Nesta postagem, vocês poderão fazer comentários sobre a prosa de Antonio Vieira.
As próximas aulas, nos dias 09 e 10 de maio, serão, em especial, sobre o "Sermão da Sexagésima".
Bom fim de semana a todos.
Até mais!
"Não nego nem quero dizer que o sermão não haja de ter variedade de discursos, mas esses hão-de nascer todos da mesma matéria e continuar e acabar nela. Quereis ver tudo isto com os olhos? Ora vede: Uma árvore tem raízes, tem tronco, tem ramos, tem folhas, tem varas, tem flores, tem frutos. Assim há-de ser o sermão: há-de ter raízes fortes e sólidas, porque há-de ser fundado no Evangelho; há-de ter um tronco, porque há-de ter um só assunto e tratar uma só matéria; deste tronco hão-de nascer diversos ramos, que são diversos discursos, mas nascidos da mesma matéria e continuados nela; estes ramos hão-de ser secos, senão cobertos de folhas, porque os discursos hão-de ser vestidos e ornados de palavras. Há-de ter esta árvore varas, que são a repreensão dos vícios; há-de ter flores, que são as sentenças; e por remate de tudo, há-de ter frutos, que é o fruto e o fim a que se há-de ordenar o sermão. De maneira que há-de haver frutos, há-de haver flores, há-de haver varas, há-de haver folhas, há-de haver ramos; mas tudo nascido e fundado em um só tronco, que é uma só matéria. Se tudo são troncos, não é sermão, é madeira. Se tudo são ramos, não é sermão, são maravalhas. Se tudo são folhas, não é sermão, são verças. Se tudo são varas, não é sermão, é feixe. Se tudo são flores, não é sermão, é ramalhete. Serem tudo frutos, não pode ser; porque não há frutos sem árvore. Assim que nesta árvore, à que podemos chamar árvore da vida, há-de haver o proveitoso do fruto, o formoso das flores, o rigoroso das varas, o vestido das folhas, o estendido dos ramos; mas tudo isto nascido e formado de um só tronco e esse não levantado no ar, senão fundado nas raízes do Evangelho: Seminare semen. Eis aqui como hão-de ser os sermões, eis aqui como não são. E assim não é muito que se não faça fruto com eles".
["Sermão da Sexagésima", de Antonio Vieira (1608-1697). _______. Obras escolhidas, v. XI. Lisboa: Livraria Sá da Costa, 1954, p.228-229].Óleo sobre tela, 1680 x 1280 mm. Casa Cadaval, Muge, Portugal. Obra de autor desconhecido com a efígie do célebre padre jesuíta, retratado num escritório, com o manuscrito da Clavis Prophetarum, obra deixada inédita e só publicada e traduzida em 2000.
A legenda declara: «Retrato verdadeiro do Reverendo Padre António Vieira da
Companhia de Jesus, natural de Lisboa , varão insigne em todas as
ciências, e muito mais em virtude, foi de humildade e caridade heróica:
em Roma convenceu hereges, na África reduziu nações inteiras, sofreu com
suma fortaleza as maiores perseguições. O Papa Clemente X o honrou
singularmente na hora em que expirou, apareceu sobre o Colégio da Baía,
uma grande luz. Faleceu aos 4 de Julho de 1697 de quase 90 anos de
Idade.»
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Padre_Ant%C3%B3nio_Vieira.jpg. Acesso em: 03/05/2013.
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ResponderExcluirNo “Sermão da sexagésima”, assim como nos demais sermões de Padre Antonio Vieira, se verifica um grande esforço retórico do autor em justificar e legitimar os temas abordados com passagens bíblicas, sejam elas do velho ou do novo testamento. São nesses paralelismos entre o objeto em questão e as escrituras sagradas, bem como na apropriação que Vieira faz de recursos retóricos aristotélicos, que se revela a agudeza do prosador.
ResponderExcluirO que está em pauta neste sermão é a questão da ineficiência que Vieira vinha enxergando nas pregações de seus contemporâneos, as quais eram incapazes de convencer o público a seguir rigorosamente a doutrina católica. Dessa forma, o autor constitui uma espécie de meta-sermão, enumerando a explicando, à luz de imagens bíblicas, quais são os melhores métodos a serem empregados no gênero e também o que deve ser evitado.
Vieira parece buscar alguns elementos da Poética de Aristóteles para auxiliá-lo na construção do gênero sermão, sobretudo no que diz respeito à tragédia, o mais elevado dos gêneros literários. Se para o filósofo grego a tragédia deveria contar com uma unidade de ação, na qual todos os eventos e personagens, por mais variados que sejam, confluam em função de um drama central, para Vieira, o sermão deve apresentar uma unidade temática, “o sermão há-de ter um só assunto e uma só matéria” (Vieira, p. 226).
Ao final do texto Vieira descreve qual a função que o sermão deve exercer em relação ao ouvinte, e novamente me parece clara a apropriação de conceitos da Poética, desta vez no que se refere à catarsis. Para Aristóteles, a tragédia deveria causar um efeito purificador no espectador, o qual, mediante a uma experiência de compaixão e terror, seria capaz de se auto-avaliar e se purificar. Este efeito é evocado por Vieira no que concerne ao sermão, segundo ele: “A pregação que frutifica, a que aproveita, não é aquela que dá gosto ao ouvinte, é aquela que dá pena. Quando o ouvinte a cada palavra do pregador treme... quando o ouvinte vai do sermão para casa sem saber parte de si, então é a pregação qual convém, então se pode esperar que faça fruto” (Vieira, p. 245).
Guilherme Fernandes, Número USP: 6464173, matutino, segundo horário.
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ResponderExcluirSermão da Sexagésima
ResponderExcluirA primeira impressão que é deixada ao ler o sermão de Padre A. Vieira está na sua intenção de admoestar as pessoas que já fazem parte da Igreja Católica sobre a importância de levar a Jesus Cristo aos mais distantes pontos do mundo, para tanto, ele explícita que o galardão para aqueles que o fazem será superior aos que pregaram a Cristo somente em sua terra natal. Outro ponto que torna claro a sua intenção de exortar aos que já fazem parte da instituição são o uso de referencias bíblicas pressupondo muitas vezes que o leitor já conheça a história (às vezes, Vieira faz um breve resumo do que aconteceu, mas fazendo o leitor recordar, ao invés de explicar-lhe com profundidade, como é o caso de Jonas na cidade de Nínive); as citações Bíblicas em latim que era comum na época, porém afasta um leitor leigo do conteúdo; e as alusões metafóricas como: a árvore, os animais da carroça de Deus e a parábola do semeador; uma pessoa que não tiver uma mínima noção do conteúdo, como os “povos Bárbaros” não alcançariam o entendimento.
Para garantir a eficácia do seu discurso, Vieira apresenta premissas que podem ser explicadas por uma via racional (associada ao mundo físico), como, por exemplo, ao tentar explicar o que é necessário para o homem ver a si mesmo; entretanto na cadencia final do seu sermão, ele transfere o significado ao plano espiritual (onde o milagroso se torna possível) buscando uma edificação do entendimento do pregador (p.212 –v.15). Na construção das suas premissas, frequentemente, ele mesmo as desconstrói ao final, usando premissas menores, por exemplo, diz que o pregador deve fazer o que ele manda os ouvintes fazerem quando exorta em suas pregações, para o sermão ter eficácia (p.221), mas Jonas só desobedeceu, e, mesmo assim, converteu uma cidade inteira. Ele diz que os pregadores devem usar suas próprias armas, no entanto João Baptista usou Isaías para pregar, ele defende que o pregador deve bradar, mas Moisés faz uso da mansidão para guiar o povo, e por fim faz uso de uma premissa maior, e eleva o seu discurso ao sentido macro, a questão é se o pregador diz ou não o que Deus manda dizer. Este tipo de discurso, muito comum entre os filósofos gregos pós-socráticos, é uma forma coerente de construção e busca pela “Verdade”.
Não distante, vemos o uso constante da tríade: Olho, espelho, luz/ Deus, pregador e ouvinte/ Homem, Deus e Demônio (p.237 v.4), esta a noção de trindade associada não apenas ao Pai, Filho e Espírito Santo, ou talvez, Satanás, o Anti-Cristo e o Falso Profeta, como também é uma forma de entendimento das funções de um corpo dentro de uma sociedade em que cada parte teria suas funções bem definidas, e imutáveis. Lógicamente, o ouvinte poderia se tornar um pregador, entretanto quando ele fosse pregador haveria outro ouvinte, e assim sucessivamente.
O sermão se inicia com Vieira apresentando os que levam, ele se auto identificando como alguém leva as boas novas, depois ele admoesta aqueles que não fazem com a devida qualidade a sua tarefa, e por fim, dá uma palavra de esperança. O mesmo movimento que faz o livro de Apocalipse: Se inicia com a visão de João, o apóstolo no reino de Deus, Jesus se apresentando e mostrando quem faz parte do seu reino, a admoestação as sete igrejas da Ásia que, por muitas vezes, são falhas em sua missão, e termina com uma palavra de esperança.
Gabriel Moreira Martins 6466860
O Sermão da Sexagésima, do padre Antônio Vieira, em uma primeira leitura, parece um texto apenas com intuito doutrinário. Porém, uma leitura mais atenta, revela que Vieira dá em seu sermão uma aula de retórica. Ensinando como o orador deve se comportar diante das dificuldades encontradas para evangelizar o ouvinte.
ResponderExcluirCom a evangelização em baixa, Vieira busca entender e explicar os motivos pelos quais o discurso religioso não tem o mesmo alcance que tinha outrora, para tanto, ele divide o processo de evangelização (discurso) em três partes: a mensagem, o ouvinte e o orador. A diminuição da propagação d’A Palavra, só se dá devido à falha em um desses três componentes. Vieira analisa um por um: o problema não pode estar na mensagem, já que é A Palavra de Deus, o certo; não pode estar no ouvinte, visto que ele não pode ter culpa se A Palavra não chega a ele; portanto, a culpa só pode ser do orador, que por encontrar dificuldades, acaba por desistir de evangelizar o próximo.
Entre os problemas encontrados pelo evangelizador, está a dificuldade em fazer o ouvinte crer/absorver o evangelho. Vieira divide os ouvintes em classes: ouvinte espinho, ouvinte pedra, ouvinte caminho e o ouvinte terra boa. E explica como se dá o recebimento d’A Palavra de Deus em cada um desses casos.
Estes são alguns dos principais fatores que nos permitem aproximar o texto de Vieira ao discurso retórico. O padre ensina a seus fieis como discursar de maneira eficiente e cativar seu público para aceitarem o evangelho.
Felipe de Lima Moreira - nº USP 7191424
É interessante notar como Vieira desde a primeira parte do sermão enfatiza o caráter de sacrifício da pregação evangélica. Aquele que adere à missão de semear a "palavra divina", ou seja, de propagar a fé católica é exigida abnegação absoluta, inclusive, da própria vida.
ResponderExcluirHá no texto do Vieira uma espécie de glorificação do martírio, uma ideia que, como foi visto no primeiro bloco do curso, já era difundida pelos padres Manuel da Nóbrega e Anchieta, pois o martírio é uma questão central para o jesuitismo.
Colocada essa questão, Vieira desenvolve o sermão indagando o porquê a palavra divina não mobiliza mais o sentimento das pessoas como no passado, na época de Cristo, por exemplo, para concluir que a palavra divina não frutifica entre os fieis em razão dos maus exemplos dos pregadores, que não praticam o que pregam no púlpito.
Com isso, Vieira faz uma crítica veemente aos próprios colegas difusores do catolicismo, que subvertiam a pregação religiosa a fim de encobrir os erros e os vícios dos mais poderosos, divulgando uma fé falsa, fundamentada nos interesses da vida material, enquanto que os princípios de devoção e abnegação eram escamoteados.
Dayse Oliveira Barbosa - no. USP 6833229
Um sermão é uma peça de oratória , que é a arte de discursar , a arte da eloquência. A oratória de carácter religioso, compõe-se de textos que podem ser classificados de acordo com sua função:o objeto de nosso estudo, o sermão , também chamado de prédica , é um discurso importante, longo, demoradamente elaborado, com o objectivo de convencer o auditório. É nesse último que se encaixam os discursos de Vieira.
ResponderExcluirUma das características de sua oratória é de fundamentar suas argumentações e sustentar a sua tese com trechos bíblicos e encíclicas papais, recorrendo com frequências aos santos doutores da igreja, como São Tomás de Aquino e Santo Agostinho. É uma forma de convencer o seu ouvinte, sem deixar margem para contestação. A função central de seus sermões é o o “poder” de convencer quem ouvia, tanto pela razão quanto pela emoção.
No "Sermão da Sexagésima" , percebemos , que Vieira, valendo-se de sua retórica prodigiosa e de sua habilidade no campo linguístico, escreve sobre a arte de pregar, criticando - o os pregadores de sua época, resumindo o seu pensamento em uma metáfora: semear é pregar.Os pregadores deveriam ser simples e naturais, devendo focar em único tema, para não confundir os seus ouvintes. Quanto mais simples e natural fosse a sua oratória, mais próxima ficariam os fiéis da igreja. A metáfora das árvores, mostrada acima, exemplifica como deve ser a estrutura de um bom sermão.
Com seu discurso, ele quer muito mais do que convencer:quer mudar a maneira como os pregadores pregavam. Vieira constrói uma argumentação de altíssimo nível, com uso abundante de sua erudição, sem, entretanto, tornar-se obscuro ou de difícil entendimento, mesmo para o leitor contemporâneo. Em outras palavras, ao discutir as características do bom pregador, coloca-as em ação em seu próprio discurso, lançando mão de analogias que seriam de fácil compreensão para o seu público.
Neste Sermão, Vieira enaltece a forma conceptista da linguagem que, segundo ele deve ser adotado por todos os demais pregadores, onde ele exorta através de questionamentos,seus companheiros oradores que se aproveitam do poder que possuem para persuadir os fiéis a favor de uma política corrupta e não de uma pregação justa na disseminação da verdadeira fé cristã. É um sermão repleto de figuras de linguagens, escrito numa linguagem argumentativa, lógica e permeada de liricidade.Vieira utiliza-se de toda argumentação possível para convencer aos ouvintes que a arte de pregar deve ter como objetivo principal, que a semeadura e a colheita andem juntas no quesito salvação das almas,pois não importa a quem foi proferida a palavra. O intuito de Vieira ao se utilizar dessa metáforas, comparando os homens com troncos, pedras e trigo até, referindo-se aos homens bárbaros, era de resgatar os católicos que haviam abandonado o catolicismo para seguir a Reforma que ocorria na época. A pregação só será eficaz se ela der frutos...
Maria Carolina Soares Tenucci - no.USP: 7191894
Padre Antônio Vieira apresenta seu sermão da sexagésima colocando em pauta a questão crucial para manter e poder expandir o catolicismo naquele momento, que é a efetivação dos sermões pelos pregadores. Vieira inicialmente apresenta o assunto a ser tratado trabalhando com o incentivo de se buscar as conversões através de sacrifícios se assim for necessário, trabalhando com a temática do martírio como glória para os “semeadores”, tema este já trabalhado em sala de aula. Segue o sermão com esclarecimentos a cerca da importância do sermão e da necessidade de haver a pregação correta, utilizando-se de metáforas para exemplificar e tornar o texto mais compreensível além de promover a importância da recepção do evangelho nas pessoas como argumento de fé. Por fim, apresenta críticas à maneira com que estão sendo pregados os sermões nos últimos tempos, acarretando em muitos pregadores e poucos convertimentos. Vieira vai tecendo inúmeros argumentos que justificam o porquê da culpa pela falta de frutos serem dos pregadores, o que anula qualquer possibilidade de culpa das outras duas instâncias citadas por ele: Deus e o ouvinte. O que se têm neste ponto é o pregador como elemento intermediário entre Deus e o ouvinte, pois este não possui condições suficientes para se ter total compreensão daquele, se não através do elemento intermediário que é o pregador. Tamanha é a importância dada à figura do pregador que se pode ter como chave de leitura a apresentação da essência do sermão, de certa forma,como devendo ser primeiramente compreendida e adquirida pelos pregadores antes de qualquer outro ser, para que só então chegue aos ouvintes. Essa essência é trabalhada de diferentes pontos de vista, como por exemplo o sermão ser visto como arte, o fato de haver a necessidade se pregar aos olhos e não aos ouvidos e a importância de haver uma linearidade no raciocínio. Tudo isto para que se recupere e desenvolva a crença que está sendo perdida entre os ouvintes.
ResponderExcluirDebora Medeiros Menezes Nº USP: 7193065
Em um contexto em que a Igreja era responsável por quase todo o desenvolvimento da cultura, o lusitano Padre Antônio Vieira surge com sua prosa em estilo clássico e genialmente rico em metalinguagem.
ResponderExcluirA sua prosa caracteriza-se pela excelência no emprego da retórica clássica, a boa seleção de palavras e o caráter filosófico que dá aos seus sermões.
No sermão da Sexagésima, Vieira detém-se na discussão da própria maneira de pregar, condenando a pregação de forma esvaziada e acusa aqueles que a fazem dessa maneira. O jesuíta sustenta que Deus permite a compreensão, porém se o pregador não transmite a mensagem de forma clara e simples, o trabalho não produz nenhum resultado, pois a mensagem deve ser como luz e espelho para que o ouvinte possa se enxergar nas lições e exemplos que trazem. À maneira da pregação realizada por Jesus, Vieira vale-se de analogias do senso comum para melhor apreensão da mensagem, como a Parábola do Semeador e ainda apresenta as etapas da construção de seus sermões (definição do assunto, apresentação, correspondências bíblicas, correspondências com o racionalismo, seleção de exemplos, análise dos argumentos contrários e persuasão dos ouvintes).
Francisca T. M. da Silva - 7245097
No Sermão da Sexagésima, Pde. Antônio Vieira retoma, logo de princípio, alguns conceitos estudados no primeiro módulo do curso. Nota-se uma exaltação ao martírio, exortanto os pregadores a persistirem apesar das dificuldades. Porém há também uma clara crítica, não só aos pregadores, mas também aos ouvintes e à mensagem em si.
ResponderExcluirUtilizando-se da parábola do semeador, Pde. Vieira coloca que as sementes plantadas no solo bom germinaram, mas que mesmo com boas condições, algumas não vingaram. Coloca ele: "Se Deus dá o seu sol e a sua chuva aos bons e aos maus; aos maus que se quiserem fazer bons, como a negará?". Ou seja, Deus dá todas as condições para que os frutos germinem, mas de nada adiantará se o ouvinte não estiver pronto e aceitar Sua palavra.
Outro ponto levantado é que não bastam palavras, mas também ações para convencer, e principalmente, converter os ouvintes. Palavras são vazias se não forem acompanhadas de ações. Estas podem ser vistas e assim mais tarde reproduzidas e julgadas. O pregador que prega a pobreza, mas vive com fartura,por exemplo, não consegue convencer seu público. Assim, é de responsabilidade do pregador que acredite no que prega, e ele só consegue fazer isso se conhecendo muito bem, assim como seu papel de pregador: "Entre o semeador e o que semeia há muita diferença. Uma coisa é o soldado e outra coisa o que peleja; uma coisa é o governador e outra o que governa. Da mesma maneira, uma coisa é o semeador e outra o que semeia; uma coisa é o pregador e outra o que prega." O pregador não é o que simplesmente prega, mas aquele que vive de acordo com o que prega.
E assim, também cabe ao pregador fazer com que seu sermão seja simples e bem estruturado, numa sequência lógica, para que possa atingir não somente o ouvinte mais culto, mas também o mais simples. E Pde. Vieira recorre a isto em seu sermão. Ao utilizar-se de passagens das Escrituras, conhecidas, ele faz com que sua mensagem atinja o público de forma clara e ao mesmo tempo dá autoridade a seus argumentos. Não foi ele, Pde, Vieira que disse, mas sim Jesus Cristo, portanto Pde. Vieira também se coloca em posição de humildade em relação à Palavra, o que o aproxima do seu público. Este é outro recurso utilizado da retórica clássica, para manter o interesse e ganhar a simpatia do ouvinte.
O bom sermão também não é o que faz o público feliz com pregador, mas sim aquele que faz com que o ouvinte saia incomodado com ele mesmo. Isto requer uma reflexão da parte do ouvinte, um profundo exame de consciência, e assim, pode-se esperar uma mudança de atitude da parte dele.
Fernanda Cristina Vinhas Reis - nº USP 7245041 - matutino - 8:00
O “Sermão da Sexagésima” é, conforme os colegas acima disseram uma lição retórica. Vieira vale-se de elementos da poética de Aristóteles, com a qual teve contato por sua formação na Cia. de Jesus, para convencer o público acerca de sua tese: se a igreja católica não conseguia tantas conversões à época, era por conta dos pregadores.
ResponderExcluirO padre, através do Evangelho de São Lucas, vai construindo um raciocínio lógico – fruto de sua engenhosidade e agudeza – mostrando que o bom pregador, tal qual o bom semeador, é capaz de “semear” a palavra de Deus, ainda que em corações – ou ambientes – que ofereçam resistência a ela.
Gostaria, no entanto, de chamar a atenção para outro importante sermão do Pe. Antonio Vieira; o “Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda”. Esta obra foi produzida num contexto turbulento em que os Holandeses ameaçavam tomar a Bahia. Dada situação, Vieira constrói seu sermão tentando reanimar o povo, que se via acuado diante da ameaça holandesa, e para tal, o Padre audaciosamente dirige sua pregação e admoesta Deus que parece ter-se esquecido do "fiel" povo português – de acordo com as palavras do próprio pregador.
Seguindo uma estrutura do sermão, que é construído à partir da explicação de uma passagem bíblica, Vieira remete neste texto a um salmo do Rei Davi e aqui tem um ponto a mais em favor do desenvolvimento de sua pregação: enquanto que no sermão da sexagésima faz uso do que se entende hoje por “perguntas retóricas” respondidas em seguida por ele próprio, tentando convencer os fiéis acerca de seu ponto de vista, aqui seu interlocutor é Deus, que não irá contra-argumentar; o retor, portanto, não tem um “opositor”. Todos esses fatores mostram a engenhosidade do pregador.
Umberto de Souza Cunha Neto - NºUSP: 6832090 - matutino (8h)
Vieira se utiliza de exemplos da própria Bíblia para exemplificar a ação dos bons pregadores, criticando outros homens que diziam pregar a palavra Divina na época. No entanto, o sermão de Vieira é mais do que uma crítica: trata-se de uma discussão sobre a arte de persuadir e dos elementos que tornam essa persuasão eficaz. E ele faz isso de tal modo que convence seus ouvintes (e até mesmo nós, leitores) a respeito de seu ponto de vista. Portanto, é possível dizer que todos os elementos críticos e reflexivos a respeito das diferentes maneiras de pregação discutidos no Sermão da Sexagésima são desenvolvidos indiretamente dentro do próprio sermão de Vieira, persuadindo seus próprios ouvintes. Talvez essa tenha sido a maneira encontrada por Vieira para justificar seu discurso, colocando-o em prática para que todos o entendam com perfeição. “Para falar ao vento, bastam palavras; para falar ao coração, são necessárias obras.” Sendo assim, o próprio Sermão da Sexagésima pode ser visto como uma obra, uma vez que tudo o que está sendo dito está também sendo executado bem diante dos ouvintes. Todo o discurso é desenvolvido através de perguntas retóricas exemplificadas com metáforas retiradas da Bíblia, e, ao discutir as falhas do processo de semeação do fruto Divino, o Padre atribui toda a culpa ao pregador, para depois explorar as soluções para essas falhas e demonstrar o que deve ser feito para que elas não mais ocorram.
ResponderExcluirSusana Yunis Boatto - NºUSP: 7244714 - matutino (8h)
O Padre Antônio Vieira segundo o escritor Fernando Pessoa considerava: "o imperador da Língua Portuguesa". Este império foi construído pelo Padre graças a sua erudição, como por exemplo quando este cita os teóricos durante seus textos como Santo Agostinho e outros. Uma outra coluna de sua obra é a força que a Igreja Católica tem durante o século XVII, ainda toda poderosa, presidia aos destinos do Planeta. (José Verdasca: página 11).
ResponderExcluirSegundo o seu Biógrafo, Dom Francisco Alexandre Lobo, bispo de Viseu, assim falou: "Se o uso da nossa Língua se perder, e com ele por acaso acabarem todos os nossos escritos, que não Os Lusíadas e as obras de Vieira, o português, quer no estilo da prosa, quer no poético, ainda viverá na sua perfeita índole nativa e na sua riquíssima cópia e louçania".
Para mostrar algo da religiosidade encontrei um texto que dizia que Padre Antônio Vieira não gostaria que sua obra fosse impressa mas foi da vontade de seus superiores Jesuítas que assim acontecesse, pois desta forma sua congregação teria um modelo fiel a estrutura e maneira de elaborar um sermão religioso, tendo o Padre como modelo.
Em outra citação da parte religiosa faz parte esta: "Devemos dar muitas graças a Deus por fazer este homem católico, porque se o não fosse poderia dar muito cuidado à Igreja de Deus. século XVII (1670-76).
Rodrigo Ferreira de Souza - Nº USP: 6831227 - Matutino (10 horas) 2º horário.
O Sermão da Sexagésima é marcado por uma característica peculiar: utilizando-se da metalinguagem, Padre Antonio Vieira compõe um sermão que expõe como seriam suas ideias de um "bom" sermão, aquele que consegue fazer com que a palavra de Deus renda frutos, o que, segundo ele, é a maior dificuldade encontrada na pregação. Didaticamente, ele começa comparando o trigo que Cristo semeou, o qual cresceu por entre os espinhos e as pedras, às dificuldades que os missionários possuem para levar a palavra de Deus adiante e, por meio de muitas metáforas e até forçando o caminho em certos pontos, chega à questão: por que os frutos da palavra de Deus são tão poucos? Ele conclui que o problema não está com os ouvintes, e muito menos com a palavra santificada, mas sim com os pregadores que não vêm professando correntamente. A partir daí, Vieira diz claramente sua intenção, nomeando, inclusive, o seu leitor: ele passa a utilizar vocativos como "Padres" e pronomes como "nós". Quando seu leitor já é especificado, ele abertamente fala de sua proposta: "Assim há-de-ser o estilo da pregação; muito distinto e muito claro", chegando até a propor um "vocabulário do púlpito". Por meio de várias referências bíblicas e exemplos sagrados, como a menção do Espírito Santo, ele compõe seu texto, criticando aqueles que pregam a palavra de Deus, ao seu ver, erroneamente, já que "As palavras de Deus pregadas no sentido em que Deus as disse, são palavras de Deus; mas pregadas no sentido que nós queremos, não são palavras de Deus, antes podem ser palavras do Demónio". Assim, ele identifica a causa do problema dos sermões não frutificarem a palavra divina. No final do texto, Vieira acaba pressionando mais e inclusive insultando mais os "falsos" pregadores, como percebido em "pregadores (aqueles com quem eu falo indignos verdadeiramente de tão sagrado nome)". Vieira, porém, não exclui os ouvintes de seu sermão, mencionando-os: "[para que] os ouvintes [saibam] a quem hão-de-ouvir". É sabido que Vieira critica, por meio deste sermão, Fr. Domingos de S. Tomás, orador gongórico e seu principal rival.
ResponderExcluirThais Naufel Nogueira Martins - Nº USP 7190228 - Matutino - 2º horário
O Sermão da Sexagésima trata de forma retórica da arte de semear, ou seja, da disseminação do cristianismo pelas mãos dos cristãos, tendo como grande exemplo, o maior semeador, Jesus Cristo. O texto é repleto de metáforas, principalmente biblícas, que fazem alusões à persistência no ''semear'', literalmente dizendo, no pregar. Padre Antônio Vieira busca resgatar o ato incansável da pregação, disseminando o evangelho e o não desistir, nem mesmo dos corações mais brutos e agudos. Exemplifica que mesmo apesar dos incidentes nos percursos uma hora um grão faria valer a pena todo o sacrificio dos outros infortúnios.
ResponderExcluirA forma pela qual este enredo é composto, demonstra uma certa indignação de Padre Antonio Vieira ao perceber que a palavra de Deus, antes tão semeada, renda agora tão poucos frutos, ou seja, tão poucos homens convertidos ao cristianismo. Podemos enxergar uma certa culpa que, no âmbito católico, pode ser vista como procedente de um pecado. Podemos tentar relacionar esta sugestão do pecado a fatos anteriores, os quais o Padre critica, e à própria maneira como a culpa é desenhada entre ele e outros pregadores, pelo fracasso das pregações.
Podemos ler o Sermão como um texto metafísico, fazendo alusões às construções do passado, do presente e propondo um futuro, esclarecendo as características gerais, até chegar a um ideal. Este ideal depende somente dos pregadores que, não sendo bons quanto eram os primeiros, precisam seguir e percorrer este manual até alcançar o objetivo proposto por Padre Antonio Vieira.
Andrea Funchal - 7189974
Matutino - 1o horário
A obra de Antonio Vieira é conhecida pelo seu alto poder persuasivo, devido à aplicação maestral de técnicas argumentativas e da retórica clássica. O Sermão da Sexagésima, como todos os sermões de Vieira, apresenta uma exemplar peça de oratória religiosa, que tem como finalidade convencer o ouvinte de algo. Sua estrutura segue o modelo dos sermões jesuíticos, que consiste em: tema (do que tratará o sermão); exórdio (proposta, intento do sermão é apresentado); invocação (pedido de auxílio divino); argumentação (narração e argumentação); confutação (argumentos contrários são apresentados e refutados, com a intenção de reafirmar a tese defendida) e peroração (conclusão e arremate do processo persuasivo). No referido sermão, o tema abordado é a prática da oratória religiosa em si, e o objetivo do discurso é compreender a razão pela qual a palavra de Deus não é mais levada em consideração pelas pessoas. Através dos procedimentos retóricos anteriormente resumidos,Vieira demonstra os objetivos de seus sermões e combate as ideias de religiosos que se opõem a seus ideias, defendendo a pregação que frutifica em oposição àquela que não é aproveitada pelo ouvinte.
ResponderExcluirMariana Costa Aguiar de Carvalho - Nº USP: 7190642 - primeiro horário matutino
No Sermão da Sexagésima, Pe. Antonio Vieira elabora um discurso muito claro, apesar da sintaxe da qual lança mão para tecer seu texto, capaz de atingir de modo efetivo seus interlocutores. Além disso, o autor se vale de uma ferramenta importante: utiliza a comparação com a figura da árvore e de seus “apêndices” para elaborar seu discurso, usando seus elementos de modo comparativo com os trechos e os aparatos que julga necessário para a composição do sermão. Compara, por exemplo, o tronco ao assunto, os ramos ao discurso, e assim sucessivamente. Deste modo, atinge mais facilmente seu objetivo de fazer com que suas palavras sejam eficazes no momento de “convencer” quem o está lendo ou ouvindo.
ResponderExcluirUm dado importante, antes, fundamental, é que Vieira recorre à própria Bíblia, na passagem de Lucas, no que diz respeito ao semeador e à semente.
Pode-se, inclusive, aludir a um nível “metalinguístico” do texto, uma vez que no texto o autor fala do Sermão como instrumento da própria palavra. Ou seja, é através do Sermão que os interlocutores de Vieira receberão a palavra de Deus.
Outro fator a ser observado com atenção é o fato de Vieira criticar outros autores de sermão, mesmo que sem citar nomes, mas ainda assim explicitamente, no que diz respeito ao uso do gênero sem atingir seus verdadeiros fins. Assim, fica evidente, na crítica de Vieira, que outros sermonários não são compostos com aquilo que ele julga necessário a um texto do tipo.
Amanda Mattioli (6464937)
Sermão da sexagésima- pª. António vieira
ResponderExcluirNesse sermão, vemos que Padre Vieira apresenta sua preocupação, pela falta de frutos, pela escassez de fies. Sua preocupação constante nesse sermão, vai ser com o porque que tantas pregações, não demonstram tantos resultados como, se via em poucas pregações antes, porque Cristo, que sozinho conseguiu converter tantos, e hoje tantos pregadores juntos não conseguem produzir frutos como Cristo?
Mas ao mesmo tempo que ele vai apresentando suas indignações e reflexões a esse respeito, podemos ver que ele vai ensinado aos outros pregadores a quem ele se refere como falsos pregadores, como devem pregar, o que devem pregar. Porque ele acha que grande parte da culpa de não se obter bons frutos, se deve aos pregadores, ele ate inclui ele mesmo no meio”… quantas vezes ouço dizer que são palavras vossas, o que são imaginações minhas, porque não quero excluir deste número!”. Uma coisa é certa e clara, o que se questiona nesse texto é a eficiência da pregação nos tempos presentes. Porque que com tantos pregadores, não obtém- se bons frutos, ou melhor não se obtêm frutos?
São diversos os possíveis culpados. Primeiro ele questiona se seria a culpa dos ouvintes, depois se seria dos pregadores, ou da forma como eles pregam, ou do que eles pregam, da variedade do que se prega, ate de Deus, ele questiona. Então de quem é a culpa? Ele acaba por concluir que a culpa só pode ser dos pregadores, e é nesse ponto que ele começa a propor o que a seu ver seria a melhor forma de pregar entre os ouvintes, e com isso obter muitos e bons frutos. “ … Semeadores do Evangelho, eis aqui o que devemos pretender nos nossos sermões: não que os homens saiam contentes de nos, senão que saiam muito descontentes de si;…”
E é isso que ele pretende que, seus ouvintes se arrependem dos seus pecados, que se convertem e não que gostem, adorem o pregador ou o que ele prega, e sim que ele se sente culpado pelo mal, pelo pecado que cometeu, ao ouvir tal pregação.
Carla silva soares, nº 6900505, 2º horário do diurno
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ResponderExcluirFica claro desde o principio que o Padre Antonio Vieira usa como tema principal em O Sermão da Sexagésima uma parábola encontrada na bíblia mais precisamente no Evangelho segundo São Lucas .
ResponderExcluirNessa parábola é demonstrado que os fieis são como sementes e que se os semeadores ou seja os padres tiverem o cuidado necessário para com estas sementes elas germinarão e darão belos frutos para obra do Senhor este é o grande mote que move o sermão.
Viera demonstra com toda sua engenhosidade todos os possíveis motivos da ineficácia dos sermões e de quem seria a culpa deste “fracasso” , se seria de Deus dos ouvintes ou do pregador ,com Vieira excluindo a culpa dos dois primeiros ,com isso ele faz uma critica direta a outros pregadores e principalmente a forma que estes trabalham ou seja o cultismo , estilo este que vieira considerava afetado e obscuro em contraponto ao conceptismo .
Helio de Abreu Dantas nº USP 5928014 matutino 2º horário .
O sermão da sexagésima apresenta um problema central: o porquê da escassez de frutos da palavra de Deus. A partir de um movimento incessante de perguntas e respostas, Vieira nos leva a crer que o problema não reside nem em Deus, nem nos homens, mas sim naqueles que supostamente professam a Sua palavra.
ResponderExcluirO orador trava uma luta com aqueles que jogam palavras vazias, perdidas ao vento, a berros ensurdecedores, impacientes, cultistas. Em contraposição cria poderosas imagens, como a da "Árvore da Vida" ou como o "céu semeado de estrelas", para designar os sermões que cheguem aos corações dos homens, que colham frutos que não tempestades. Ao término conclui que o sermão daquele que semeia os frutos de Deus não deve contentar os homens, mas sim abalar suas estruturas.
Para um entendimento mais profundo da pregação deve-se compreender alguns pressupostos. O momento é o da volta de Vieira para Portugal e o contexto é o de disputa com outras ordens cristãs, como a dominicana de Fr. Domingos de S. Tomás. O discurso de sair ao mundo para professar a fé cristã corresponde ao internacionalismo jesuíta em contraposição ao localismo acomodado a que se refere Vieira. Nesse sentido a retórica volta suas armas mais sofisticadas para aqueles que não saem mundo afora (Brasil, Índia, China etc.) na expansão da fé cristã.
Guilherme Kranz Costa - 7193812
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ResponderExcluirAntonio Vieira, representante da prosa literária no período barroco, autor dos sermões que concretizam sua grande eloqüência oratória, é a figura evangelizadora de seu tempo, modelo de pregação para a Igreja na Europa e no Novo Mundo. É importante destacar que os sermões a que hoje temos acesso encerram registros de uma produção oral, de uma prática enunciativa de fato muito valorizada, por isso, copiada e registrada para servir novamente como instrumento de evangelização fora de seu contexto original. A obra de Vieira revela um homem extremamente habilidoso com as palavras, que lançou mão de diversas manobras lingüísticas que muito impressionaram e revestiram o discurso religioso conservador e ortodoxo com uma roupagem cativante.
ResponderExcluirNo excerto destacado, Vieira reconhece a possibilidade de diversidade temática entre os sermões, mas, no entanto, os mesmos devem convergir durante seu desenvolvimento para um ponto específico, ponto este que parece ser basicamente a manutenção da fé cristã, ainda que não seja o assunto desenvolvido em sua totalidade. Todos os sermões apresentam um fundo religioso, deve ser “fundado nas raízes do evangelho”, como afirma Vieira, ainda que superficialmente o sermão aparente tratar de um assunto de cunho político ou social. Também verificam-se os questionamentos sobre o mundo, sobre como as coisas acontecem e se organizam, e, assim, elementos da realidade são destacados conforme for pertinente para determinado sermão. Também reconhecemos o questionamento acerca da atitude e conduta do indivíduo no mundo, da sua moral e fé cristã, sendo o homem, portanto, visto como Sujeito, instituído do poder de escolha, que pode ou não, aceitar a palavra de Deus.
O “Sermão da Sexagésima”, o primeiro que será discutido em aula, é um discurso introdutório na obra de Pe.Vieira, sendo este o sermão escolhido pelo próprio autor para figurar na introdução do Sermoens, sua publicação mais expressiva. É também introdutório e metalinguístico na arte da persuasão oratória no sentido de questionar justamente a prática eficaz do discurso religioso, visto como uma atividade de semeadura que deve alcançar a aceitação por parte dos ouvintes, ou seja, suas sementes devem germinar. O sermão desenvolve-se exatamente como um modelo de como se deve proceder. Assim, atinge tanto os ouvidos de outros pregadores, por instruí-los quanto aos principais elementos constitutivos de um sermão, quanto os ouvidos do público em geral, que deve se convencer da veracidade do discurso através de sua beleza e boa articulação. No público a ser persuadido, se encontram, além das pessoas comuns, os próprios pregadores, pois a prática de pregação é, antes de tudo, um exercício de convicção e fé e o sermão atua como instrumento de manutenção destes valores.
Mayra Correia da Silva - n°USP 6829572
Um dos mais belos textos retóricos de todos os tempos, o "Sermão da Sexagésima" vai além de todos os conhecidos intuitos de um simples sermão pastoral, e deixa entrever em suas linhas a força argumentativa de seu autor. Vieira tece uma rede lógica e clara onde expõe suas opiniões sobre o bom pregador a necessidade de bem empregar esse recurso do sermão, para ganhar as almas do fiéis.
ResponderExcluirUtilizando exemplos do próprio Evangelho - como semeador que sai a semear - o padre tenta movimentar não o povo mas, sobretudo, os demais pastores, visto a escassez e debandada dos católicos para o protestantismo e outras religiões.
A construção do discurso do Padre Vieira segue uma lógica retórica que remete aos mais brilhantes retóricos da Antiguidade Clássica, desde Aristóteles a Cícero. Ele é considerado por muitos o maior orador da língua portuguesa e esse Sermão ajuda-nos a compreender porque. O encadeamento de ideias, colocadas não ao acaso mas pensadas e organizadas uma a uma, junto com a opinião cheia de certezas, comum ao discurso religioso, onde há bem pouco espaço para negações ou dúvidas, contribuem para a clareza da fala do Padre, que consegue fazer-se entender desde o mais humilde até os mais estudiosos.
Isabela Leite Silva - 6829141
O sermão em questão, como muitos já tem dito acertadamente, é um exemplo perfeito da qualidade oratória do padre Antonio Vieira.
ResponderExcluirInteressante perceber que Vieira, ao teorizar sobre a contrução e utilização de um bom sermão e sobre (proeza essa já alcançada por grandes nomes como Horácio, em sua Ars Poetica).
Devemos atentar, também, não só para a qualidade dos argumentos utilizados por padre Antonio Vieira, mas também pela forma como são dispostos no texto (o 'dispositio' retórico) e a composição linguística do discurso ('elocutio').
Desta forma, o Sermão do Sexagenário é uma perfeita demonstração da construção retórica de um texto, e da grandiossidade que o mesmo adquire quanto estes recursos são bem empregados, além de caracterizar uma ótima memória do panorama religioso e social da época do autor.
Luiz Fernando Pierotti - 6835829
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ExcluirEm primeiro lugar, Vieira coloca em pauta um problema: a ineficácia da pregação católica, na metrópole e principalmente na colônia, posto que há um público de larga escala, que, em contato com a pregação, não se converte ao catolicismo, à palavra de Deus. A partir de então, o autor começa uma análise profunda, em torno de todos os aspectos do problema. Como numa análise literária baseada na tríade autor-obra-público, Antônio Vieira constrói um estudo em torno da tríade pregador-palavra de Deus-ouvinte e aponta o pregador como foco do problema.
ResponderExcluir“Tudo o que tenho dito pudera demonstrar largamente, não só com os preceitos dos Aristóteles, dos Túlios, dos Quintilianos, mas com a prática observada do príncipe dos oradores evangélicos – S. João Crisóstomo”. No “Sermão da Sexagésima”, padre Antônio Vieira delibera sobre a oratória dos padres. O modelo de estudo clássico da oratória, de Aristóteles e Quintilianos, é a base do estudo em questão. Capítulo por capítulo, Vieira destrincha a estrutura de uma pregação - quem diz, o quê, a quem, por que meio, com que efeitos – e aponta modelos ideais de enunciação. É como um guia.
Mais importante ainda que o modelo de estudo clássico da oratória é a reflexão sobre o Evangelho, santos e liturgias de outrora. Como já indica o trecho citado no parágrafo acima, a prática observada no passado e nos textos bíblicos é o maior dos ensinamentos. Ainda que Antônio Vieira indique modelos ideais de enunciação para um padre, em todo momento, ele aponta também exceções ao modelo ideal que obtiveram sucesso na evangelização de um público ou na missão que lhes cabia.
É impressionante como o autor constrói tal guia – o texto flui, conquista; há um domínio de metáforas, um tom poético, em função dessa construção lógica. A argumentação toda é feita a partir de uma curta metáfora bíblica sobre evangelização, o semear.
Às voltas com essas questões, Vieira enfim evidencia o que há de errado com as pregações católicas de seu tempo: “as palavras dos pregadores são palavras, mas não são palavras de Deus.” Tendo construído uma argumentação lógica sobre tudo que constitui uma pregação, o autor conclui seu sermão com a denúncia de que os discursos dos padres são nada mais que fingimento, farsas. Mais do que um guia, portanto, é uma forte crítica à instituição.
Mais de cem anos mais tarde, o protagonista Fausto, de Goethe, lê o Evangelho de João e não se satisfaz com a tradução em suas mãos - "No princípio, era a palavra" - e produz um termo que, para si, é mais preciso - "No princípio, era a ação”. É como se palavra e ato fossem compreendidos como sinônimos, questão que Antônio Vieira, no “Sermão da Sexagésima”, para mim, também trouxe à tona. Ele anuncia a importância da palavra como ato (i.e. as palavras ocas das pregações não atuam) e, além, domina ele mesmo as palavras e ponto de transformá-las em ação, em afronta.
Stephanie C. L. Fernandes - #USP 6830309 - matutino (10h)
Sermão da Sexagésima - Padre A. Vieira
ResponderExcluirFoi perseguido pela Inquisição por defender os cristãos novos , além de ter sido expulso do Maranhão por proteger índigenas da escravidão, Padre Vieira é um dos ícones da literatura Barroca no Brasil.
O Sermão da Sexagésima, um dos mais belos sermões do Padre Vieira, é um ótimo exemplo de sua grande capacidade retórica e de pregação. É interessante perceber que o Sermão da Sexagésima, assim como todos os seus sermões, possui a característica marcante da oralidade. Seus sermões possuem as seguintes características: primeiramente, temos a introdução do tema com alguma passagem bíblica que serve de exemplo para o assunto que prevalecerá no Sermão (no caso, a parábola do Semador); a seguir, temos o intróito (um plano geral do Sermão), seguido pela invocação, normalmente dirigida à Virgem Maria; finalmente, chegamos à parte principal que é a argumentação, belamente sustentada nos próprios textos religiosos centrados no tema principal do Sermão (para cada ponto que Vieira apresenta, ele o sustenta com um texto religioso inserido no sermão com grande precisão) - Padre Vieira inclusive se utiliza sua experiência no Maranhão (dos missionários que sofreram naquela terra) para exemplificar (além de marcar historicamente o sermão) e dar mais veracidade à sua argumentação, convencendo o seu rebanho com sua grande retórica e garantindo o seu lugar junto aos grandes oradores de Língua Portuguesa. Finalmente, conclui o Sermão com o epílogo, retomando o assunto central e finalizando-o.
Aline Gomes de Moraes Ferreira - nº USP: 6830442 - 1º horário.
O Sermão da Sexagésima serve como um discurso retórico exemplar e obtém seu sucesso por utilizar com dominância os preceitos da retórica clássica, ou seja, começa expondo o tema a ser tratado e se empenha na tarefa de manter a atenção do ouvinte, apresenta as provas e os fatos, demonstra como são as provas e os fatos através de exemplos e por fim, faz a conclusão que beira ao pleno convencimento.
ResponderExcluirO sermão de Vieira começa com o questionamento da razão pela qual a pregação de seu tempo não colhe tantos frutos quanto a pregação de tempos anteriores e o que se segue daí são diversas explicações e exemplificações para o problema. Primeiramente, o padre deixa claro que a causa não é e nem poderia ser falha de Deus, assim como não é de todo falha do ouvinte, já que a palavra de Deus faria efeito, embora nem sempre frutos, em qualquer homem que a ouvisse. Nesse ponto, Vieira ainda atinge paralelamente à própria moral dos ouvintes presentes através de artimanhas retóricas que lhe permite tocar em outros pontos além daquele central. Finalmente, Vieira explica que o motivo da escassez de frutos nascidos da pregação está no próprio pregador, que é o principal alvo do sermão, já que o ensinamento católico não poderia, segundo Vieira, ser feito apenas com as palavras e deveria se destacar principalmente por ser feito com as ações, devendo ser o pregador exemplo daquilo que diz. O padre também faz uso da metáfora da nuvem, que contém raios e trovões, para determinar qual deve ser a essência do sermão, deixando claro que esse só obteve sucesso quando o ouvinte sai consternado e resignado, caso o ouvinte saia satisfeito com aquilo que ouviu, é porque o sermão não atingiu seus objetivos, que deve ser sempre propagar a palavra de Deus, livre de falsas interpretações.
A retórica de Vieira obtém sucesso principalmente porque através do engenho do autor e das exemplificações retiradas das próprias escrituras, o discurso obtém estatuto de verdade.
Priscila Teixeira Jesus - N. USP: 6829586
manhã - segundo horário.
Professor, por favor, considere esse pequeno atraso (menos de 5 min) , pois não estava conseguindo publicar o comentário, inclusive mandei um email antes para o senhor com o mesmo texto que não estava conseguindo postar aqui. Tive esse problema mais de uma vez e acabei tendo que escrever tudo novamente porque perdi o primeiro comentário que havia feito.
ResponderExcluirPara a devida compreensão do “Sermão da Sexagésima” é necessário ter em conta a sua relação com o evangelho referente à liturgia do dia (no caso a de Lucas 8, 11) uma vez que o sermão sempre estabelece uma relação de intertextualidade. Segundo Vieira, Deus sempre concorre com as condições necessárias para que a semente gere frutos. Com fins de demonstração o padre português toma como referência o próprio evangelho ao afirmar que em nenhum momento da palavra divina obervamos qualquer referência a manifestações provenientes de Deus que pudessem afetar o desenvolvimento da semente. Dos três elementos indispensáveis no pregar (semar) – Deus, pregador e ouvinte – é Deus aquele que se encontra livre da “culpa”. Metalinguístico por excelência, o sermão se detém na análise daquilo que é inerente ao pregador e diz respeito à sua capacidade de articulação: a pessoa, a ciência, a matéria, a voz e o estilo. Com relação ao estilo é importante observar a crítica que o padre Antonio Vieira faz a duas características típicas do discurso do sem tempo, a saber, o uso exagerado de antíteses e o hermetismo dos textos chamados “cultos” que, para Vieira, são obscuros. Contra esse cultismo Vieira propõe que, para que o sermão seja capaz de gerar frutos, o discurso do pregador precisa ser claro como as estrelas do céu uma vez que Deus não fez o firmamento em “xadrez de estrelas”.
ResponderExcluirEloá de Oliveira Schuler – Número USP: 6469140