco da decadência na vida de Claudio Manoel da Costa e que, na visão de Antonio Candido, é importante para a evolução estética de nossas letras, pois demonstra o impasse vivido pelo autor na escolha dos elementos estéticos. Candido aborda os conceitos de naturalidade (o aspecto inovador) X tradição (o rigor da métrica tradicional, a oitava rima) influentes nas escolhas composicionais de Manoel da Costa para este poema, que teriam atrapalhado na “adoção plena de atitudes modernas”.
ResponderExcluirO quarto canto inicia-se com a descrição de uma marcha composta por europeus e nativos disposta a desbravar as terras selvagens. Os personagens estão sujeitos às surpresas que a natureza tem a lhes oferecer e os versos iniciais deste canto realçam muito os elementos da paisagem natural. O aspecto aventureiro, a escolha de certos nomes e termos são influências diretas da épica: Herói, Ptolomeu, Egípcios, Macedônios e o aparecimento de um ser monstruoso (na verdade, uma cobra sucuri que engolira vários animais), integram a paisagem e os acontecimentos numa atmosfera mítica, o que Candido intitula “epopéia nativista, discreta e natural”. A tradição mitológica é misturada com elementos da natureza nacional, o que concretiza a tentativa não de atualização de um estilo literário, mas de incorporação do estilo clássico no novo mundo. Claudio Manoel da Costa era adepto das estéticas e dos temas líricos europeus, mas sentia-se preso è sua terra natal, o Brasil. Nas palavras de Candido: “... a sua obra é contribuição que traz para alinhar com as produções dos poetas portugueses, embora se origine de um filho rude da América” (CANDIDO, Antonio. No limiar do novo estilo: Cláudio Manuel da Costa. In: Formação da literatura brasileira; p. 91)
Mayra Correia da Silva - 1° horário - n° usp 6829572
A crítica de Antônio Cândido sobre o poema de Cláudio Manoel da Costa intitulado 'Vila Rica', faz-se sobre o cerne de se levantarem questões referentes à legitimidade da pátria e da figuração do mártir ( ambas questões já levantadas e abordadas em aula).
ResponderExcluirInicialmente Cândido nos mostra um contra-ponto que existe no poema, uma vez que ele, vê-se no título, enaltece uma cidade específica, tratando-se assim de um amor pelo local. Porém, tal poema apresenta-se de maneira épica, com a figura de um herói. Tal feita acontece de maneira mais contundente, quando vemos que para redigir sua épica e para abordar as questões locais, Cláudio Manoel da Costa utiliza-se de uma formatação não canônica, ou seja, irregular, em seus versos.
Outro ponto muito interessante é o que faz-se presente ao final do poema, quando entra em foco a figura da Cruz. Tal figura faz-se necessária uma vez que ela é utilizada como uma espécie de rememoração daquele que estava enterrado à seus pés. Tal pessoa, digna de ser lembrada, o herói, era um mártir para aquela terra; assim sendo, seu sacrifício legitima a mesma, fazendo assim da pátria um lugar consagrado.
Adriano Mariussi Baumruck ( 1º horário) ( N° USP : 7191765).